sábado, 31 de março de 2012

Um tanto mais

Você guarda a impressão de haver esgotado o estoque de todos os seus recursos, em determinada tarefa de amor, mas se você perseverar um tanto mais no devotamento, ninguém pode prever os louros de luz que brilharão em seu passo.
Você está doente e pretende obter licenças de longo prazo, mas se você continuar um tanto mais em serviço, ninguém pode prever o tesouro de forças novas que lhe aparecerá no caminho.
Você encontrou imensas dificuldades no exercício das boas obras e anseia fugir delas, mas se você persistir um tanto mais na construção da beneficência, ninguém pode prever o triunfo que as suas horas recolherão, nas fontes vivas da caridade.
Você acredita que não pode tolerar o amigo importuno, o filho teimoso, o irmão inconsciente, a esposa inconstante ou o marido insensato, mas se você suportar um tanto mais a luta em família, ninguém pode prever a extensão do júbilo porvindouro em seu ninho doméstico.
Você supõe que o azar é o seu clima e chora na bica do desespero, mas se você cultivar um tanto mais de fidelidade às próprias obrigações, ninguém pode prever a amplitude do seu êxito, no amanhã que vem perto.
Você experimenta enorme cansaço e não quer dar ouvidos ao companheiro de longa conversa, mas se você esticar um tanto mais o seu sacrifício, ninguém pode prever os prodígios da colheita de bênçãos que surgirão dos seus breves minutos de gentileza.
Observe que você mesmo para realizar isso ou aquilo, exige incessantemente dos semelhantes um tanto mais de bondade, um tanto mais de cooperação, um tanto mais de tempo, um tanto mais de carinho...
O gênio é a paciência que não se acaba.
É justo que você deseje um tanto mais de felicidade, mas para isso, é necessário que você ajude um tanto mais a felicidade dos outros.
Repare você as lições da vida e compreenderá que a vitória no bem é sempre trabalhar conforme o dever e servir... um tanto mais.
O mestre da antiguidade, Confúcio, elaborando ideias a respeito da perseverança, afirma:
Se há pessoas que não estudam ou que, se estudam, não aproveitam, elas que não se desencorajem e não desistam.
Se há pessoas que não interrogam os homens instruídos para esclarecer as suas dúvidas ou o que ignoram, ou que, mesmo interrogando-os, não conseguem ficar mais instruídas, elas que não se desencorajem e não desistam.
Se há pessoas que não meditam ou que, mesmo que meditem, não conseguem adquirir um conhecimento claro do princípio do bem, elas que não se desencorajem e não desistam.
Se há pessoas que não distinguem o bem do mal ou que, mesmo que distingam, não têm uma percepção clara e nítida, elas que não se desencorajem e não desistam.
Se há pessoas que não praticam o bem ou que, mesmo que o pratiquem, não podem aplicar nisso todas as suas forças, elas que não se desencorajem e não desistam.
O que outros fariam numa só vez, elas o farão em dez. O que outros fariam em cem vezes, elas o farão em mil, porque aquele que seguir verdadeiramente esta regra da perseverança, por mais ignorante que seja, tornar-se-á uma pessoa esclarecida; por mais fraco que seja, tornar-se-á necessariamente forte.

Redação do Momento Espírita com
 
André Luiz, Francisco Cândido Xavier

quarta-feira, 28 de março de 2012

Evolução e livre arbítrio

Porque há dores necessárias no erguimento da vida, há quem se acolha à faixa da negação.
Ainda agora, muitos cientistas e religiosos, encastelados em absurdos afirmativos, parecem interessados em se anteporem ao próprio Deus.
Gigantes do raciocínio constroem máquinas com que investem o espaço cósmico, em arrojados desafios, para dizerem que a vida é a matéria suposta onipotente, enquanto que milhares de pregoeiros da fé levantam cadeias teológicas, tentando aprisionar a mente humana ao poste do fanatismo.
Na área de semelhantes conflitos, padece o homem o impacto de crises morais incessantes.
Não te emaranhes, porém, no labirinto.
O mundo está criado, mas não terminado.
De ponta a ponta da Terra, vibra, candente, a forja da evolução. Problemas solucionados abrem campo a novos problemas. Horizontes abertos descerram horizontes mais amplos. E, na arena da imensa luta, o espírito é a obra-prima do Universo, em árduo burilamento.
O Criador não vive fora da Criação.
A criatura humana, contudo, ainda infinitamente distante da Luz Total, pode ser comparada ao aprendiz limitado aos exercícios da escola.
Cada civilização é precioso curso de experiências e cada individualidade, segundo a justiça, deve estruturar a sua própria grandeza.
Examinando o livre-arbítrio que a Divina Lei nos faculta, consideremos que nós mesmos, imperfeitos quais somos, não furtamos, impunemente, uns dos outros, a liberdade de conhecer e realizar.
Pais responsáveis, não trancafiamos os filhos em urnas de afeto exclusivo, com a desculpa de amor.
Professores honestos, não tornamos o lugar do discípulo, ofertando-lhe privilégios, a título de ternura.
Médicos idôneos, não exoneramos o enfermo dos arriscados processos da cirurgia, a pretexto de compaixão.
Recebe, pois, o quadro das provações aflitivas em que te encontras, como sendo o maior ensejo de crescimento e de elevação que a Bondade Infinita, por agora, te pode dar.
Não te importe o materialismo a dementar-se no próprio caos.
Sabes que o homem não é planta sem raiz, nem barco à matroca.
Os que negam a Causa das Causas, reajustam, para lá do sepulcro, visão e entendimento, emotividade e conceito.
Enquanto observas, no caminho, perturbação e sofrimento, à guisa de poeira e sucata em prodigiosa oficina, tranquiliza-te e espera, porquanto, aprendendo e servindo, sentirás em ti mesmo a presença do Pai.
 
(Do livro "Justiça Divina", por  Emmanuel e Francisco Cândido Xavier)


segunda-feira, 26 de março de 2012

Cuidando do corpo

Deepak Chopra é médico formado na Índia, com especialização em Endocrinologia nos Estados Unidos, onde está radicado desde a década de setenta.
Filósofo de reputação internacional, já escreveu mais de três dezenas de livros, sendo um dos mais respeitados pensadores da atualidade.
A respeito do ser humano saudável, ele escreveu: Somos as únicas criaturas na face da Terra capazes de mudar nossa biologia pelo que pensamos e sentimos!
Nossas células estão constantemente bisbilhotando nossos pensamentos e sendo modificadas por eles.
Um surto de depressão pode arrasar nosso sistema imunológico.
Apaixonar-se, ao contrário, pode fortificá-lo tremendamente.
A alegria e a realização nos mantêm saudáveis e prolongam a vida.
A recordação de uma situação estressante, que não passa de um fio de pensamento, libera o mesmo fluxo de hormônios destrutivos que o estresse.
Nossas células estão constantemente processando as experiências e metabolizando-as, de acordo com nossos pontos de vista pessoais.
Quando nos deprimimos por causa da perda de um emprego, projetamos tristeza por toda parte no corpo. A produção de neurotransmissores, por parte do cérebro, se reduz. Baixa o nível de hormônios. O ciclo de sono é interrompido.
As plaquetas sanguíneas ficam mais viscosas e mais propensas a formar grumos. Os receptores neuropeptídicos, na superfície externa das células da pele, se tornam distorcidos.
E, até nossas lágrimas passam a conter traços químicos diferentes das lágrimas de alegria.
Contudo, nosso perfil bioquímico é alterado, quando nos encontramos em nova posição.
A ansiedade por causa de um exame acaba passando, assim como a depressão por causa de um emprego perdido.
Assim, se desejamos saber como está nosso corpo hoje, basta que nos recordemos do que pensamos ontem.
Se desejamos saber como estará nosso corpo amanhã, será suficiente que examinemos nossos pensamentos hoje.
Abrir nosso coração para a  alegria, às coisas positivas é medida salutar. Se desejamos gozar de saúde física, principiemos a mudar nossa maneira de pensar.
Não foi por outro motivo que o Celeste Médico das nossas almas, conhecedor profundo de todas as leis que regem nosso planeta, foi pródigo em exortações como:
Não vos inquieteis, dizendo: "Que comeremos" ou "Que beberemos", ou "Que vestiremos"?
Pois estas coisas os gentios buscam. De fato, vosso Pai Celestial sabe que necessitais de todas estas coisas.
Portanto, não vos inquieteis com o amanhã, pois o amanhã se inquietará consigo mesmo! Basta a cada dia o seu mal. Com isso, recomendava que não nos deixássemos abraçar pela ansiedade.
E mais: Andai como filhos da luz.
Ora, os filhos da luz iluminam, vibram positivamente, porque luz tem a ver com tudo de bom.
Pensemos nisso e cultivemos saúde física. Afinal, necessitamos de um corpo saudável para bem atender os compromissos que nos cabem.
Que se diria de quem não cuidasse de seu instrumento de trabalho?
 Redação do Momento Espírita,

segunda-feira, 19 de março de 2012

Precisa-se

De pessoas que tenham os pés na terra e a cabeça nas estrelas.
Capazes de sonhar, sem medo dos sonhos.
Tão idealistas que transformem seus sonhos em metas.
Pessoas tão práticas que sejam capazes de transformar suas metas em realidade.
Pessoas determinadas que nunca abram mão de construir seus destinos e arquitetar suas vidas.
Que não temam mudanças e saibam tirar proveito delas.
Que tornem seu trabalho objeto de prazer e uma porção substancial de realização pessoal.
Que percebam, na visão e na missão de suas vidas profissionais, de suas dedicações humanistas em prol da humanidade, um forte impulso para sua própria motivação.
Pessoas com dignidade, que se conduzam com coerência em seus discursos, seus atos, suas crenças e seus valores.
Precisa-se de pessoas que questionem, não pela simples contestação, mas pela necessidade íntima de só aplicar as melhores ideias.
Pessoas que mostrem sua face de parceiros legais. Sem se mostrarem superiores nem inferiores. Mas... iguais.
Precisa-se de pessoas ávidas por aprender e que se orgulhem de absorver o novo.
Pessoas de coragem para abrir caminhos, enfrentar desafios, criar soluções, correr riscos calculados. Sem medo de errar.
Precisa-se de pessoas que construam suas equipes e se integrem nelas.
Que não tomem para si o poder, mas saibam compartilhá-lo.
Pessoas que não se empolguem com seu próprio brilho. Mas com o brilho do resultado alcançado em conjunto.
Precisa-se de pessoas que enxerguem as árvores. Mas também prestem atenção na magia das florestas.
Que tenham percepção do todo e da parte.
Seres humanos justos, que inspirem confiança e demonstrem confiança nos parceiros.
Estimulando-os, energizando-os, sem receio que lhe façam sombra, mas sim se orgulhando deles.
Precisa-se de pessoas que criem em torno de si um ambiente de entusiasmo
De liberdade, de responsabilidade, de determinação, de respeito e de amizade.
Precisa-se de seres racionais. Tão racionais que compreendam que sua realização pessoal está atrelada à vazão de suas emoções. É na emoção que encontramos a razão de viver.
Precisa-se de gente que saiba administrar COISAS e liderar PESSOAS.
Precisa-se urgentemente de um novo ser.
Isaac Libermann

Lucro

No Evangelho, há uma interessante passagem conhecida como A parábola do rico insensato.
Trata-se de um homem que havia trabalhado muito para ajuntar bens.
Quando finalmente se deu por satisfeito, propôs-se a gozar de sua fortuna.
Contudo, o Senhor da vida deliberou nessa mesma noite promover o regresso do rico ao plano espiritual.
Daí se colocou a questão: Para quem seria tudo o que ele tinha ajuntado?
Essa lição não poderia ser mais atual.
Em todos os agrupamentos humanos, palpita a preocupação de ganhar.
O espírito de lucro alcança os setores mais singelos.
Meninos, mal saídos da primeira infância, mostram-se interessados em amontoar egoisticamente alguma coisa.
Mães numerosas abandonam seu lar a desconhecidos, a fim de experimentarem a mina lucrativa.
Pais deixam de dar atenção a sua família, enquanto multiplicam ao extremo as horas de trabalho.
Nesse sentido, a maioria das criaturas converte a marcha evolutiva em corrida inquietante.
No entanto, por trás do sepulcro, ponto de chegada de todos os que saíram do berço, a verdade aguarda o homem e interroga: O que você trouxe?
O infeliz tende a responder que reuniu vantagens materiais.
Diz que se esforçou para assegurar a posição tranquila de si mesmo e dos seus.
Examinada, porém, a sua bagagem, quase sempre as pretensas vitórias são derrotas fragorosas.
Elas não constituem valores da alma, nem trazem o selo dos bens eternos.
Atingida semelhante equação, o viajor olha para trás e sente frio.
Prende-se, de maneira inexplicável, aos resultados de tudo o que amontoou na crosta da Terra.
A sua consciência se enche de sombrias nuvens.
E a voz do Evangelho lhe soa aos ouvidos: Pobre de você, porque seus lucros foram perdas desastrosas.
E o que tem ajuntado, para quem será?
É importante meditar sobre essa lição enquanto se está a caminho.
Os bens do mundo são preciosos enquanto instrumentos de realização da paz.
O trabalho é um meio de vida e não de morte.
A título de enriquecer ou ter mais conforto não compensa esquecer o essencial.
É inútil brindar os filhos com coisas e não se fazer presente em suas vidas, com palavras e exemplos dignos.
As posições tão cobiçadas no mundo sempre terminam por trocar de mãos.
Constitui loucura convertê-las no objetivo da existência.
É preciso viver no mundo, sem ser do mundo.
Fazer os sacrifícios necessários à vida na Terra.
Mas jamais esquecer que se está apenas de passagem por ela, com destino ao infinito.
Pense nisso.
 Emmanuel,
  Francisco Cândido Xavier

domingo, 18 de março de 2012

Em Família

A família consanguínea é lavoura de luz da alma, dentro da qual triunfam somente aqueles que se revestem de paciência, renúncia e boa vontade.
De quando a quando, o amor nos congrega, em pleno campo da vida, regenerando-nos a sementeira do destino.
Geralmente, não se reúnem a nós os companheiros que já demandaram a esfera superior dignamente aureolados por vencedores, e sim afeiçoados menos estimáveis de outras épocas, para restaurarmos o tecido da fraternidade, indispensável ao agasalho de nossa alma, na jornada para os cimos da vida.
Muitas vezes, na condição de pais e filhos, cônjuges ou parentes, não passamos de devedores em resgate de antigos compromissos.
Se és pai, não abandones teu filho aos processos da natureza animal, qual se fora menos digno de atenção que a hortaliça de tua casa. A criança é um “trato de terra espiritual” que devolverá o que aprende, invariavelmente, de acordo com a sementeira recebida.
Se és filho, não desprezes teus pais, relegando-os ao esquecimento e subestimando-lhes os corações, como se estivessem em desacordo com os teus ideais de elevação e nobreza, porque também, um dia precisarás da alheia compreensão para que se te aperfeiçoe na individualidade a região presentemente menos burilada e menos atendida. A criatura no acaso da existência é o espelho do teu próprio futuro na Terra.
Aprende a usar a bondade, em doses intensivas, ajustando-a ao entendimento e à vigilância para que a tua experiência em família não desapareça no tempo, sem proveito para o caminho a trilhar.
Quem não auxilia a alguns, não se acha habilitado ao socorro de muitos.
Quem não tolera o pequeno desgosto doméstico, sabendo sacrificar-se com espontaneidade e alegria, a benefício do companheiro de tarefa ou de lar, debalde se erguerá por salvador de criaturas e situações que ele mesmo desconhece.
Cultiva o trabalho constante, o silêncio oportuno, a generosidade sadia e conquistarás o respeito dos outros, sem o qual ninguém consegue ausentar-se do mundo em paz consigo mesmo.
Se não praticas no grupo familiar ou no esforço isolado a comunhão com Jesus, não te demores a buscar-lhe a vizinhança, a inspiração e a diretriz.
Não percas o tesouro das horas em reclamações improfícuas ou destrutivas.
Procura entender e auxiliar a todos em casa, para que todos em casa te entendam e auxiliem na luta cotidiana, tanto quanto lhes seja possível.
O lar é o porto de onde a alma se retira para o mar alto do mundo, e quem não transporta no coração o lastro da experiência dificilmente escapará ao naufrágio parcial ou total.
Procura a paz com os outros ou a sós.
Recorda que todo dia é dia de começar.
Emmanuel :Chico Xavier

sábado, 17 de março de 2012

Uma Vunerável instituição

Parecerá estranho que os Espíritos desencarnados voltam à Terra para visitar as instituições humanas, velando pelo mecanismo dos seus trabalhos e agindo, indiretamente, nas suas deliberações.
A verdade, porém, é que isso constitui um acontecimento natural. Se os vivos continuam os trabalhos daqueles que os antecederam na jornada da morte, as almas do mundo invisível, nos planos em que me encontro, têm de voltar, em sua maioria, às lutas terrestres. Todas as edificações de uma época têm as suas bases profundas nas épocas que a precederam. Nenhum homem pode criar, por si só, alguma coisa e sim desenvolver os princípios encontrados, aproveitando o material disperso para continuar a obra evolutiva, imprimindo-lhe a expressão do seu pensamento pessoal. Mesmo o inventor e o artista, com as largas reservas de possibilidade e paciência que os séculos de experiências acumularam nos escaninhos de suas personalidades, estão englobados nessa classificação. É que o progresso é uma obra coletiva. Cada criatura deixa uma nota na sua admirável sinfonia. As eras se interpenetram umas às outras, tal como se confundem, no oceano largo do tempo, os vivos e os mortos. A vida é o resultado das trocas incessantes e o insulamento é a única morte no concerto universal.
É considerando essas verdades que me tenho dedicado a conhecer, dentro das minhas possibilidades, as instituições dos homens, voltando para falar delas com a minha linguagem característica, evitando o terreno do transcendentalismo, para fornecer, espontaneamente, a minha carteira de identificação.
Nas proximidades do edifício do Tesouro Nacional, na Avenida Passos, ergue-se a Federação Espírita Brasileira, guardando, na cidade maravilhosa, as grandes tradições da caridade e da esperança, filhas do coração de Ismael, cujo pensamento inspira as atividades do Evangelho nas terras de Santa Cruz.
Já tive ocasião de manifestar o meu respeito por essa instituição venerável, cujas portas se abrem generosas para os famintos do pão espiritual e para os necessitados do corpo, ao lado do formigueiro humano, onde se agitam cerca de dois milhões de pessoas. Conhecendo-lhe, embora, a finalidade evangélica, em cuja base imortal repousam os seus labores associativos, no objetivo de emprestar a minha colaboração humilde ao desdobramento dos seus programas, procurei alcançar numa visão de detalhe a sua obra edificadora.
A visita de um desencarnado não se verifica conforme as praxes sociais que presidem, no mundo dos homens de carne, a um ato dessa natureza; mas, no pórtico da Casa de Ismael encontrei o mesmo Pedro Richard, que me levou a observar as intimidades do seu santuário.
Visitei, uma a uma, as suas dependências.
Nas escadarias e nos gabinetes amplos, não somente se reúnem os médiuns abnegados e os sofredores que aí os procuram diariamente; verdadeiras legiões de seres invisíveis, que os vivos considerariam como fileiras de sombras, deslizam pelas salas e pelos corredores, revezando-se no sagrado mister da caridade, fornecendo o que podem, no labor piedoso e cristão.
A presença dos enfermeiros invisíveis enche a atmosfera da casa de fluidos suaves e balsâmicos. É, talvez, por esse motivo que alguns amigos meus procuravam descansar na Federação, quando passávamos nas vizinhanças da antiga rua do Sacramento, cansados dos rumores urbanos e das longas distâncias, acreditando alcançar ai um bando regenerador de suas energias psíquicas.
- Aqui – explicava Pedro Richard -, nos reunimos todos nós, os que amamos as claridades do Evangelho, ansiosos de repartir as esperanças da Boa Nova. Há lugar, nesta casa, para todos os trabalhadores, e basta querer para que cada um seja incorporado à caravana que nunca se dissolve. À maneira daqueles coxos e estropiados, a que se referia Jesus no seu ensinamento, vivemos pela misericórdia do Senhor, que não nos desampara com a sua bondade infinita. O banquete de Ismael está aqui sempre posto e, das alturas divinas, caem sobre o seu templo humano as flores da esperança, da piedade e do perdão, transformadas em bênçãos de Deus, repartidas, como a luz do Sol, com todos os corações. Aproveitamos, nos estudos da doutrina, aquela parte que representava a predileção de Maria, em contraposição com os trabalhos apressados e inquietos de Marta, segundo a observação do Divino Mestre, e pugnamos pelo esforço da reforma interior de cada um, reconhecendo que somente na assimilação dos princípios morais da doutrina, em sua feição de Cristianismo restaurado, poderemos atingir a finalidade de nossas preocupações.
- Mas – perguntei admirado – a instituição desprezará, porventura, as expressões cientificas do Espiritismo?
-“De modo algum – respondeu-me solícito -, seus aspectos fenomênicos merecem da Federação todo o zelo possível, mas essas expressões da ciência representam os meios e não o fim, constituindo, desse modo, corolários das expressões morais do ensinamento dos Espíritos, chegando-se à ilação de que nada se terá feito sem a edificação das consciências, à luz dos seus princípios. Haja vista o que aconteceu na Europa, bafejada por tantos fenômenos extraordinários. Com algumas exceções, os sábios que ali se ocuparam do assunto, possuídos do mais avançado personalismo, definiram os fatos mediúnicos dentro de suas vaidades pessoais, complicando o estudo da doutrina com o sabor cientifico de suas palavras, desconhecendo a profunda simplicidade dos ensinamentos revelados.”
- É com essa expressão religiosa e regeneradora que o Espiritismo conta esclarecer os problemas do campo social? – perguntei ainda.
-“De fato – continuou o meu generoso amigo -, toda a vitória da doutrina tem de começar no coração. Sem o selo da renovação interior, qualquer tentativa de reforma constitui um caminho para novas desilusões. Seria, pois, inútil organizarmos grandes movimentos para uma salvação imediata, se o espírito geral se encontra nas sombras. Onde se terá visto uma colheita sem o trabalho da semeadura? A missão dos espíritas não representa, portanto, uma tarefa artificiosa e nem lhes compete disseminar os laboratórios de ilusões. Suas responsabilidades são muito grandes no campo da educação evangélica das massas e no plano da caridade pura, assistindo os sofredores e os desesperados. Esse campo de trabalho moral é o imenso reservatório das forças indestrutíveis da Nova Revelação, e a beleza dos seus aspectos tem seduzido muitas mentalidades de elite, do mundo inteiro. Mesmo a esta Casa têm aportado muitos espíritos brilhantes, vindos da Política e da Ciência, considerando que o Espiritismo, verdadeiramente interpretado, é a síntese maravilhosa que abrange todas as atividades humanas, no sentido de aperfeiçoá-las para o bem comum.”
- Mas – ponderei -, não seria aconselhável movimentarem-se os elementos da doutrina, projetando-se as expressões de seus valores no mundo das realizações?
- “Não reprovamos quantos se entregam, desde já, aos trabalhos dessa natureza, reconhecendo que o Espiritismo é um campo imenso onde cada qual tem a sua tarefa a desempenhar, e onde o exclusivismo pecará sempre pela inoportunidade; mas, julgamos prudente criar-se a mentalidade evangélica antes das obras espíritas, a fim de que elas não se percam nos labirintos do mundo e para que sejam devidamente cultivadas pelos verdadeiros discípulos do único Mestre, que é Jesus-Cristo”.
As palavras esclarecedoras de Richard calaram-me no espírito.
Compreendi que, de fato, nunca, como agora, a sociedade humana precisou tanto de recorrer ao auxilio sobrenatural do mundo invisível para reorganizar as suas energias, a fim de manter a sua própria estabilidade moral.
Em companhia do mesmo amigo, voltei para o saguão de entrada do edifício, onde se reunia a legião de aflitos e de consolados.
Era noitinha. A Avenida Passos regurgitava de automóveis de luxo, plena de luz e de movimento. E enquanto os sujeitos felizes procuravam, no coração enorme da cidade, as casas alegres da noite, uma grande multidão de pessoas, ricas e pobres, subia com humildade as escadas do grande edifício, para se curvarem sobre o Evangelho, procurando aí a lição divina e o socorro espiritual. E antes que me confundisse, de novo, com as coisas da minha nova vida, lembrei-me das primitivas assembléias cristãs, onde se misturavam todas as posições sociais no exemplo de fraternidade apostólica, no recanto humilde das catacumbas romanas.
Pedro Richard estava com a razão.
É verdade que Nero não está hoje no poder, mas os circos dos suplícios foram substituídos, prevalecendo a mesma perversidade entre os homens, envenenando-lhes o coração. Aos funestos efeitos de uma nova aliança com Constantino, é preferível, portanto, esclarecer e iluminar o coração de Constantino.



pelo Espírito Humberto de Campos - Do livro: Crônicas do Além Túmulo, Médium: Francisco Cândido Xavier

quinta-feira, 15 de março de 2012

Este dia

"Este dia é o seu melhor tempo, o instante de agora.
Se você guarda inclinação para a tristeza, este é o ensejo de meditar na alegria da vida e de aceitar-lhe a mensagem de renovação permanente.
Se a doença permanece em sua companhia, surgiu a ocasião de tratar-se com segurança.
Se você errou, está no passo de acesso ao reajuste.
Se esse ou aquele plano de trabalho está incubado em seu pensamento, agoraé o momento de começar a realizá-lo.
Se deseja fazer alguma boa ação, apareceu o instante de promovê-la.
Se alguém aguarda as suas desculpas por faltas cometidas, terá soado a hora em que você pode esquecer qualquer ocorrência infeliz e sorrir novamente.
Se alguma visita ou manifestação afetiva esperam por você chegou o tempo de atendê-las.
Se precisa estudar determinada lição, encontrou você a oportunidade de fazer isso.
Este dia é um presente de Deus, em nosso auxílio; de nós depende aquilo que venhamos a fazer com ele.

"Respostas da Vida", Chico Xavier (André Luiz)

Problemas Pessoais

A fé viva não é patrimônio transferível. É conquista pessoal.
A felicidade legítima não é mercadoria que se empresta. É realização íntima.
A graça do Céu não desce a esmo. Tem que ser merecida.
A melhor caridade não é a que se faz por substitutos. Cabe-nos
executá-la por nós mesmos.
A fortaleza moral não é produto de rogos alheios. Provém do nosso esforço na resistência para o bem.
A esperança fiel não se nos fixa no coração através de simples contágio. É fruto de compreensão mais alta.
O verdadeiro amor não nasce das sombras do desejo. É fonte cristalina e inexaurível do espírito eterno.
O conhecimento real não é construção de alguns dias. É obra do tempo.
O paraíso jamais será adquirido pela sagacidade da compra. É atingível pela nossa boa-vontade em fugir ao purgatório ou ao inferno da própria consciência.
A proteção da Esfera Superior é inegável para todos nós que ainda nos movimentamos na sombra. Ai de nós, todavia, se não procurarmos as bênçãos da luz!...
 Chico Xavier (André Luiz)

terça-feira, 13 de março de 2012

A Lenda da Caridade

Diz interessante lenda do Plano Espiritual que, a princípio, no mundo se espalham milhares de grupos humanos, nas extensas povoações da Terra.
O Senhor endereçava incessantes mensagens de paz e bondade às criaturas, entretanto, a maioria se desgarrou no egoísmo e no orgulho.
A crueldade agravava-se, o ódio explodia...
Diligenciando solução ao problema, o Celeste Amigo chamou o Anjo Justiça que entrou, em campo e, de imediato, inventou o sofrimento.
Os culpados passaram a resgatar, os próprios delitos, a preço de enormes padecimentos.
O Senhor aprovou os métodos da Justiça que reconheceu indispensáveis ao equilíbrio da Lei, no entanto, desejava encontrar um caminho menos espinhoso para a transformação dos espíritos sediados na Terra, já que a dor deixava comumente um rescaldo de angústia a gerar novos e pesados conflitos.
O Divino Companheiro solicitou concurso ao Anjo Verdade que estabeleceu, para logo, os princípios da advertência.
Tribunas foram erguidas, por toda parte, e os estudiosos do relacionamento humano começaram a pregar sobre os efeitos doma ledo bem, compelindo os ouvintes à aceitação da realidade.
Ainda assim, conquanto a excelência das lições propagadas repontavam dúvidas em torno dos ensinamentos de virtude, suscitando atrasos altamente prejudiciais aos mecanismos da elevação espiritual.
O Senhor apoiou a execução dos planos ideados pelo Anjo da Verdade, observando que as multidões terrestres não deveriam viver ignorando o próprio destino.
No entanto, a compadecer-se dos homens que necessitavam reforma íntima sem saberem disso, solicitou cooperação do Anjo do Amor, à busca de algum recurso que facilitasse a jornada dos seus tutelados para os Cimos da Vida.
O novo emissário criou a caridade e iniciou-se profunda transubstanciação de valores.
Nem todas as criaturas lhe admitiam o convite e permaneciam, na retaguarda, matriculados nas tarefas da Justiça e da Verdade, das quais hauriam a mudança benemérita, em mais longo prazo, mas todas aquelas criaturas que lhe atenderam as petições, passaram a ver e auxiliar doentes p obsessos, paralíticos e mutilados, cegos e infelizes, os largados à rua e os sem ninguém.
O contato recíproco gerou precioso câmbio espiritual.
Quantos conduziam alimento e agasalho, carinho e remédio para os companheiros infortunados recebiam deles, em troca, os dons da paciência e da compreensão, da tolerância e da humildade e, sem maiores obstáculos, descobriram a estrada para a convivência com os Céus.

O Senhor louvou a caridade, nela reconhecendo o mais importante processo de orientação e sublimação, a benefício de quantos usufruem a escola da Terra.
Desde então, funcionam, no mundo, o sofrimento, podando as arestas dos companheiros revoltados: a doutrinação informando aos espíritos indecisos quanto às melhores sendas de ascensão às Bênçãos Divinas; e a caridade iluminando a quantos consagram ao amor pelos semelhantes, redimindo sentimentos e elevando almas, porque, acima de todas as forças que renovam os rumos da criatura, nos caminhos, humanos, a caridade é a mais vigorosa, perante Deus, porque é a única que atravessa as barreiras da inteligência e alcança os domínios do coração.

  Meimei - Do livro: Seara de Fé: Francisco Cândido Xavier.

sábado, 10 de março de 2012

Pense Nisso

Era uma vez um riacho de águas cristalinas, muito bonito,
que serpenteava entre as montanhas.
Em certo ponto de seu percurso, notou que à sua frente havia
um pântano imundo, por onde deveria passar.
Olhou, então, para Deus e protestou:
- Senhor, que castigo!
Eu sou um riacho tão límpido, tão formoso, e o Senhor me obriga
a atravessar um pântano sujo como esse! Como faço agora?
Deus respondeu:
- Isso depende da sua maneira de encarar o pântano.
Se ficar com medo, você vai diminuir o ritmo de seu curso,
dará voltas e, inevitavelmente, acabará misturando suas águas
com as do pântano, o que o tornará igual a ele.
Mas, se você o enfrentar com velocidade, com força, com decisão,
suas águas se espalharão sobre ele, a umidade as transformará
em gotas que formarão nuvens, e o vento levará
essas nuvens em direção ao oceano.
Aí você se transformará em mar.
Assim é a vida.
As pessoas engatinham nas mudanças.
Quando ficam assustadas, paralisadas, pesadas, tornam-se tensas
e perdem a fluidez e a força.
É preciso entrar pra valer nos projetos da vida,
até que o rio se transforme em mar.
Se uma pessoa passar a vida toda evitando sofrimento,
também acabará evitando o prazer que a vida oferece.
Há milhares de tesouros guardados em lugares
onde precisamos ir para descobri-los.
Não procure o sofrimento.
Mas, se ele fizer parte da conquista, enfrente-o e supere-o.
Arrisque, ouse, avance na vida.
Ela é uma aventura gratificante para quem tem coragem de arriscar. 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulher

Deus
Em sua sabedoria
Criou a mulher
Para as lutas de todo o dia
Vencendo a tudo com serenidade
Sendo feliz
Em qualquer idade
Com muito ânimo e disposição
Sem se pertubar
Em sua provação
Disposta a tudo perdoar
Sem guardar mágoa
Do que vierem a lhe prejudicar
Com muito amor no coração
Pra distribuir, com amigos, familia
E todos os irmãos.

Dothy Medeiros

segunda-feira, 5 de março de 2012

Lesões Afetivas

        Um tipo de conselho raramente lembrado: o respeito que devemos uns aos outros na vida particular.
        Caro é o preço que pagamos pelas lesões afetivas que provocamos nos outros.
        Nas ocorrências da Terra de hoje, quando se escreve e se fala tanto, em torno de amor livre e de sexo liberado, muitos poucos são os companheiros encarnados que meditam nas consequências amargas dos votos não cumpridos.
        Se habitas um corpo masculino, conforme as tarefas que te foram assinaladas, se encontraste essa ou aquela irmã que se te afinou com o modo de ser, não lhe desarticules os sentimentos, a pretexto de amá-la, se não estás em condição de cumprir a própria palavra, no que tange a promessas de amor. E se moras presentemente num corpo feminino, para o desempenho de atividades determinadas, se surpreendeste esse ou aquele irmão que se harmonizou com as tuas preferências, não lhe perturbes a sensibilidade sob a desculpa de desejar-lhe a proteção, caso não estejas na posição de quem desfruta a possibilidade de honorificar os próprios compromissos.
        Não comeces um romance de carinho a dois, quando não possas e nem queiras manter-lhe a continuidade.
        O amor, sem dúvida, é lei da vida, mas não nos será lícito esquecer os suicídios e homocídios, os abortos e crimes na sombra, as retaliações e as injúrias que dilapidam ou arrasam a existência das vítimas, espoliadas do afeto que Ihes nutria as forças, cujas lágrimas e aflições clamam, perante a Divina Justiça, porque ninguém no mundo pode medir a resistência de um coração quando abandonado por outro e nem sabe a qualidade das reações que virão daqueles que enlouquecem, na dor da afeição incompreendida, quando isso acontece por nossa causa.
        Certamente que muitos desses delitos não estão catalogados nos estatutos da sociedade humana; entretanto, não passam despercebidos nas Leis de Deus que nos exigem, quando na condição de responsáveis, o resgate justo.
        Tangendo este assunto, lembramo-nos automaticamente de Jesus, perante a multidão e a mulher sofredora, quanto afirmou, peremptório: "aquele que estiver isento de culpa, atire a primeira pedra".
        Todos nós, os espíritos vinculados à evolução da Terra, estamos altamente compromissados em matéria de amor e sexo, e, em matéria de amor e sexo irresponsáveis, não podemos estranhar os estudos respeitáveis nesse sentido, porque, um dia, todos seremos chamados a examinar semelhantes realidades, especialmente as que se relacionem connosco, que podem efectivamente ser muito amargas, mas que devem ser ditas.
Livro: Momentos de Ouro
Emmanuel & Francisco Cândido Xavier

quinta-feira, 1 de março de 2012

A Meada

- A conversação entre as duas jovens senhoras se desenvolvia no ônibus.
- Você não pode imaginar o meu amor por ele...
- Não posso concordar com você.
- Decerto que não me entende.
- Mas, Dulce, você chega a querer o Dionísio, tanto quanto ao marido?
- Não tanto, mas não consigo passar sem os dois.
- Meu Deus! Isso é coisa de casal sem filhos!...
- É possível...
- Você não acha isso estranho, inadmissível?
- Acho natural.
- Noto você demasiadamente apegada, não é justo...
- Sei que você não me compreende...
- Simplesmente não concordo.
- Mas Dionísio...
- Isso é uma psicose...
Dona Dulce e a amiga, no entanto, ignoravam que Dona Lequinha, vizinha de ambas, sentara-se perto e estava de ouvido atento, sem perder palavra.
De parada em parada. Cada uma volveu ao lar suburbano, mas Dona Lequinha, ao chegar em casa, começou a fantasiar... Bem que notara Dona Dulce acompanhada por um moço ao tomar o elétrico, aliás, pessoa de cativante presença. Recordava-lhe as palavras derradeiras: “vá tranqüila, amanhã telefonarei...”
Cabeça quente, vasculhando novidades no ar, aguardou o esposo, colega de serviço do marido de Dona Dulce, e tão logo à mesa, a sós com ele para o jantar, surgiu novo diálogo:
- Você não imagina o que vi hoje...
- Diga, mulher...
- Dona Dulce, calcule você!... Dona Dulce, que sempre nos pareceu uma santa, está de aventuras...
- O quê?!...
- Vi com meus olhos... Um rapazão a seguia mostrando gestos de apaixonado e, por fim, no ônibus, ela própria se confessou a Dona Cecília... Chegou a dizer que não consegue viver sem o marido e sem o outro... Uma calamidade!...
- Ah! mas isso não fica assim, não! Júlio é meu colega e Júlio vai saber!...
A conversa transitou através de comentários escusos e, no dia imediato, pela manhã, na oficina, o amigo ouve do amigo o desabafo em tom sigiloso:
- Júlio, você me entende... somos companheiros e não posso enganá-lo... O que vou dizer representa um sacrifício para mim, mas falo para seu bem... Seu nome é limpo demais para ser desrespeitado, como estou vendo... Não posso ficar calado por mais tempo... Sua mulher...
E o esposo escutou a denúncia, longamente cochichada, qual se lhe enternassem afiada lâmina no peito.
Agradeceu, pálido...
Em seguida, pediu licença ao chefe para ir a casa, alegando um pretexto qualquer. No fundo, porém, ansiava por um entendimento com a esposa, aconselhá-la, saber o que havia de certo.
Deixou o serviço, no rumo do lar e, aí chegando, penetrou a sala, agoniado...
Estacou, de improviso.
A companheira falava, despreocupamente, ao telefone, no quarto de dormir: “Ah! sim!...”, “Não há problema”, “Hoje mesmo”. “Às três horas”... “Meu marido não pode saber...”.
Júlio retrocedeu, à maneira de cão espantado. Sob enorme excitação, tornou à rua. Logo após, notificou na oficina que se achava doente e pretendia medicar-se. Retornou a casa e tentou o almoço, em companhia da mulher que, em vão, procurou fazê-lo sorrir.
Acabrunhado, voltou a perambular pelas vias públicas e, poucos minutos depois das três da tarde, entrou sutilmente no lar... Aflito, mentalmente descontrolado, entreabriu devagarinho a porta do quarto e viu, agora positivamente aterrado, um rapaz em mangas de camisa, a inclinar-se sobre o seu próprio leito. De imaginação envenenada, concebeu a pior interpretação...
O pobre operário recusou em delírio e, à noite, foi encontrado morto num pequeno galpão dos fundos. Enforcara-se em desespero...
Só então, ao choro de Dona Dulce, o mexerico foi destrinçado.
Dionísio era apenas o belo gatinho angorá que a desolada senhora criava com estimação imensa; o moço que a seguira até o ônibus era o veterinário, a cujos cuidados profissionais confiara ela o animal doente; o telefonema era baseado na encomenda que Dona Dulce fizera de um colchão de molas, ao gosto moderno, para uma afetuosa surpresa ao marido, e o rapaz que se achava no aposento íntimo do casal era, nem mais nem menos, o empregado da casa de móveis que viera ajustar o colchão referido ao leito de grandes proporções.
A tragédia, porém, estava consumada e Dona Lequinha, diante do suicida exposto à visitação, comentou, baixinho, para a amiga de lado:
- Que homem precipitado!... Morrer por uma bobagem! A gente fala certas coisas, só por falar!...


Irmão X - Do livro:  Estante da Vida, : Francisco Candido Xavier

Amor que não acaba

Até que ponto vai a capacidade de amar do ser humano? Quanto tempo dura o amor?
Um poeta da música disse, certa vez, que o amor é eterno enquanto dure.
E todos os desiludidos, os traídos e abandonados têm impressões muito próprias a respeito do amor, onde a tônica principal é de que amor eterno não existe.
Contradizendo tudo isso, alguns fatos, que a mídia televisiva ou impressa nos traz, afirmam que o amor verdadeiro é uma sinfonia inigualável.
Foi com esse sentimento que Chris Medina, um rapaz de vinte e sete anos, se apresentou em um programa de talentos, cantando uma música de sua autoria.
Os versos diziam mais ou menos assim:
Onde quer que você esteja, estou perto. Em qualquer lugar que você vá, eu estarei lá.
Toda vez que sussurrar meu nome, você verá como mantenho cada promessa. Que tipo de cara eu seria se fosse embora, quando você mais precisasse de mim?
O que são palavras se você realmente não acredita nelas quando as diz? Se são apenas para os bons momentos, então elas nada são.
Quando há amor, se diz em voz alta e as palavras não vão embora. Elas vivem mesmo quando partimos.
Eu sei que um anjo foi enviado apenas para mim. Sei que devo estar onde estou. E vou permanecer ao seu lado esta noite.
Nunca partiria quando você mais precisa de mim.
Vou manter meu anjo perto para sempre.
Ele não conseguiu vencer todas as etapas do concurso, sendo eliminado, em determinada fase, mas sua história levou às lágrimas os jurados e o público presente.
Porque a sua composição retrata exatamente o seu drama e sua decisão pessoal. É uma verdadeira declaração de amor.
Ele estava noivo e há dois anos pediu em casamento Juliana Ramos. A jovem bela, entusiasta. Formavam um casal primoroso.
Dois meses antes do casamento, no dia dois de outubro de 2009, o carro de Juliana foi atingido por um caminhão. Ela quase não sobreviveu.
Uma grave fratura no crânio desfigurou seu rosto e a transformou em uma mulher com muitas limitações físicas.
Foi-se a beleza, a agilidade, o sorriso fácil, as caminhadas, a dança, a alegria de todas as horas.
Ele permaneceu ao lado dela. Leva-a consigo para onde vá. E faz shows para arrecadar fundos para o tratamento de que ela necessita.
E isso ele externaliza cantando e agindo.
Quando se ama a beleza e ela se vai, o amor acaba. Quando se amam as formas perfeitas, a plástica, as linhas harmônicas do corpo e tudo isso se vai, o amor também se esvai.
Quando se amam aparências e outra realidade se apresenta, o amor acaba.
Quando se ama a transitoriedade, o amor fenece quando as situações se alteram.
Mas, quando se ama a essência, nada diminui o sentimento.
Esse amor é companheiro, solidário, se esmera para que o outro se sinta bem, seja feliz.
A sua é a preocupação de fazer a felicidade do outro.
Amor assim se perpetua no tempo, independente da soma dos anos, da multiplicação das rugas ou da diminuição da agilidade.
É o amor que sabe envelhecer junto e quanto mais passa o tempo, mais se solidifica.
 Redação do Momento Espírita,