sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mudança Interior

Se você não está bem na vida afetiva, se seus relacionamentos dão errado ou você não consegue se relacionar com ninguém que gosta, é hora de olhar para dentro de si e descobrir porque você está causando isso em sua vida. Você irá protestar e dizer que a culpa é das pessoas, dos homens, das mulheres, da sociedade. Contudo, quanto mais colocar fora de si a causa do problema, mais estará fugindo à realidade.
Sua vida afetiva não vai bem por causa de sua baixa estima, da falta deconfiança em si e pelo fato de, lá no íntimo, você não se julgar bom o suficiente para merecer a felicidade amorosa.
Não adianta você frequentar as melhores academias, vestir as melhores roupas ou fazer o melhor corte de cabelo. Essas mudanças, embora sejam válidas, não irão mudar nada em sua vida e você continuará "invisível" aos olhos dos outros. O que vai contar para mudar sua vida é sua mudança interior, é você passar a se ver com outros olhos, passar a se admirar, a gostar de si, a sentir-se belo, bonito, atraente, independente do lado de fora. Você precisa começar a "se achar" se quiser ter sorte no amor. Aliás, isso é válido para todos os setores da vida. Se você tem baixa estima e não gosta de si, não se aprova e vive se criticando e se sentindo inferior, nada na sua vida irá pra frente. Será fracassada no trabalho, no dinheiro, na saúde, nas amizades.
As pessoas costumam antipatizar com aqueles que "se acham". Isso acontece por causa da inveja e do fato de querer ser como elas e não se permitir por vergonha. Costumamos gostar só das pessoas que se fazem de humildes, de pequenas, de inferiores, que estão lá embaixo porque com essas nós nos sentimos pra cima.
Está vendo onde está o erro?
Goste de você, mas o faça de verdade. Muitas pessoas querem chamar atenção, conversam demais, contam vantagens para se sentirem menos inferiores. Essa postura não adianta, pois, por mais que chame a atenção por fora, se por dentro você está um lixo, não vai adiantar.
Como nos ensina Zibia Gasparetto: "para mudar sua vida você não precisa tomar nenhuma atitude externa, basta mudar suas atitudes interiores"

Por Mauricio de Castro-médium e escritor

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Alegria de Viver

Eu vivo muito alegre, muito feliz, tenho sempre muita gente em volta de mim, muita gente na minha vida. É disso que eu gosto.
Essas observações de Chico Xavier, singelas, mas de significado profundo, resumem uma filosofia de vida. Merecem nossa apreciação, em empenho por destrinchar seu conteúdo.
Eu vivo muito alegre, muito feliz…
Como definir se uma pessoa está alegre ou triste?
Pelos olhos, dirá o amável leitor. É verdade. Proclamam os poetas que os olhos são janelas da alma, exprimindo nossos estados de ânimo.
Olhos tristes – alma sofrendo.
Olhos risonhos – alma em festa.
Olhos duros – alma de pedra.
Olhos ternos – alma sensível.
Atrevo-me a considerar, contrariando, talvez, o senso comum, que poucos são capazes de identificar a sinalização dos olhos.
Fica mais fácil se observarmos a moldura – os lábios. Lábios abertos, sorriso franco, falam de alegria, tanto quanto, se apertados, expressão sofrida, sinalizam tristeza.
Algo curioso: o riso tanto pode emoldurar a alegria da alma, refletida nos olhos, quanto pode converter-se em caminho para ela.
Para que você não imagine que o calor esquentou-me os miolos, dificultando o exercício da razão, aqui vai um exemplo: se está aborrecido, diante das agruras que lhe surgiram pelo caminho, coloque-se diante do espelho e sorria para si mesmo, riso aberto, dentes à mostra, ainda que contrariando uma vocação para a amargura.
Grande parte da tristeza que o oprime se dissolverá, como num passe de mágica, principalmente se for capaz de rir não para si, mas rir de si, considerando quão ridícula é a carranca que emoldura nossas contrariedades.
Como todo Espírito superior, Chico sempre ressaltou suas alegrias e amenizou suas tristezas, sorrindo, falando de coisas engraçadas, cultivando bom ânimo.
Quanto à felicidade, é elementar que se trata de um estado de espírito positivo, o clima interior de quem gosta de viver.
Família pobre, dificuldades financeiras, doenças, limitações físicas, tudo isso Chico experimentou. Poderia, como costuma acontecer, adotar uma postura negativa, proclamando-se negligenciado por Deus. Isso jamais aconteceu, porque, como todo Espírito superior, ele sabia separar a adversidade da felicidade.
A adversidade configura, geralmente, uma imposição da existência, neste planeta de provas e expiações onde não há inocentes. Todos temos contas a saldar, envolvendo comprometimentos do passado.
Enfrentam adversidades mesmo Espíritos quitados com a Lei que por aqui transitam para ensinar, não para aprender; para doar, não para resgatar; para semear flores, não para colher espinhos.
Situam-se como o nadador que fatalmente se molhará ao mergulhar no rio para resgatar alguém que não sabe nadar.
Já a felicidade, não está subordinada aos aspectos exteriores da existência. Vincula-se às conquistas da Alma. É possível ser feliz, apesar do sofrimento, tanto quanto há gente infeliz, mesmo quando a Vida atende às suas solicitações. Muito mais do que causa de infelicidade, o sofrimento pode ser a sua consequência. Julgar-se infeliz por sofrer costuma exacerbar os ais existenciais.
***
Para completar, Chico informa porque é feliz:
Tenho sempre muita gente em volta de mim, muita gente na minha vida. É disso que eu gosto.
Não basta sorrir para nós ou de nós, se cultivamos a solidão. Ela é porta aberta para a infelicidade, porquanto somos seres eminentemente sociais, criados para a convivência social.
Mas também não basta ter gente por perto. Há pessoas profundamente solitárias em meio à multidão.
Para nos integrarmos é preciso nos comuniquemos. E a melhor forma de comunicação é o sorriso a iluminar a Alma, quando nos vinculamos ao esforço da fraternidade, à prática do Bem.
Nisso Chico era campeão. Por isso era feliz .

Por Richard Simonetti
Contato: richardsimonetti@uol.com.br

Vigie Seus Pensamentos

Tenha muito cuidado para não alimentar pensamentos negativos.
O pensamento é uma energia viva e atuante que cria um campo vibratório à sua volta. Esse campo, conforme for alimentado, vai atrair para sua vida exatamente aquilo que você pensa.
Se você não acredita nisso faça uma experiência. Escreva tudo que você pensa em um papel, tudo aquilo que você acredita, seus medos, suas preocupações e depois compare aos problemas de sua vida. Você irá se surpreender ao ver que sua vida está sendo uma construção de seus pensamentos.
Quem tem uma vida melhor com mais amor, saúde, paz, espiritualidade, prosperidade e conforto é porque atraiu tudo isso pela força de suas crenças e pensamentos.
Faça um esforço e procure acreditar só no bem. Não se impressione com a maldade, com a violência, com as doenças, com a falta de amor. Pense que com você só acontecerá coisas boas.
Assim como você vai à academia exercitar os músculos, os pensamentos também precisam de exercício no sentido positivo.
Quando vier um pensamento ruim, não lute contra ele nem dialogue tentando justificá-lo. Quanto mais você fizer isso, mais ele fica forte. Simplesmente não aprofunde no pensamento, esqueça-o e procure pensar o oposto.
É um exercício diário, mas se você começar logo, verá rapidamente sua vida mudar. 

Por Maurício de Castro-Escritor mediúnico

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Dias Difíceis

Há dias que parecem não ter sido feitos para ti.

Amontoam-se tantas dificuldades, inúmeras frustrações e incontáveis aborrecimentos, que chegas a pensar que conduzes o globo do mundo sobre os ombros dilacerados.
Desde cedo, ao te ergueres do leito, pela manhã, encontras a indisposição moral do companheiro ou da companheira, que te arremessa todos os espinhos que o mau humor conseguiu acumular ao longo da noite.
Sentes o travo do fel despejado em tua alma, mas crês que tudo se modificará nos momentos seguintes.
Sais à rua, para atender a esse ou àquele compromisso cotidiano, e te defrontas com a agrestia de muitos que manejam veículos nas vias públicas e que os convertem em armas contra os outros; constatas o azedume do funcionário ou do balconista que te atende mal, ou vês o cinismo de negociantes que anseiam por te entregar produtos de má qualidade a preços exorbitantes, supondo-te imbecil. Mesmo assim, admites que, logo, tudo se alterará, melhorando as situações em torno.
Encontras-te com familiares ou pessoas amigas que te derramam sobre a mente todo o quadro dos problemas e tragédias que vivenciam, numa enxurrada de tormentos, perturbando a tua harmonia ainda frágil, embora não te permitam desabafar as tuas angústias, teus dramas ou tuas mágoas represadas na alma.
Em tais circunstâncias, pensas que deves aguardar que essas pessoas se resolvam com a vida até um novo encontro.
São esses os dias em que as palavras que dizes recebem negativa interpretação, o carinho que ofereces é mal visto, tua simpatia parece mero interesse, tuas reservas são vistas como soberba ou má vontade. Se falas, ou se calas, desagradas.
Em dias assim, ainda quando te esforces por entender tudo e a todos, sofres muito e a costumeira tendência, nessas ocasiões, é a da vitimação automática, quando se passa a desenvolver sentimentos de autopiedade.
No entanto, esses dias infelizes pedem-nos vigilância e prece fervorosa, para que não nos percamos nesses cipoais de pensamentos, de sentimentos e de atitudes perturbadores.
São dias de avaliação, de testes impostos pelas regentes leis da vida terrena, desejosas de que te observes e verifiques tuas ações e reações à frente das mais diversas situações da existência.
Quando perceberes que muita coisa à tua volta passa a emitir um som desarmônico aos teus ouvidos; se notares que escolhendo direito ou esquerdo não escapas da ácida crítica, o teu dever será o de te ajustares ao bom senso. Instrui-te com as situações e acumula o aprendizado das horas,
passando a observar bem melhor as circunstâncias que te cercam, para que melhor entendas, para que, enfim, evoluas.
Não te olvides de que ouvimos a voz do Mestre Nazareno, há distanciados dois milênios, a dizer-nos: No mundo só tereis aflições...
Conhecedores dessa realidade, abrindo a alma para compreende que a cada dia basta o seu mal..., tratarás de te recompor, caso tenhas te deixado ferir por tantos petardos, quando o ideal teria sido agir como o bambuzal diante da ventania. Curvar-se, deixar passar o vendaval, a fim de te reergueres com tranquilidade, passando o momento difícil.
Há de fato, dias difíceis, duros, caracterizando o teu estádio de provações indispensáveis ao teu processo de evolução. A ti, porém, caberá erguer a fronte buscando o rumo das estrelas formosas, que ao longe brilham, e agradecer a DEUS por poderes afrontar tantos e difíceis desafios, mantendo-te firme, mesmo assim.
Nos dias difíceis da tua existências, procura não te entregares ao pessimismo, nem ao lodo do derrotismo, evitando alimentar todo e qualquer sentimento de culpa, que te inspirariam o abandono dos teus compromissos, o que seria teu gesto mais infeliz.
Põe-te de pé, perante quaisquer obstáculos, e sê fiel aos teus labores, aos deveres de aprender, servir e crescer, que te trouxeram novamente ao mundo terrestre.
Se lograres a superação suspirada, nesses dias sombrios para ti, terás vencido mais um embate no rol dos muitos combates que compõem a pauta da guerra em que a terra se encontra engolfada.
Confia na ação e no poder da luz, que o Cristo representa, e segue com entusiasmo para a conquista de ti mesmo, guardando-te em equilíbrio, seja qual for ou como for cada um dos teus dias.


(Mensagem  em 30.12.2002 - Raul Teixeira- Camilo)


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Bilhete a Jesus

Senhor Jesus, enquanto a alegria do Natal acende luzes novas nos lares festivos, torno à velha Palestina, revendo, com os olhos da imaginação, a paisagem de tua vinda...
Roma estendia fronteira no Nilo, no Eufrates, no Reno, no Tamisa, no Danúbio, no Mar Morto, no Lago de Genezaré, nas areias do Saara. César “sossegava e protegia” os
habitantes das zonas mais remotas, aliciando a simpatia dos príncipes regionais, Todos os deuses indígenas cediam a Júpiter, o dono do Olimpo, de que as águias dominadoras se faziam emissárias, tremulando no topo das galeras, cheias de senhores e de escravos.
Lembras-te, Senhor, de que se fazia uma grande estatística, por ordem de Augusto, o Divino?
Otávio, cercado de assessores inteligentes, intensificava a centralização no mundo romano, reorganizando a administração na esfera dos serviços públicos. As circunscrições censitárias na Judéia enchiam-se de funcionários exigentes. Cadastravam-se famílias, propriedades, indústrias. E José e Maria também se locomoveram, com os demais, para atender as determinações. A sensibilidade israelita poderia manter-se a distancia do culto de César, resistindo ao incenso com que se mareava a passagem dos triunfadores, em púrpura sanguinolenta, mas a experiência judaica, estruturada em suor e lágrimas, não se esquivaria à obediência, perante os regulamentos políticos. As estalagens, no entanto, estavam repletas e não conseguiram lugar.
Em razão disso, a estrela gloriosa, que te assinalou a chegada, não brilhou sobre templos ou residências de relevo. Apenas a manjedoura singela ofereceu-te conforto e guarida.
Homens e mulheres faziam estatísticos minuciosos de haveres e interesses. Se o governo imperial decretava o recenseamento para reajustar observações e tributos, os governados da província alinhavam medidas, imprimindo modificações aos quadros da vida comum, para se subtraírem, de alguma sorte, às exigências. Permutavam-se cabras e camelos, terras e casas, reduzidos parques agrícolas e pequenas indústrias.
Haveria espaço mental para a meditação nas profecias? Para cumprir o dever religioso, não bastava comparecer ao Templo de Jerusalém, nos dias solenes, oferecer os sacrifícios prescritos e prosternar-se ante a oferenda sagrada, ao ressoar das trombetas?
Razoável, portanto, examinar os melhores recursos e burlar as requisições do romano dominador. A fração do povo eleito, que se aglomerava na cidade de David, lia os textos sagrados, recitava salmos e tomava apressado conselho aos livros da sabedoria; entretanto, não considerava pecado matar o tempo em disputas e conversações infindáveis ou enganar o próximo com a elegância possível.
Por essa razão, Senhor, quem gastaria alguns minutos para advogar proteção a Maria e José? Eles traziam a sinceridade dos que andam contigo, falavam de visitas de anjos, de vozes do céu, e o mundo palestinense estava absorvido no apego fanático aos bens imediatos. Comentavam-se, apaixonadamente, as listas e informações alusivas a rebanhos e fazendas. Às narrações do sonho de José ou da experiência de Zacarias, prefeririam noticiário referente à produção de farinha ou ao rendimento de pomares...

Todavia, para entregar à Humanidade a divina mensagem de que te fizeste o Depositário Fiel, não te feriste ao choque da indiferença. Começaste, assim mesmo na manjedoura humilde; o apostolado de bênçãos eternas. O Evangelho iniciou a primeira página viva da revelação nova na estrebaria singela. A Natureza foi o primeiro marco de tua batalha multissecular da luz contra as trevas.
E enquanto prossegues, conquistando, palmo a palmo, o espírito do mundo, os homens continuam fazendo estatísticas inumeráveis...
Aos censos de Otávio, seguiram-se os de Tibério, aos de Tibério sucederam-se arrolamentos de outros dominadores. Depois do poderio romano fragmentado, outras organizações autoritárias apareceram não menos tirânicas. Dilataram-se os serviços censitários, em toda à parte.
As nações modernas não fazem outra coisa além da extensão do poder, melhorando a estatística que lhes diz respeito.
Inventariavam-se, na antiga Judéia, ovelhas e jumentos, camelos e bois. Hoje, porém, Jesus, o arrolamento é muito mais importante. Com o aperfeiçoamento da guerra, o censo é vital nas decisões administrativas. Antes da carnificina, arregimentam-se estatísticas de canhões, tanques e navios, aviões, metralhadoras e fuzis. Enumeram-se homens, por cabeça, no serviço preparatório dos massacres e, em seguida, anotam-se feridos e mutilados. Isso, nas vanguardas de sangue, porque, na retaguarda, o inventário dos grandes e pequenos negócios é talvez mais ativo.Há, corridas de arma- mentos e bancos, valorização e desvalorização de bens móveis e imóveis, câmbio claro e câmbio escuro, concorrência leal e desleal, mercado honesto e clandestino, tudo de acordo com as estatísticas prévias que autorizam providências administrativas e regem o mecanismo da troca.
Nós sabemos que não condenas o ato de contar. Aconselhaste-nos nesse sentido, recomendando que ninguém deve abalançar-se a qualquer construção, antes de contas rigorosas, a fim de que a obra não permaneça inacabada. Entretanto, estamos entediados de tanto recenseamento para a morte, porque, em verdade, nunca esteve a casa dos, homens tão rica e tão pobre, tão, faiscante de esplendores e tão mergulhada nas trevas, tão venturosa e tão infeliz, como agora.
Desejávamos, Mestre, arrolar as edificações da fé, os serviços da esperança, os valores da caridade contudo, somos ainda muito poucos no setor de interesse pelos sonhos reveladores e pelas vozes do céu. Apesar disso, sabemos que os homens, fanatizados pela estatística das formas perecíveis, examinam os gráficos, de olhos preocupados, mas erguem corações ao alto, amargurados e tristes, movimentam-se entre tabelas e números, mas torturados pela sede de infinito...
Quem sabe, Senhor, poderia voltar, consolidando a tua glória, como fizeste há quase vinte séculos?! Entretanto, não nos atrevemos ao convite direto. As estalagens do mundo estão ainda repletas de gente negociando bens transitórios e melhorando o inventário das posses exteriores. Os governos estão empenhados em orçamentos e tributos. Os crentes pousam olhos apressados em teu Evangelho de Redenção e repetem fórmulas verbais, como os judeus de outro tempo, que mastigavam a Lei sem diferi-la. Quase certo que não encontrarias lugar, entre as criaturas. E não desejamos que regresses, de novo, para nascer num estábulo, trabalhar à beira das águas, ministrar a revelação em casas e barcas de empréstimo e morrer flagelado na cruz. Trabalharemos para que a tua glória brilhe entre os homens, para que a tua luz se faça nas consciências, porque, em verdade, Senhor, que adiantaria o teu retorno se a estatística das coisas santas não oferece a menor garantia. De vitória próxima? Como insistir pela tua volta pessoal e direta se na esfera dos homens ainda não existe lugar onde possas nascer, trabalhar e morrer?

Irmão X - Do livro: Luz Acima: Francisco Cândido Xavier.

Águas Profundas

Em minha infância, o mês das férias escolares era o período do ano mais esperado por mim.
Reuníamo-nos, meus primos e eu, na casa de meus avós. E com eles ficávamos todo o período de férias.
Era uma casa aconchegante, com um quintal imenso, repleto de árvores frutíferas. Uma residência antiga, ideal para ser explorada por nossa curiosidade.
Certa vez, em uma dessas férias mágicas e felizes, subi em uma árvore bastante alta que havia no terreno e, por cima do muro, pude observar o vizinho.
Era um senhor idoso, cabelos brancos, andar lento. Quando ele me viu, sorriu e acenou, num gesto de simpatia.
Foi então que eu percebi que ele tinha algo em suas mãos.
Com destreza, saltei da árvore para o muro, a fim de saciar minha curiosidade e descobrir o que era.
Percebi que o terreno do simpático velhinho era extenso como o de meus avós. Também descobri que o que ele segurava nas mãos eram sementes.
São sementes de árvores, me disse ele, sorrindo e mostrando-as para mim.
Tornamo-nos amigos. Conversávamos, enquanto ele lançava suas sementes à terra. Todavia, eu não o via regando as sementes. E isso começou a me deixar incomodado.
De que adianta tanto plantar, se não rega as pobres sementinhas, pensei.
Um dia, resolvi perguntar:
O senhor não tem medo de que suas árvores nunca cresçam? Afinal de contas, quase não rega as plantinhas.
Foi quando ele me explicou sua fantástica teoria. Disse-me que, se regasse com muita constância suas plantas, as raízes se acomodariam na superfície, esperando pela água fácil.
Como ele não fazia isso, as árvores demorariam mais para crescer, mas suas raízes tenderiam a migrar para o fundo, em busca da água das camadas inferiores do solo.
Dessa forma, elas teriam raízes mais profundas e seriam mais resistentes.
Os anos se passaram. Tornei-me adulto. Fui fazer cursos no Exterior. Quando retornei, fui visitar os meus avós.
Para minha surpresa, no quintal da casa ao lado, havia um bosque encantador, repleto de árvores variadas.
Aquele estava sendo um rigoroso inverno, de muita ventania. Enquanto as árvores na rua e na casa de meus avós se arqueavam, amoladas pelo vento, aquelas estavam imponentes, resistindo bravamente à rajada que as atingia.
Jesus, o Divino Mestre, em seu caminhar entre os homens, apontou-nos o amor como rota segura que nos leva à compreensão do Criador, do próximo e de nós mesmos.
O amor. O manancial celeste, a fonte que nunca seca.
Por conta de nosso egoísmo, de nosso orgulho, temos à nossa disposição a humilde e cristalina água do céu mas deixamos de bebê-la, prosseguindo sedentos em razão de mágoas acumuladas, falta de perdão, injustiça, solidão.
Para a alma sequiosa, para as chagas morais, para as dores do mundo, a água do amor.
Silenciemos. O convite gentil do Mestre ainda ecoa na acústica de nossas almas: Avançai para águas mais profundas.

Redação do Momento Espírita