terça-feira, 30 de julho de 2013

Caridade e Desenvolvimento

Num grupo de inquietas senhoras, após a reunião em que se haviam comunicado diversos Espíritos amigos, estalavam ruidosos comentários.
A palestra não interessava à vida alheia, segundo antiga acusação lançada às filhas de Eva; contudo, a nota dominante era a leviandade.
Falava-se entusiasticamente a respeito da prática e propaganda dos postulados espiritistas. Umas alegavam perseguições do Invisível, outras aludiam às aventuras dos maridos inconstantes, atribuindo as penas domésticas à influência dos maus Espíritos. Dentre todas, destacava-se a senhora Laurentina Cardoso pelo fervor sincero que lhe brilhava nos olhos. Divergindo da maioria, seus pareceres demonstravam singular interesse no assunto.
– Sinto-me transportada a região desconhecida – dirigia-se, impressionada, à diretora da feminil assembléia –, o mundo invisível nos arrebata à compreensão nova. Quão enorme é o serviço do bem a realizar!
E cruzando as mãos no peito, gesto que lhe era característico em instantes de profunda impressão, continuava, bondosa:
– Que fazer para cooperar no trabalho sublime?
Quanto desejava ser útil aos infelizes da esfera espiritual!...
– Sim, minha filha – explicava a presidente –, é preciso desenvolver-se, aproveitar suas faculdades no esclarecimento de nossos irmãos atrasados. Seja atenta ao dever e alcançará os mais nobres valores.
– Não poderia a senhora consultar os instrutores espirituais nesse sentido? – indagou dona Laurentina, ansiosa.
– Perfeitamente.
E, decorridos alguns dias, escrevia-lhe solícito o orientador da reunião:
– Minha irmã, Deus te abençoe o propósito de fraternidade e confiança. Continua devotada ao bem do próximo. A caridade é luminoso caminho de redenção. Não a esqueças na experiência humana e, a fim de estenderes a divina virtude, não desprezes o desenvolvimento próprio. Companheiros abnegados, no plano invisível, seguirão teus passos na edificação de ti mesma. Ora, vigia, trabalha, espera e sobretudo confia em Deus.
A Srª. Cardoso estava radiante. Figurou-se-lhe a pequenina mensagem verdadeiro bilhete de luz, habilitando-a a conviver com os gênios celestiais. Leu, releu, dobrou a folha minúscula, guardando-a na bolsa de passeio; enxugou as lágrimas que a emotividade lhe trouxera aos olhos e agradeceu a dádiva jubilosamente.
Desde esse dia, transformou-se o lar de Joaquim Oliveira Cardoso. O marido de dona Laurentina, homem de negócios ativos nos círculos industriais e financeiros, notou a mudança, assaz surpreendido. A esposa dedicada e carinhosa multiplicava os pedidos de licença para comparecer às reuniões variadas e múltiplas, destinadas a experimentação mediúnica. Avolumando-se dessarte os pedidos, Joaquim lhe fez ampla concessão a tal respeito. A companheira nunca o desgostara em qualquer circunstância. Humilde e abnegada, auxiliara-o na construção da fortuna sólida. Jamais demonstrara a vaidade ridícula dos novos ricos. Sempre se conduzira à altura da sua expectativa de homem consagrado à cultura intelectual e às boas maneiras. Desinteressada de exibições sociais, distante do convencionalismo balofo, dividia a existência com ele e os quatro filhinhos. Por que lhe impor restrições ingratas? Não compreendia aquele Espiritismo que se instalara na mente da esposa, mas não encontrava razão para proibir-lhe manifestações de fé. Além disso, Laurentina se entregava a semelhante movimento em companhia de relações respeitáveis. Esses raciocínios o tranquilizavam, mas, no entanto, os dias se incumbiram de lhe carrear ao cérebro novas preocupações.
Laurentina parecia obcecada. Não lhe interessava a mudança de cortinas, a limpeza dos quadros, a proteção dos livros prediletos. Aranhas andavam à solta, os espanadores pareciam aposentados. O chefe da casa duplicou o número de criadas, temendo situações mais difíceis.
Decorreram um, dois, três anos. Preocupava-se agora o capitalista, não só com a indiferença da esposa, no tocante ao ambiente doméstico, como também com a conduta maternal. É que, ao nascer o quinto filho, Laurentina requisitou o concurso da ama de leite. Alegando falta de tempo, o petiz foi entregue aos cuidados de uma pobre senhora que se prontificou ao serviço, mediante remuneração adequada. O marido, todavia, atendeu ao problema, fundamente amargurado. Servidores a mais ou a menos não lhe alteravam o programa econômico, mas a disposição da companheira desgostava-o. Suportou, contudo, a situação, sem queixas que a pudessem magoar.
O panorama caseiro prosseguia sem modificações, quando o sexto filhinho alegrou o casal. Decorridos dois meses em que a ama regressara ao serviço ativo, Joaquim valeu-se de momento íntimo, na hora da refeição, e falou à esposa, delicadamente: 
Tens observado a saúde do pequenino? Não te parece disposto a anemia profunda?
Dona Laurentina não pôde disfarçar o desapontamento ante a observação inesperada, e explicou:
– Ainda ontem ponderei a conveniência de levá-lo ao médico.
Cardoso fez o gesto de quem não deve adiar soluções justas e acrescentou.
– Creio, Laurentina, que o caso não se prende a consultório, mas propriamente ao lar.
Ela empalideceu e o marido prosseguiu:
– Sinto ferir-te a sensibilidade, mas hás de concordar que o leite materno, sempre que possível, não deve ser negado à criança. Reconheço, todavia, que multiplicaste talvez excessivamente as obrigações sociais.
Tão ligada aos filhinhos, noutro tempo, não hesitas agora em voltar sempre tarde, confiando-os quase absolutamente às criadas. Não firo o assunto no propósito de repreender; tuas companheiras são respeitabilíssimas; entretanto...
– É que desconheces o serviço da caridade, Joaquim – atalhou melindrada com a delicada repreensão diante dos filhos –, minha ausência de casa obedece a trabalhos importantes, com que procuro atender aos bons Espíritos.
A pequena Luísa, filhinha do casal, com a gracilidade espontânea dos seis anos, obtemperou com interesse e vivacidade :
– Papai, esses Espíritos devem ser maus, porque não deixam a mamãe voltar cedo. Sinto tanta falta dela!
O chefe da família sorriu significativamente e retrucou :
– Talvez tenhas razão, minha filha. Esses Espíritos podem ser bons para toda gente, menos para nós. 
Dona Laurentina esforçou-se para que as lágrimas não caíssem dos olhos, ali mesmo, e retirou-se desolada ao seu aposento. A pobre senhora se desfez em pranto amargo. Sentia-se vítima de angustiosa incompreensão. Não atendia a serviços de caridade? Não tentava desenvolver faculdades mediúnicas por consagrá-las ao alívio dos sofredores? Nessa noite, porém, esquivou-se à sessão costumeira. Precisava orar, meditar, ensimesmar-se. Rogou fervorosamente a Jesus lhe permitisse receber inspirações da Verdade. E, com efeito, sonhou que se aproximava de amplo e luminoso recinto, onde pontificava generosa entidade a serviço do bem. Guardava, por isso, a impressão de haver encontrado um anjo de Deus. Ajoelhou-se aflita e confiou-lhe as mágoas da alma sensível e afetuosa. Não acusava o marido nem se queixava dos filhinhos, mas pedia socorro para que lhe compreendessem o intuito. Ao fim de confidências angustiosas, o amigo afagou-lhe a fronte e explicou :
– Volta ao trabalho, Laurentina, e não te percas em lágrimas injustas. O companheiro é digno e bom, os filhinhos são flores do coração. Atende ao dever, minha amiga.
A interpelada quedara perplexa. Pedia socorro e recebia conselhos? Sentindo-se incompreendida, voltou a dizer :
– Rogo, por amor de Deus, auxiliardes meu esposo, no concernente às obrigações doutrinárias.
– Joaquim não as tem esquecido – esclareceu o orientador. – De há muitos anos se vem ele revelando mordomo fiel. Responsável por numerosas famílias de empregados que o estimam, trata os interesses de todos com justiça e honestidade. Não o deixes sem amparo afetivo, em tarefa tão grave. Porque não atenda diariamente a problemas de ordem religiosa, no que toca a letras e cerimônias, não quer dizer que permaneça desamparado de Deus. Entende-se ele com o Pai, no altar da consciência reta, quando organiza os serviços de cada dia, proporcionando trabalho e remuneração aos operários do seu círculo, segundo os méritos e necessidades de cada um. 
– Não estou eu, porém, ao serviço da caridade? pergunta Dona Laurentina, extremamente surpreendida.
– Sem dúvida, e por isso Jesus não te desampara a alma sincera. Entretanto, existem problemas que não deveriam passar despercebidos. Já observaste que, antes da caridade, permanece a primeira caridade?
Dona Laurentina esboçou o gesto de quem interroga sem palavras.
– A primeira caridade da dona de casa – continuou o mentor delicadamente – é atender ao lar; a da esposa é ajudar o companheiro; a da mãe é amamentar e nortear os filhos. Sem isso, o trabalho do bem não seria completo.
Fundamente admirada e sem ocultar o desapontamento que lhe ia nalma, a senhora Cardoso objetou:
– Mas o próprio orientador de nossas reuniões me aconselhou o desenvolvimento, sempre desejei atender a benefício dos que sofrem nas trevas e, por isso, tenho tentado o desabrochar de minhas faculdades mediúnicas...
– Quando o amigo espiritual te aconselhou desenvolvimento, procedeu sabiamente. Todos precisamos desenvolver sentimentos nobres, compreensões justas, noções santificantes. Quanto a faculdades psíquicas, é indispensável considerar que toda criatura as possui, em maior ou menor grau. Há, sim, trabalhadores com tarefas definidas, nesse particular; no entanto, não podem fugir à espontaneidade, como não escapaste à missão de mãe. E olvidaste, porventura, que ser mãe é ser médium da vida? Ignoras que o lar constitui sessão permanente, onde a doutrinação e a caridade com os filhos pedem, às vezes, sacrifício secular? Não abandones a cooperação de amor junto às amigas do mundo, prossegue servindo aos semelhantes, dentro das possibilidades justas, alivia o sofrimento dos que choram no plano invisível, mas não esqueças a reunião permanente da família, onde tens evangelizações e testemunhos, a todos os minutos do dia e da noite. Para poder cooperar nos campos imensos da esfera visível e invisível é preciso saber cultivar o canteiro da obrigação própria. Volta, minha amiga, e que Deus te abençoe.
Dona Laurentina acordou assombrada. Radiosa alegria estampara-se-lhe no semblante. Num transporte de júbilo contou ao marido a curiosa ocorrência.
Ele abraçou-a contente e exclamou :
– Agora, interessa-me de fato essa nobre doutrina. Nunca julguei que pudessem existir Espíritos tão sábios e tão bons.

Humberto de Campos: Francisco Cândido Xavier

Advento ao Mundo de Regeneração

1 – Como poderíamos definir a diferença entre Mundo de Provas e Expiações, estágio atual da Terra, e Mundo de Regeneração, o próximo estágio?
Mal comparando, diríamos que nos Mundos de Provas e Expiações o egoísmo predominante, resquício da animalidade primitiva, é o elemento gerador de todos os males. No Mundo de Regeneração, consciências despertas para esse problema estarão empenhadas em superá-lo.
2 – Então no Mundo de Regeneração ainda prevalece o mal?
Prevalece a consciência de que é preciso vencê-lo com o empenho do Bem. Equivale a dizer que o mal nesses planetas não tem receptividade nos corações e tende a desaparecer.

3 – Fala-se que a promoção de nosso planeta para Mundo de Regeneração ocorrerá neste milênio, provavelmente nos próximos séculos. Não estamos diante de um otimismo ingênuo, considerando os graves problemas humanos, envolvendo crimes, guerras, vícios, violência urbana, terrorismo, a evidenciar que a maldade ainda impera?
Há muita gente envolvida com o mal, por ignorância. Estes serão renovados no desdobramento de suas experiências, particularmente com a mestra dor, em reencarnações regeneradoras. O problema está naqueles que constituem uma minoria barulhenta, com o mal entranhado em seus corações. Esses serão expurgados, quando chegar a hora.

4 – Tipo Bin Laden?
Sim, todos aqueles que se comprazem com a violência, o vício, o crime, sem a mínima sensibilidade em relação aos males que causam, aos sofrimentos que impõem aos seus irmãos.


5 – Para onde irão os Espíritos degredados?
Provavelmente para Mundos Primitivos, em posição inferior à Terra, conforme a escala apresentada por Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo.

6 – Isso não contraria o princípio doutrinário de que o Espírito pode estacionar, mas jamais retrograda?
Um homem civilizado condenado a viver entre aborígines não sofre nenhuma perda em relação à sua inteligência, cultura e conhecimentos, que, inclusive lhe serão úteis na nova situação, embora as limitações a que estará sujeito. O mesmo acontece com o Espírito degredado em planeta inferior.
7 – Não irá um Espírito intelectualmente evoluído, mas moralmente atrasado, causar embaraços aos habitantes desse mundo?
Não tanto quanto os benefícios que essa convivência ensejará. Os degredados estarão mais ou menos no mesmo estágio moral, mas superiores no estágio intelectual, favorecendo o progresso de seus hospedeiros, em cujo seio reencarnarão.
8 – E ficarão para sempre por lá?
Segundo Emmanuel, somos todos tutelados do Cristo, o governador espiritual de nosso planeta, compondo uma imensa família, de perto de vinte e cinco bilhões de Espíritos. Natural, portanto, que após superarem sua rebeldia e resgatarem seus débitos, ajustando-se às leis divinas, retornem os degredados ao convívio humano, o que poderá demandar milênios, mas forçosamente acontecerá. Como ensina Jesus, das ovelhas confiadas por Deus aos seus cuidados, nenhuma se perderá.

(Entrevista concedida por Richard Simonetti)
Fonte: Sob a Ótica Espírita
 http://www.forumespirita.net/

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Anjo da Guarda

O que significa a palavra anjo?
-Mensageiro de Deus,ser espiritual que exerce o ofício
de mensageiro entre Deus e os Homens.
Desperta geralmente a idéia da perfeição moral: não obstante,é 
frequentemente aplicada a todos os seres bons e maus que não pertencem a humanidade.
Anjo da Guarda
Espírito Celeste que se crê velar sobre cada pessoa,afastando -a do mal
e inclinando -a para o bem.
tem por missão acompanhar o homem na vida e ajuda-lo a progredir.
Missão do espírito Protetor
Missão de um Pai para com os filhos:Conduzir o seu protegido pelo
um bom caminho,ajuda-los com seus conselhos,consola-los nas suas aflições,
sustentar sua coragem nas provas da vida.
O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde o nascimento até a sua morte,e frequentemente -o seguem depois da morte,na vida espiritual,e até em sucessivas reecarnações,porque essas existências não são mais do que fases bem curtas da fase do Espírito.
Os bons Espíritos estão sempre nos secundando.Basta nos colocarmos em sintonia com eles,para recebermos seus avisos salutares.
Os avisos não vêm como uma ordem,porque delimitaria nossa própia ação.,o uso de nosso livre-arbítrio.
A maioria das pessoas muito materialistas,se esquecendo das verdades mais simples:
a existência dos anjos da guarda em nossas vidas é uma delas.
A Influência dos Espíritos em nossas vidas
Os espíritos superiores dizem que a influência dos espíritos em nossa visa é maior do que
possamos imaginar,porque,em muitas ocasiões são eles que decidem por nós,sem que percebamos.
A influência dos espíritos podem ser vistas sobe dois ângulos:
de um lado há uma nuvem de espíritos que nos conduzem ao bem,
de um outro lado uma nuvem de espíritos que nos conduzem ao mal.
Nós ficamos no meio deles,decodificando as suas mensagens,
a partir de um certo momento tomamos uma decisão.
A afeição dos Espíritos
Os Espíritos superiores afeiçoam-se pelas pessoas de bem,
e as pessoas que querem progredir e combater o mal;
os inferiores aproximam-se dos viciosos e dos rebeldes à lei de Deus.
Os bons espíritos fazem todo bem possível e se sentem bem com as nossas alegrias.
Aflingem-se com os nossos males,principalmente quando não sabemos sofrer com resignação.
As aflições dos bons espíritos são mais graves,quando se tratam de causas morais;
para eles os males físicos são passageiros;numa crise os bons espíritos reerguem a nossa coragem;os maus incitam nos ao desespero.
O anjo da Guarda nunca nos abandona
Devemos ter em mente que o anjo da guarda é o nosso protetor
que quer o nosso bem e nossa evolução.
Por nossa própia culpa,as vezes se afastam de nós,no sentido de nos desligarmos
de suas sugestões e suas inspirações.
Lembramo-nos de os espíritos superiores,nada forçam,eles nos deixam decidirem por nós mesmos.
Se afastam por momentos,mais nunca nos abandonam de todo.
A prece
Em qualquer situação de desespero podemos nos valer da prece,para apaziguar a nossa mente conturbada.
O Evangelho segundo o Espiritismo dá nos algumas instruções,sobre as mais variadas 
tipos de preces.

Por mais que as pessoas tenham seus espíritos protetores específicos,nada impede que os espíritos venham auxilia-los nos momentos difìceis,sejam encarnados ou não,estes encarnados:pai,mãe,amigo etc...também podem ser considerados protetores.
Humilhemo-nos ante os desígnos do alto
valhamos- nos das sugestões dos nossos mentores espirituais,
muitas vezes o que nos parece um mal,é um bem que ainda não somos capazes de entender.
Uma prece dirigida a tais amigos é como um abraço...oremos por eles em gratidão,oremos com eles para o nosso sucesso,que é o que desejam mais que tudo.Que possamos estar sempre em sintonia com os nossos protetores,nos intuindo ao caminho do bem.

Abraços fraternos da Harmonia Espiritual

SUICÍDIO INCONSCIENTE

Richard Simonetti 

A cortina fúnebre, à porta, anuncia o velório. Sobre a mesa, em sala de regulares proporções, está a urna funerária em que um homem dorme seu último sono. Não terá mais de 45 anos… 
Ao lado, a viúva, inconsolável, recebe condolências. Muitos repetem, à guisa de conforto, as clássicas palavras: “Chegou sua hora... Deus o levou!...”
Piedosa mentira! Aquele homem foi um suicida! Aniquilou-se, lentamente, fazendo uso desse terrível corrosivo que se chama irritação. Incapaz de sofrer impulsos violentos, eterno repetente nos exames de compreensão, favoreceu a evolução de distúrbios circulatórios, culminando com a trombose coronária fulminante que lhe abreviou os dias!
A máquina física possuía vitalidade para mais vinte anos, no mínimo. Duas décadas perdidas na Escola da Reencarnação! Regressa ao plano espiritual enquadrado no suicídio inconsciente, que lhe imporá longo período de perturbação e sofrimento nas regiões umbralinas.
Raros, segundo André Luiz, os que atingem a condição de completistas, isto é, que aproveitam, integralmente, experiências humanas, estagiando na carne pelo tempo que lhes fora concedido. E há muitas maneiras de auto aniquilar-se em prestações.
A atualidade terrestre é de pleno domínio das sensações, em que a criatura humana pretende, com a satisfação dos senti¬dos, compensar suas frustrações ou libertar-se da tensão, males próprios de uma sociedade que atinge culminâncias no campo material, mas permanece subdesenvolvida moralmente.
Sob a orientação da propaganda mercenária, multidões buscam a maneira mais agradável de minar as defesas orgânicas com álcool, cigarro, excessos à mesa. Muitos resvalam para as drogas, ante as perspectivas da tranquilidade artificial ou da euforia ilusória, sempre seguidos pelo inferno da dependência e comprometedores desajustes físicos.
E há os vícios mentais: hipocondríacos, que tanto imaginam enfermidades que acabam vitimados por elas; melancólicos, que recusam às células físicas o indispensável suprimento de energias psíquicas; maledicentes, que se envenenam com o mal que julgam identificar nos outros; rebeldes que rompem as próprias entranhas com os ácidos da inconformação e do pessimismo; apegados aos bens terrenos, que sobrecarregam o veículo carnal com preocupações injustificáveis...
Para que o Espírito reencarnado transite em segurança na Terra, movimentam-se, no plano espiritual, familiares, amigos, instrutores, médicos e enfermeiros que o amparam e protegem, orientam e socorrem em todas as circunstâncias.
No entanto, apesar de tantos cuidados, seus pupilos, com raras exceções, são expulsos do vaso físico, depois de o haverem destruído de fora para dentro, com a intemperança, e de dentro para fora, com a má direção que imprimem à vida mental.
Haverá sempre quem proclame que semelhantes observações estão impregnadas do ranço de puritanismo retrógrado, sem considerar que são inevitáveis conclusões a que não se pode furtar quem estima a lógica.
Se a roupagem carnal é concessão divina que nos permite abençoado aprendizado nas asperezas do mundo, por que não preservá-la, observando disciplinas que a própria Medicina demonstra serem indispensáveis à estabilidade orgânica?
Cercado por dezenas de visitantes, após a reunião mediúnica, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, dizia Chico Xavier:
– Meus irmãos, quando eu psicografava o livro Nosso Lar, tive, muitas vezes, a visão de milhares de Espíritos que aguardavam, há longo tempo, a oportunidade de reencarnar, ansiosos pelo reajuste. Respeitemos o corpo que o Senhor nos concedeu, porque não será fácil uma nova oportunidade. Tenhamos cuidado com os enganos do mundo e, sobretudo, estimemos a serenidade. Se alguém nos der uma alfinetada, digamos: Obrigado por me espetar com um alfinete novo! Eu merecia um enferrujado!
A visão do querido médium é um convite a sérias reflexões, e a singela alegoria do alfinete consagra a Humildade. O homem verdadeiramente humilde, que conhece suas fragilidades e reconhece a grandeza de Deus, faz-se, espontaneamente, servo da compreensão e da tolerância, da simplicidade e da fraternidade, sobrepondo-se aos lamentáveis desvios que conduzem multidões desvairadas aos precipícios do suicídio inconsciente.

domingo, 28 de julho de 2013

O Estranho mundo dos Suicidas

Sérgio Ribeiro
Freqüentemente somos procurados por iniciantes do Espiritismo, para explicações sobre este ou aquele ponto da Doutrina. Tantas são as perguntas, e tão variadas, que nos chegam, até mesmo através de cartas, que chegamos à conclusão de que a dúvida e a desorientação que lavram entre os aprendizes da Terceira Revelação partem do fato de eles ainda não terem percebido que, para nos apossarmos dos seus legítimos ensinamentos, havemos de estabelecer um estudo metódico, parcelado, partindo da base da Doutrina, ou exposição das leis, e não do coroamento, exatamente como o aluno de uma escola iniciará o curso da primeira série e não da quarta ou da quinta.
Desconhecendo a longa série dos clássicos que expuseram as leis transcendentes em que se firmam os valores da mesma Doutrina, não somente nos veremos contornados pela confusão, impossibilitados de um sadio discernimento sobre o assunto, como também o sofisma, tão perigoso em assuntos de Espiritismo, virá em nosso encalço, pois não saberemos raciocinar devidamente, uma vez que só a exposição das leis da Doutrina nos habilitará ao verdadeiro raciocínio.
Procuraremos responder a uma dessas perguntas, de vez que nos chegou através de uma carta, pergunta que nos afligiu profundamente, visto que fere assunto melindroso, dos mais graves que a Doutrina Espírita costuma examinar. A dita pergunta veio acompanhada de interpretações sofismadas, próprias daquele que ainda não se deu ao trabalho de investigar o assunto para deduzir com a segurança da lógica. Pergunta. o missivista
- Um suicida por motivos nobres sofre os mesmos tormentos que os demais suicidas? Não haverá para ele uma misericórdia especial?
E então respondemos
- De tudo quanto, até hoje, temos estudado, aprendido e observado em torno do suicídio à luz da Doutrina Espírita, nada, absolutamente, nos tem conferido o direito de crer que existam motivos nobres para justificar o suicídio perante as leis de Deus. O que sabemos é que o suicídio é infração às leis de Deus, considerada das mais graves que o ser humano poderia praticar ante o seu Criador. Os próprios Espíritos de suicidas são unânimes em declarar a intensidade dos sofrimentos que experimentam, a amargura da situação em que se agitam, conseqüentes do seu impensado ato. Muitos deles, como o grande escritor Camilo Castelo Branco, que advertiu os homens em termos veementes, em memorável comunicação concedida ao antigo médium Fernando de Lacerda, afirmam que a fome, a desilusão, a pobreza, a desonra, a doença, a cegueira, qualquer situação, por mais angustiosa que seja,, sobre a Terra, ainda seria excelente condição "comparada ao que de melhor se possa atingir pelos desvios do suicídio".
Durante nosso longo tirocínio mediúnico, temos tratado com numerosos Espíritos de suicidas, e todos eles se revelam e se confessam superlativamente desgraçados no Além-Túmulo, lamentando o momento em que sucumbiram. Certamente que não haverá regra geral para a situação dos suicidas. A situação de um desencarnado, como também de um suicida, dependerá até mesmo do gênero de vida que ele levou na Terra, do seu caráter pessoal, das ações praticadas antes de morrer.
Num suicídio violento como, por exemplo, os ocasionados sob as rodas de um trem de ferro, ou outro qualquer veículo, por uma queda de grande altura, pelo fogo, etc., necessariamente haverá traumatismo perispiritual e mental muito mais intenso e doloroso que nos demais. Mas a terrível situação de todos eles se estenderá por uma rede de complexos desorientadores, implicando novas reencarnações que poderão produzir até mesmo enfermidades insolúveis, como a paralisia e a epilepsia, descontroles do sistema nervoso, retardamento mental, etc. Um tiro no ouvido, por exemplo, segundo informações dos próprios Espíritos de suicidas, em alguns casos poderá arrastar à surdez em encarnação posterior; no coração, arrastará a enfermidades indefiníveis no próprio órgão, conseqÜência essa que infelicitará toda uma existência, atormentando-a por indisposições e desequilíbrios insolúveis.
Entretanto, tais consequências não decorrerão como castigo enviado por Deus ao infrator, mas como efeito natural de uma causa desarmonizada com as leis da vida e da morte, lei da Criação, portanto. E todo esse acervo de males será da inteira responsabilidade do próprio suicida. Não era esse o seu destino, previsto pelas leis divinas. Mas ele próprio o fabricou, tal como se apresenta, com a infração àquelas leis. E assim sendo, tratando-se, tais sofrimentos, do efeito natural de uma causa desarmonizada com leis invariáveis, qualquer suicida há de suportar os mesmos efeitos, ao passo que estes seguirão seu próprio curso até que causas reacionárias posteriores os anulem.
No caso proposto pelo nosso missivista, poderemos raciocinar, dentro dos ensinamentos revelados pelos Espíritos, que o suicida poderia ser sincero ao supor que seu suicídio se efetivasse por um motivo nobre. Os duelos também são realizados por motivos que os homens supõem honrosos e nobres, assim como as guerras, e ambos são infrações gravíssimas perante as leis divinas. O que um suicida suporia motivo honroso ou nobre, poderia, em verdade, mais não ser do que falso conceito, sofisma, a que se adaptou, resultado dos preconceitos acatados pelos homens como princípios inabaláveis.
A honra espiritual se estriba em pontos bem diversos, porque nos induzirá, acima de tudo, ao respeito das mesmas leis. Mas, sendo o suicida sincero no julgar que motivos honrosos o impeliram ao fato, certamente haverá atenuantes, mas não justificativa ou isenção de responsabilidades. Se assim não fosse, o raciocínio indica que haveria derrogação das próprias leis de harmonia da Criação, o que não se poderá admitir
Quanto à misericórdia a que esse infrator teria direito como filho de Deus, não se trataria, certamente, de uma "misericórdia especial". A misericórdia de Deus se estende tanto sobre esse suicida como sobre os demais, sem predileções nem protecionismo. Ela se revela no concurso desvelado dos bons Espíritos, que auxiliarão o soerguimento do culpado para a devida reabilitação, infundindo-lhe ânimo e esperança e cercando-o de toda a caridade possível, inclusive com a prece, exatamente como na Terra agimos com os doentes e sofredores a quem socorremos. Estará também na possibilidade de o suicida se reabilitar para si próprio, através de reencarnações futuras, para as duas sociedades, terrena e invisível; as quais escandalizou com o seu gesto, e para as leis de Deus, sem se perder irremissivelmente na condenação espiritual.
De qualquer forma, com atenuantes ou agravantes, o de que nenhum suicida se isentará é da reparação do ato que praticou com o desrespeito às leis da Criação, e uma nova existência o aguardará, certamente em condições mais precárias do que aquela que destruiu, a si mesmo provando a honra espiritual que infringira.
O suicídio é rodeado de complexos e sutilezas imprevisíveis, contornado por situações e conseqüências delicadíssimas, que variam de grau e intensidade diante das circunstâncias. As leis de Deus são profundas e sábias, requerendo de nós outros o máximo equilíbrio para estudá-las e aprendê-las sem alterá-las com os nossos gostos e paixões.
Assim sendo, que fique bem esclarecido que nenhum motivo neste mundo será bastante honroso para justificar o suicídio diante das leis de Deus. O suicida é que poderá ser sincero ao supor tal coisa, daí advindo então atenuantes a seu favor. O melhor mesmo é seguirmos os conselhos dos próprios suicidas que se comunicam com os médiuns: - Que os homens suportem todos os males que lhes advenham da Terra, que suportem fome, desilusões, desonra, doenças, desgraças sob qualquer aspecto, tudo quanto o mundo apresente como sofrimento e martírio, porque tudo isso ainda será preferível ao que de melhor se possa atingir pelos desvios do suicídio. E eles, os Espíritos dos suicidas, são, realmente, os mais credenciados para tratar do assunto.

Frederico Francisco
Reformador – Março

Começar de novo

Erros passados, tristezas contraídas, lágrimas choradas, desajustes crônicos!...Às vezes, acreditas que todas as bênçãos jazem extintas, que todas as portas se mostram cerradas à necessária renovação!...
Esqueces-te, porém, de que a própria sabedoria da vida determina que o dia se refaça cada amanhã.
Começar de novo é o processo da Natureza, desde a semente singela ao gigante solar.
Se experimentaste o peso do desengano, nada te obriga a permanecer sob a corrente do desencanto. Reinicia a construção de teus ideais, em bases mais sólidas, e torna ao calor da experiência, a fim de acalentá-los em plenitude de forças novas.
O fracasso visitou-nos em algum tenta-me de elevação, mas isso não é motivo para desgosto e autopiedade, porquanto, freqüentemente, o malogro de nossos anseios significa ordem do Alto para mudança de rumo, e começar de novo é o caminha para o êxito desejado.
Temos sido desatentos, diante dos outros, cultivando indiferença ou ingratidão; no entanto, é perfeitamente possível refazer atitudes e começar de novo a plantação da simpatia, oferecendo bondade e compreensão àqueles que nos cercam.
Teremos perdido afeições que supúnhamos inalteráveis; todavia, não será justo, por isso, que venhamos a cair em desânimo.
O tempo nos permite começar de novo, na procura das nossas afinidades autênticas, aquelas afinidades suscetíveis de insuflar-nos coragem para suportar as provações do caminho e assegurar-nos o contentamento de viver.
Desfaçamo-nos de pensamentos amargos, das cargas de angústia, dos ressentimentos que nos alcancem e das mágoas requentadas no peito! Descerremos as janelas da alma para que o sol do entendimento nos higienize e reaqueça a casa íntima.
Tudo na vida pode ser começado de novo para que a lei do progresso e de aperfeiçoamento se cumpra em todas as direções.
Efetivamente, em muitas ocasiões, quando desprezamos as oportunidades e tarefas que nos são concedidas na Obra do Senhor, voltamos tarde a fim de revisá-las e reassumi-las, mas nunca tarde demais.

Emmanuel

(Do livro "Alma e Coração", psicografia de Francisco Cândido Xavier)

sábado, 27 de julho de 2013

O Sono

Sérgio Ribeiro

Durante o sono, a alma exerce a sua atividade, pensa, vagueia. Às vezes remonta ao mundo das causas e torna a encontrar a noção das vidas passadas. Do mesmo modo que as estrelas brilham somente durante a noite, também o nosso presente deve acolher-se à sombra para que os clarões do passado se acendam no horizonte da consciência.
A VIDA NA CARNE É O SONO DA ALMA; é o sonho triste ou alegre. Enquanto ele dura, esquecemos os sonhos precedentes, isto é, as encarnações passadas; entretanto, é sempre a mesma personalidade que persiste nas suas duas formas de existência. Em sua evolução atravessa alternadamente períodos de contração e dilatação, de sombra e de luz. A personalidade retrai-se ou se expande nesses dois estados sucessivos, assim como se perde e torna a encontrar-se através das alternativas do sono e da vigília, até que a alma, chegada ao apogeu intelectual e moral, acabe por uma vez de sonhar.
Há em cada um de nós um livro misterioso onde tudo se inscreve em caracteres indeléveis. Fechado à nossa vista durante a vida terrena, abre-se no espaço. O Espírito adiantado percorre lhe à vontade as páginas; encontra nele ensinamentos, impressões e sensações que o homem material a custo compreende.
Esse livro, o subconsciente dos psiquistas, é o que nós chamamos o perispírito. Quanto mais se purifica, tanto mais as recordações se definem; nossas vidas, uma a uma, emergem da sombra e desfilam em nossa frente para nos acusarem ou glorificarem. Todos os fatos, os atos, pensamentos mínimos, reaparecem e impõem-se à nossa atenção. Então o Espírito contempla a tremenda realidade; mede o seu grau de elevação; sua consciência julga sem apelação nem agravo. Como são suaves para alma, nessa hora, as boas ações praticadas, as obras de sacrifício! Como, porém, são pesados os desfalecimentos, as obras de egoísmo e iniqüidade!
Durante a reencarnação, é preciso relembrá-lo, a matéria cobre o perispírito com seu manto espesso; comprime, apaga-lhe as radiações. Daí o esquecimento. Livre desse laço, o Espírito elevado readquire a plenitude da sua memória; o Espírito inferior mal se lembra da sua última existência; é para ele o essencial, pois que ela é a soma dos progressos adquiridos, a síntese de todo o seu passado; por ela pode avaliar sua situação. Aqueles cujo pensamento não se penetrou, no nosso mundo, da noção das preexistências ignoram por muito tempo suas vidas primitivas, as mais afastadas. Daí a afirmação de numerosos Espíritos, em certos países, de que a reencarnação não é uma lei. Esses tais não interrogaram as profundezas do seu ser, não abriram o livro fatídico onde tudo está gravado. Conservam os preconceitos do meio terrestre em que viveram e esses preconceitos, em vez de incitá-los àquela investigação, dissuadem-nos dela.
Os Espíritos superiores, por sentimento de caridade, conhecendo a fraqueza dessas almas, julgando que o conhecimento do passado não lhes é ainda necessário, evitam atrair-lhes para esse ponto a atenção, a fim de lhes pouparem a vista de quadros penosos. Mas, chega um dia em que, pelas sugestões do Alto, sua vontade desperta e rebusca nos recessos da memória. Então as vidas anteriores lhes aparecem como miragem longínqua. Há de chegar o tempo em que, estando mais disseminado o conhecimento dessas coisas, todos os Espíritos terrestres, iniciados por uma forte educação na lei dos renascimentos, verão o passado desenrolar-se à sua frente logo depois da morte e até, em certos casos, durante esta vida. Terão adquirido a força moral necessária para afrontarem esse espetáculo sem fraquejar.
Para as almas purificadas a recordação é constante. O Espírito elevado tem o poder de reviver à vontade o passado, o presente e o misterioso futuro, cujas profundidades se iluminam por instantes, para ele, com rápidos clarões, para em seguida mergulharem nas sombras do desconhecido.

Léon Denis
Livro: O problema do ser, do destino e da dor

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O Suicida do trem

Mansão Do Caminho

Eu nunca me esquecerei que um dia havia lido num jornal acerca de um suicídio terrível, que me impactou: um homem jogou-se sobre a linha férrea, sob os vagões da locomotiva e foi triturado. E o jornal, com todo o estardalhaço, contava a tragédia, dizendo que aquele era um pai de dez filhos, um operário modesto.
Aquilo me impressionou tanto que resolvi orar por esse homem.
Tenho uma cadernetinha para anotar nomes de pessoas necessitadas. Eu vou orando por elas e, de vez em quando, digo: se este aqui já evoluiu, vou dar o seu lugar para outro; não posso fazer mais.
Assim, coloquei-lhe o nome na minha caderneta de preces especiais - as preces que faço pela madrugada. Da minha janela eu vejo uma estrela e acompanho o seu ciclo; então, fico orando, olhando para ela, conversando. Somos muito amigos, já faz muitos anos. Ela é paciente, sempre aparece no mesmo lugar e desaparece no outro.
Comecei a orar por esse homem desconhecido.
Fazia a minha prece, intercedia, dava uma de advogado, e dizia: Meu Jesus, quem se mata (como dizia minha mãe) "não está com o juízo no lugar". Vai ver que ele nem quis se matar; foram as circunstâncias. Orava e pedia, dedicando-lhe mais de cinco minutos (e eu tenho uma fila bem grande), mas esse era especial.
Passaram-se quase quinze anos e eu orando por ele diariamente, onde quer que estivesse.
Um dia, eu tive um problema que me fez sofrer muito.
Nessa noite cheguei à janela para conversar com a minha estrela e não pude orar.
Não estava em condições de interceder pelos outros. Encontrava-me com uma grande vontade de chorar; mas, sou muito difícil de fazê-lo por fora, aprendi a chorar por dentro.
Fico aflito, experimento a dor, e as lágrimas não saem. Eu tenho uma grande inveja de quem chora aquelas lágrimas enormes, volumosas, que não consigo verter.
Daí a pouco a emoção foi-me tomando e, quando me dei conta, chorava.
Nesse ínterim, entrou um Espírito e me perguntou:
- Por que você está chorando?
- Ah! Meu irmão - respondi - hoje estou com muita vontade de chorar, porque sofro um problema grave e, como não tenho a quem me queixar, porquanto eu vivo para consolar os outros, não lhes posso contar os meus sofrimentos. Além do mais, não tenho esse direito; aprendi a não reclamar e não me estou queixando.
O Espírito retrucou:
- Divaldo, e seu eu lhe pedir para que você não chore, o que é que você fará?
- Hoje nem me peça. Porque é o único dia que eu consegui fazê-lo. Deixe-me chorar!
- Não faça isto - pediu. - Se você chorar eu também chorarei muito.
- Mas por que você vai chorar? - perguntei-lhe.
- Porque eu gosto muito de você. Eu amo muito a você e amo por amor.
Como é natural, fiquei muito contente com o que ele me dizia.
- Você me inspira muita ternura - prosseguiu - e o amo por gratidão. Há muitos anos eu me joguei embaixo das rodas de um trem. E não há como definir a sensação da eterna tragédia.
Eu ouvia o trem apitar, via-o crescer ao meu encontro e sentia-lhe as rodas me triturando, sem terminar nunca e sem nunca morrer.
Quando acabava de passar, quando eu ia respirar, escutava o apito e começava tudo outra vez, eternamente.
Até que um dia escutei alguém chamar pelo meu nome. Fê-lo com tanto amor, que aquilo me aliviou por um segundo, pois o sofrimento logo voltou.
Mais tarde, novamente, ouvi alguém chamar por mim.
Passei a ter interregnos em que alguém me chamava, eu conseguia respirar, para aguentar aquele morrer que nunca morria e não sei lhe dizer o tempo que passou.
Transcorreu muito tempo mesmo, até o momento em que deixei de ouvir o apito do trem, para escutar a pessoa que me chamava.
Dei-me conta, então, que a morte não me matara e que alguém pedia a Deus por mim.
Lembrei-me de Deus, de minha mãe, que já havia morrido.
Comecei a refletir que eu não tinha o direito de ter feito aquilo, passei a ouvir alguém dizendo: "Ele não fez por mal. Ele não quis matar-se."
Até que um dia esta força foi tão grande que me atraiu; aí eu vi você nesta janela, chamando por mim.
- Eu perguntei - continuou o Espírito - quem é?
Quem está pedindo a Deus por mim, com tanto carinho, com tanta misericórdia?
Mamãe surgiu e esclareceu-me:
- É uma alma que ora pelos desgraçados.
- Comovi-me, chorei muito e a partir daí passei a vir aqui, sempre que você me chamava pelo nome. (Note que eu nunca o vira, face às diferenças vibratórias.)
- Quando adquiri a consciência total - prosseguiu ele - já se haviam passado mais de catorze anos.
Lembrei-me de minha família e fui à minha casa. Encontrei a esposa blasfemando, injuriando-me: "- Aquele desgraçado desertou, reduzindo-nos à mais terrível miséria.
A minha filha é hoje uma perdida, porque não teve comida e nem paz e foi-se vender para tê-los.
Meu filho é um bandido, porque teve um pai egoísta, que se matou para não enfrentar a responsabilidade.
Deixando-nos, ele nos reduziu a esse estado."
- Senti-lhe o ódio terrível. Depois, fui atraído à minha filha, num destes lugares miseráveis, onde ela estava exposta como mercadoria. Fui visitar meu filho na cadeia.
- Divaldo -falou-me emocionado - aí eu comecei a somar às "dores físicas" a dor moral, dos danos que o meu suicídio trouxe.
Porque o suicida não responde só pelo gesto, pelo ato da autodestruição, mas, também, por toda uma onda de efeitos que decorrem do seu ato insensato, sendo tudo isto lançado a seu débito na lei de responsabilidades.
Além de você, mais ninguém orava, ninguém tinha dó de mim, só você, um estranho.
Então hoje, que você está sofrendo, eu lhe venho pedir: em nome de todos nós, os infelizes, não sofra! Porque se você entristecer, o que será de nós, os que somos permanentemente tristes?
Se você agora chora, que será de nós, que estamos aprendendo a sorrir com a sua alegria?
Você não tem o direito de sofrer, pelo menos por nós, e por amor a nós, não sofra mais.
Aproximou-se, me deu um abraço, encostou a cabeça no meu ombro e chorou demoradamente.
Doridamente, ele chorou.
Igualmente emocionado, falei-lhe:
- Perdoe-me, mas eu não esperava comovê-lo.
- São lágrimas de felicidade. Pela primeira vez, eu sou feliz, porque agora eu me posso reabilitar. Estou aprendendo a consolar alguém. E a primeira pessoa a quem eu consolo é você. 

Divaldo Pereira Franco

Hóstia Católica

Grupo Além da vida

DISSE CHICO XAVIER:
“Em nossa infância, e na primeira juventude, frequentava a Igreja Católica com o mesmo respeito com que nos dirigimos hoje a uma reunião espírita cristã, e sempre sentimos, reconhecemos, dentro da Igreja Católica, prodígios de espiritualidade inimagináveis.Muitas vezes, principalmente nas missas da manhã, quando era possível a comunhão de vibrações espirituais de todos os crentes numa só faixa de espiritualidade e de fé em Jesus, tivemos oportunidade de ver espíritos santificados que abençoavam as hóstias, e elas se transformavam como se fossem flores de luz, que o sacerdote oferecia na mesa da comunhão.
Muitas vezes, principalmente no altar daquela que nós veneramos como sendo a nossa Mãe Santíssima, vimos irradiações de luz que alcançavam toda a assembléia, do altar consagrado a Santa Teresinha de Lisieux, muitas vezes vi repartirem rosas trazidas por criaturas desencarnadas, amigos e amigas católicos da cidade de Pedro Leopoldo, sem que eu pudesse explicar o fenômeno.”
Chico conta, ainda, que as hóstias iluminadas, quando recebidas por
pessoas de fé, não se apagavam ao serem ingeridas por elas, sendo
absorvidas, de preferência, pelos órgãos que estivessem atacados por alguma enfermidade. Por outro lado, nas pessoas que comungavam sem fé, as hóstias se obscureciam, assim que lhes tocavam os lábios.
O mesmo acontece com o passe espírita.
A fé e o amor são os responsáveis pelos milagres...

Gêmeos Siameses na visão Espírita

Do ponto de vista espiritual, entendemos se tratar provavelmente de dois espíritos ligados por ódio extremo, talvez de muitas reencarnações, e que renascem nestas condições não por livre escolha ou punição divina, mas por uma espécie de determinismo originado na própria lei de causa e efeito. Alternando-se as posições como algoz e vítima e, também, de plano (físico e espiritual), impelidos por irresistível atração de ódio e desejo de vingança, buscam-se sempre e acabam se reencontrando por vezes em circunstâncias dramáticas, que os obrigam a partilhar até do mesmo sangue vital e do ar que respiram.

A convivência ensejará que os dois seres, durante a trajetória (seja ela mais longa ou muito curta), estabeleçam laços de parceria e apoio, despertando sentimentos de amizade, de respeito e início de reconciliação pelo perdão, ainda que imanifestos.

FONTE: REVISTA CRISTÃ DO ESPIRITISMO

Lembranças de entes Queridos

"Ante as lembranças queridas dos entes amados
que te precederam na Grande Transformação,
é natural que as tuas orações, em auxílio a eles,
surjam orvalhadas de lágrimas.
Entretanto, não permitas 
que a saudade se te faça desespero.
Recorda-os, efetuando por eles, 
o bem que desejariam fazer.
Imagina-lhes as mãos dentro das tuas 
e oferece algum apoio aos necessitados;
lembra-lhes a presença amiga e visita um doente, 
qual se lhes estivesses atendendo
a determinada solicitação;
distribui sorrisos e palavras de amor com os 
irmãos algemados a rudes provas, como se
os visses falando por teus lábios e atravessarás
os dias de tristeza ou de angústia com a luz da esperança
no coração, caminhando, em rumo certo, para o
reencontro feliz com todos eles, nas bênçãos de Jesus,
em plena imortalidade.

Emmanuel

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Abortos

ABORTO TERAPÊUTICO
O procedimento abortivo é moral somente numa circunstância, segundo O Livro dos Espíritos, na questão 359, respondida pelos Espíritos Superiores:
Pergunta — Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda?
Resposta — “Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe.”
(Os Espíritos referem-se, aqui, ao ser encarnado, após o nascimento.)
Com o avanço da Medicina, torna-se cada vez mais escassa a indicação desse tipo de abortamento. Essa indicação de aborto, todavia, com as angústias que provoca, mostra-se como situação de prova e resgate para pais e filhos, que experimentam a dor educativa em situação limite, propiciando, desse modo, a reparação e o aprendizado necessários.

ABORTO POR ESTUPRO
Justo é se perguntar, se foi a criança que cometeu o crime. Por que imputar-lhe responsabilidade por um delito no qual ela não tomou parte?
Portanto, mesmo quando uma gestação decorre de uma violência, como o estupro, a posição espírita é absolutamente contrária à proposta do aborto, ainda que haja respaldo na legislação humana.
No caso de estupro, quando a mulher não se sinta com estrutura psicológica para criar o filho, cabe à sociedade e aos órgãos governamentais facilitar e estimular a adoção da criança nascida, ao invés de promover a sua morte legal. O direito à vida está, naturalmente, acima do ilusório conforto psicológico da mulher.

ABORTO “EUGÊNICO” OU “PIEDOSO”

A questão 372 de O Livro dos Espíritos é elucidativa:
Pergunta — Que objetivo visa a providência criando seres desgraçados, como os cretinos e os idiotas?
Resposta — “Os que habitam corpos de idiotas são Espíritos sujeitos a uma punição. Sofrem por efeito do constrangimento que experimentam e da impossibilidade em que estão de se manifestarem mediante órgãos não desenvolvidos ou desmantelados.”
Fica evidente, desse modo, que, mesmo na possibilidade de o feto ser portador de lesões graves e irreversíveis, físicas ou mentais, o corpo é o instrumento de que o Espírito necessita para sua evolução, pois que somente na experiência reencarnatória terá condições de reorganizar a sua estrutura desequilibrada por ações que praticou em desacordo com a Lei Divina. Dá-se, também, que ele renasça em um lar cujos pais, na grande maioria das vezes, estão comprometidos com o problema e precisam igualmente passar por essa experiência reeducativa.

ABORTO ECONÔMICO
Esse aspecto é abordado em O Livro dos Espíritos, na questão 687:
Pergunta — Indo sempre a população na progressão crescente que vemos, chegará tempo em que seja excessiva na Terra?
Resposta — “Não, Deus a isso provê e mantém sempre o equilíbrio. Ele coisa alguma inútil faz. O homem, que apenas vê um canto do quadro da Natureza, não pode julgar da harmonia do conjunto.”
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XXV, a afirmativa de Allan Kardec é esclarecedora: “A Terra produzirá o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os bens que ela dá. Quando a fraternidade reinar entre os povos, como entre as províncias de um mesmo império, o momentâneo supérfluo de um suprirá a momentânea insuficiência de outro; e cada um terá o necessário.”
Convém destacar, ainda, que o homem não é apenas um consumidor, mas também um produtor, um agente multiplicador dos recursos naturais, dominando, nesse trabalho, uma tecnologia cada vez mais aprimorada.

O DIREITO DA MULHER
Invoca-se o direito da mulher sobre o seu próprio corpo como argumento para a descriminalização do aborto, entendendo que o filho é propriedade da mãe, não tem identidade própria e é ela quem decide se ele deve viver ou morrer.
Não há dúvida quanto ao direito de escolha da mulher em ser ou não ser mãe. Esse direito ela o exerce, com todos os recursos que os avanços da ciência têm proporcionado, antes da concepção, quando passa a existir, também, o direito de um outro ser, que é o do nascituro, o direito à vida, que se sobrepõe ao outro.
Estudos científicos recentes demonstram o que já se sabia há muito tempo: o feto é uma personalidade independente que apenas se hospeda no organismo materno. O embrião é um ser tão distinto da mãe que, para manter-se vivo dentro do útero, necessita emitir substâncias apropriadas para neutralizar as que são produzidas pelo organismo da hospedeira com o objetivo de expulsá-lo como corpo estranho.

CONSEQÜÊNCIAS DO ABORTO
Após o abortamento, mesmo quando acobertado pela legislação humana, o Espírito rejeitado pode voltar-se contra a mãe e todos aqueles que se envolveram na interrupção da gravidez. Daí dizer Emmanuel (Vida e Sexo, psicografado por Francisco C. Xavier, cap. 17, ed. FEB): “Admitimos seja suficiente breve meditação, em torno do aborto delituoso, para reconhecermos nele um dos fornecedores das moléstias de etiologia obscura e das obsessões catalogáveis na patologia da mente, ocupando vastos departamentos de hospitais e prisões”.
Mulher e homem acumpliciados nas ocorrências do aborto criminoso desajustam as energias psicossomáticas com intenso desequilíbrio, sobretudo, do centro genésico, implantando nos tecidos da própria alma a sementeira de males que surgirão a tempo certo, o que ocorre não só porque o remorso se lhes entranha no ser mas também porque assimilam, inevitavelmente, as vibrações de angústia e desespero, de revolta e vingança dos Espíritos que a lei lhes reservava para filhos.
Por isso compreendem-se as patologias que poderão emergir no corpo físico, especialmente na área reprodutora, como o desaguar das energias perispirituais desestruturadas, convidando o protagonista do aborto a rearmonizar-se com a própria consciência.

NO REAJUSTE

Ante a queda moral pela prática do aborto não se busca condenar ninguém.
O que se pretende é evitar a execução de um grave erro, de conseqüências nefastas, tanto individual como socialmente, como também sua legalização. Como asseverou Jesus: “Eu também não te condeno; vai e não tornes a pecar.” (João,8:11.)
A proposta de recuperação e reajuste que o Espiritismo oferece é de abandonar o culto ao remorso imobilizador, a culpa autodestrutiva e a ilusória busca de amparo na legislação humana, procurando a reparação, mediante reelaboração do conteúdo traumático e novo direcionamento na ação comportamental, o que promoverá a liberação da consciência, através do trabalho no bem, da prática da caridade e da dedicação ao próximo necessitado, capazes de edificar a vida em todas as suas dimensões.
Proteger e dignificar a vida, seja do embrião, seja da mulher, é compromisso de todos os que despertaram para a compreensão maior da existência do ser.
Agindo assim, evitam-se todas as conseqüências infelizes que o aborto desencadeia, mesmo acobertado por uma legalização ilusória. “O amor cobre a multidão de pecados”, nos ensina o apóstolo Pedro (I Epístola, 4:8).
Reformador Fevereiro 2000

Por Sérgio Ribeiro

Controle de Natalidade

Sérgio Ribeiro
Em se tratando do “controle de natalidade”, consideramos que, negar-se o homem ao cumprimento das leis sagradas da natureza, obedecendo a fins puramente egoísticos, é um erro condenável, sem falarmos do aborto provocado que constitui um crime tão grave quanto o homicídio diante da justiça inelutável das determinações divinas.
É indubitável, todavia, que a humanidade caminha para a compreensão da maternidade consciente, porque se o homem tem o seu mapa de provações reparadoras, delineado antes de sua reencarnação no orbe terrestre, compete-lhe, na vida planetária, aproveitar todas as possibilidades do seu relativo livre-arbítrio, no sentido de aperfeiçoar o seu instituto de experiências expiatórias.
Consideramos, portanto, que, antes de quaisquer dispositivos sociais sobre esse assunto, tão delicado, seria conveniente ensinar à mulher a ser mãe e ao homem a ser pai, a fim de que os filhos sejam, primeiramente, filhos do seu espírito e não apenas rebentos de sua carne.
As discussões científicas e filosóficas acerca do problema, se repetem por toda parte. Alguns escritores, alarmados, falam de decrescimento dos indivíduos da raça branca, em virtude da observação do malthusianismo. Em alguns países, cogita-se de legislação para que se orientem os trabalhos de fecundação artificial entre os casais estéreis. Ainda aqui, notamos os extremismos dissolventes, assinalando, melancolicamente, as transições de uma época.
Mas, considerando-se que a direção do mundo não pertence ao homem e sim a Jesus, teriam nascido menos pessoas na França, com a observância à lei de Malthus, por parte de muitos casais, e teriam nascido mais na Itália, com o amparo do fascismo à expansão da natalidade? Cremos que não, para considerar com a voz do povo que “Deus escreve direito através de linhas tortuosas”. Para comprovar a nossa assertiva, reconhecemos que as experiências de fecundação artificial, iniciadas com o abade Spallanzani, nos fins do século XVIII, e continuadas até agora, bem como as aplicações da lei de Ogino-Knaus, sobre o assunto, são, até hoje, caracterizadas pelo empirismo e pela insegurança, ante as observações positivas da ciência.
Depreende-se, pois, que ainda neste problema, toda solução está adstrita à realização interior do homem.
A época é de excentricidades e de experimentos, muita vez lamentáveis, mas, nesse particular, nada se terá feito, sem que o homem conheça a excelsitude dos seus grandes e elevados deveres, dentro do sagrado instituto da família, compenetrando-se da sua missão da paternidade.
E não duvidemos de que, com a reforma interior das criaturas, à luz do espiritualismo, o futuro iluminará a Terra com os clarões da maternidade consciente, quando, então, os lares deixarão de ser, como na sua maioria o são na atualidade, os institutos de expiação e de dor, mas remansos de trabalho e de paz espiritual, integrados no mesmo abençoado labor da seara divina de Jesus.

EMMANUEL
(Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, em 22-7-1937, transcrita do livro “Doutrina Inglória”, de Leopoldo Machado, p. 204, Rio, 1941.)

terça-feira, 9 de julho de 2013

Vivências Mediúnicas

Nestas últimas semanas relatei alguns dos atendimentos realizados com a parceria dos grupos Espiritual e Mediúnico encarnado, decorrentes de um ataque de espíritos pouco evoluídos moralmente. Entrei em contato com espíritos revoltados, e alguns destes ignorantes das Leis Maiores.Na maioria dos encontros a agressividade da chegada foi amenizada e aos poucos transformada, revelando algum grau de diluição do ódio e da revolta. De certo modo obtivemos uma sensibilização daquelas almas para a construção de um caminho diferente.
Mas houve um determinado encontro, o primeiro na minha jornada pessoal, com um espírito decidido na recusa do auxílio dos Irmãos da Luz.
O médium sentiu a presença de um Irmão desgarrado, e logo relatou uma energia tão densa e pesada que não sabia se conseguiria entrar num contato mais próximo com o mesmo. Foi à custa da oração e vibrações dirigidas a Mãe Maria que se estabeleceu um tipo de ligação com este ser. Fui intuída que este era um tipo de conexão diferente, e me pareceu que passava por outro médium, porém desencarnado, e por aparelhos.
Em seguida visualizei na minha tela mental uma área pantanosa, exalando vapores enegrecidos, limitada por uma espécie de cúpula de energia densa e magnetizadora que mantinha este espaço enclausurado. Nesse momento pensei já estar em outro atendimento.
Ao nos aproximarmos do local senti a presença dos trabalhadores desencarnados, Irmãos de Luz, e a névoa enegrecida foi esmaecendo. Pude então enxergar que numa espécie de grande poço de lama onde muitos seres se debatiam.
Um deles chegou até a superfície e suplicou para ser retirado dali. Dizia que não aguentava mais o sofrimento, que quando chegava próximo à margem escorregava e caia numa espécie de redemoinho e voltava ao fundo do que parecia um poço de areia movediça. Ouviam-se lamentos desolados.
Intuída para jogar uma espécie de corda, o que fiz, ele segurou-a firme e foi chegando até a margem. Já bem próximo me disse, receoso, que eu era muito fraca para tira-lo dalí. Eu lhe respondi que não estava só e que haviam pessoas com força bastante para auxiliá-lo segurando a corda atrás de mim. Mais seguro, conseguiu sair e disse que queria sair correndo mas estava fraco, não conseguia andar, e foi tomado pelo desespero de ser pego e jogado novamente no poço. Sentia-se sem forças e observei que o seu medo estava atraindo-o para o local novamente. Falei que éramos um grupo em caravana e que estaria seguro conosco.
Ao receber um passe dos Irmãos sentiu-se um pouco melhor e disse que haviam outros lá, que gostaria de resgatá-los, mas estava impotente.
Percebi que um Amigo lhe disse que ninguém era impotente, que todos nós, filhos de Deus, ao pedir Sua ajuda, a receberíamos e que nossa Amada Maria estava a velar por todos nós. Ele disse que não era digno daquela ajuda, mas que então iria tentar ajudar aos outros. Subitamente sua aparência ficou menos grotesca, e sentado próximo à margem, pegou a corda e disse que queria rezar mais não sabia mais. Oramos uma Ave-Maria e foi uma cena tocante e difícil de esquecer. Comecei a ver muitas cordas luminosas e dezenas de seres subindo, com uma espécie de vórtex luminoso a clarear o centro e todo o entorno do charco. Percebi-me cantando baixinho como médium a canção singela e piedosa “Mãezinha do Céu”.
Muitos ajoelhavam-se e atiravam-se no chão a pedir misericórdia e perdão à Mãe de Amor, outros acompanhavam a canção, como que embalados pela vibração de acolhimento e amorosidade.
Emocionados, o médium e eu retornamos à sala mediúnica e eis que a presença nefasta se fez sentir novamente. Disse que viu tudo de longe, que derrubamos sua barreira magnética, suas formas-pensamento e libertamos seus escravos, mais que não iria adiantar nada. Numa frieza ímpar, disse que aqui na Terra haviam muito mais espíritos para dominar, e que ele iria construir tudo novamente, e à custa de sangue, rindo com escárnio.
Sem temer suas ameaças, lhe disse que o planeta estava se regenerando e que ações desse tipo já não seriam mais compatíveis ou toleradas, e que os espíritos recalcitrantes no mal iriam habitar a outros orbes. Respondeu com firmeza que poderíamos levá-lo então a outro local, não importava como fosse, pois lá mesmo começaria tudo novamente, e lhe perguntei se estava consciente de suas escolhas e ele disse que sim. Que tinha observado de longe o que se passou nos últimos dias na nossa Casa de Caridade, que os fracos, curiosos e interessados no Cristo, até mesmo por raiva Dele, tinham caído. Disse para ele que a bondade não existia e que Jesus era indiferente, pois quando chegou aqui já era assim e sairia do planeta tão decidido quanto entrou, que poderíamos levá-lo a qualquer lugar do universo, que sempre haveriam espíritos mais fracos para dominar, que queria o mal e era esta a sua escolha.

Mantivemo-nos firmes na vibração e no apelo à Misericórdia Divina para que este espírito vampirizador encontre um dia a luz do Amor Maior, deixando a estagnação evolutiva auto imposta.

Vamos todos orar e vigiar, para não nos permitirmos sintonizar com forças desagregadoras, com o alimento do ódio, da mágoa, do ressentimento, do controle, da vaidade e do egoísmo.
Muita PAZ para todos nós.

Francesca Freitas

10/06/2013
Leia mais: http://www.cacef.info

domingo, 7 de julho de 2013

Regressão de memória

Sérgio Ribeiro

Se fomos trazidos à Terra para esquecer o nosso passado, valorizar o presente e preparar em nosso benefício o futuro melhor, porque provocar a regressão da memória do que fomos ou fizemos, simplesmente por questões de curiosidade vazia, ou buscar aqueles que foram nossos companheiros, a fim de regressar aos desequilíbrios que hoje resgatamos?
A nossa própria existência atual nos apresentará as tarefas e provas que, em si, são a recapitulação de nosso passado em nossas diversas vidas, ou mesmo, somente de nossa passagem última na Terra fixada no mundo físico, curso de regeneração em que estamos integrados nas chamadas provações de cada dia.
Porque efetuar a regressão da memória, unicamente para chorar a lembrança dos pretéritos episódios infelizes, ou exibirmos grandeza ilusória em situações que, por simples desejo de leviana retomada de acontecimentos, fomos protagonistas, se já sabemos, especialmente com Allan Kardec, que estamos eliminando gradativamente as nossas imperfeições naturais ou apagando o brilho falso de tantos descaminhos que apenas nos induzirão a erros que não mais desejamos repetir?
Sejamos sinceros e lancemos um olhar para nossas tendências.

Emmanuel
Médium: Francisco Cândido Xavier

O jogo da vida

Luz Da Existencia Kardecista
Meu querido Irmão


Fomos colocados no “estádio da vida” para a realização de um grande jogo, cuja duração vai do nascimento ao nosso desencarne.
Uma vez deixada para trás a casa que nossa alma habitou, continuamos o jogo num patamar superior preparando-nos para um possível reencarne. E assim, num novo corpo passaremos a usar também um novo uniforme e mais uma vez a correr atrás da bola. É o jogo da vida...
Cada um de nós precisa entender que a vida é um jogo, onde é vencedor aquele que conhece as regras de sua execução. Jesus foi instrutor e técnico desse jogo por nós vivenciado e foi claro quando afirmou que dar e receber correm juntos no campo de semeadura. Paulo em sua Epístola aos Gálatas, no capítulo 6, versículo 7 disse que aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Se o jogador da vida der amor, receberá amor. Se der ódio, receberá ódio. Se criticar será criticado e se mentir, ouvirá mentiras de volta.
No jogo da vida aprendemos que nossa faculdade de imaginação desempenha um papel importante onde poderemos fazer um gol ou um pênalti. Bem por isso precisamos ter muito cuidado com tudo aquilo que imaginamos, pois, mais cedo ou mais tarde se expressará na partida de nossa vida. Para jogar com êxito é preciso educar nossa faculdade imaginativa. Se imaginarmos somente o bem, como o amor, saúde, riqueza, amigos, tranquilidade é isso que teremos em nossos dias.
A imaginação foi apelidada por alguns filósofos de tesoura da mente , uma vez que está sempre cortando, cortando, cortando dia e noite as figuras que vemos nela e que serão mais cedo ou mais tarde estampadas e encontradas no mundo de nossas criações. Precisamos, pois, adquirir conhecimentos de nossas mentes, conforme ensinado através dos séculos, ou seja, “conhece-te a ti mesmo”. Enquanto não te conheceres internamente, meu Irmão, no jogo da vida só conseguirás bater a bola na trave.
É importante que também se anote que as palavras representam um importante papel no jogo de nossas vidas. Por nossas palavras seremos justificados e por nossas palavras seremos condenados. Quantos indivíduos produziram desastres em sua existência por terem proferido palavras vãs. Ora, a mente subconsciente não tem sentido humorístico e as pessoas acostumadas a fazerem gracinhas sobre si mesmas acabarão por atrair experiências desagradáveis. Se possuímos poder para abençoar e multiplicar, amar e prosperar porque faremos o contrário?
Precisamos prestar atenção em nossas ideias intuitivas. A intuição é um ensinamento recebido de nosso Eu Interior, é uma voz interna que nos dá conselhos. Nunca despreze, pois, a intuição. 
Jesus ensinou que tudo aquilo que pedimos ao Pai será atendido, basta manifestar nosso desejo. Assim, torna-se necessária a manifestação de nosso desejo, de nossa fé ou de nossa palavra expressa. O primeiro movimento deve partir de nós. Mateus, no capítulo 7, versículo 7 assim escreveu em seu Evangelho: “Pedi e vos será dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-á”. Todo desejo, manifestado ou não, é uma prece que será atendida se arrancarmos de nossa consciência o medo. O medo é o único inimigo que temos, senão vejamos: o medo do fracasso, da doença, da pobreza, da solidão e assim por diante.
Urge que arranquemos o medo de nossa consciência. Jesus perguntou: Por que temeis, homens de pouca fé? Assim, é chegada a hora de substituirmos o temor, pela fé. O que é o medo senão uma fé inversa? A fé no mal atrai o mal.
Quando fomos colocados no estádio para a realização do jogo da vida, a Inteligência Divina assim o fez para que abríssemos os olhos para os benefícios do bem e apagássemos as pinturas mentais do mal. Nossa mente subconsciente é uma serva fiel, bem por isso precisamos ter muito cuidado ao lhe dar ordens, pois, nossos pensamentos, desejos e palavras são gravados por ela com exatidão e com exatidão serão executados.
É esse o meu recado de hoje, irmão de minha alma. Desejo que na partida do jogo da vida consigas driblar com muita técnica, os pensamentos do medo e do mal e que marques muitos gols com as chuteiras do bem.

Com amor,
Irmão Y

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A Queixosa

Benvinda Fragoso tornara-se amplamente conhecida pelas suas queixas constantes. Quem a ouvisse na relação dos fatos comuns afirmaria, sem hesitar, que a infeliz arrematara todos os desgostos do mundo.Órfã de pai e mãe, vivia à custa de salário modesto, numa fábrica de toalhas, onde fora admitida por obséquio de amigos devotados. Todavia, se a existência era laboriosa, não faltavam recursos para torná-la melhor. Não se casara, mas dois sobrinhos inteligentes e generosos faziam-lhe companhia no ambiente doméstico. Os genitores não lhe deixaram haveres em espécie, mas sempre legaram à filha o patrimônio do lar, edificado ao preço de sublimes sacrifícios.
Benvinda rodeava-se de oportunidades benditas, mas não sabia aproveitá-las. Cristalizara-se nas queixas dolorosas, aniquilando as próprias energias. A mente enfermiça desfigurava as sugestões mais belas da vida diária.
– Sou profundamente infeliz – dizia a uma colega de trabalho –, vivo insulada, à maneira de animal sem dono, ao léu da sorte. Morrer seria para mim uma felicidade. Diz-se que o fim é sempre doloroso. Não será, porém, mais agradável alcançar o termo do caminho no seio de tantas sombras e surpresas angustiosas?
– Não digas isso, Benvinda – observava a companheira, com intimidade –, temos saúde, não nos falta trabalho, teus sobrinhos gostam de ti. Não nos sintamos desditosas, quando a oportunidade de serviço continua em nossas mãos.
Mal-humorada – explodia a queixosa, exasperada:
– Que dizes? a existência esmaga-me e desde a infância há sido para mim pesada carga de sofrimentos. Referes-te aos sobrinhos, e que significam eles em meu caminho senão agravo de preocupações? O mundo é cárcere tenebroso, inferno terrível, onde somos convocados a ranger dentes.
Calava-se a colega, ante o transbordamento de revolta insensata.
Na estação do frio, aferrava-se Benvinda em lamentações amargosas; no verão, acusava a Natureza, declarava-se incapaz de tolerar o calor ; e, se chovia, amaldiçoava as nuvens generosas.
Dispondo de muitas horas no ambiente doméstico, a infeliz nunca soube valorizar o santo aconchego das paredes acolhedoras, onde os pais carinhosos lhe haviam dado o beijo da vida.
Enquanto os sobrinhos, quase crianças, permaneciam no trabalho, Benvinda recorria às vizinhas e, mãos cruzadas em sinal de preguiça, continuava incorrigível:
– Ah! Dona Guilhermina, a vida vai-se tornando insuportável. Este mundo resume-se em miséria e desengano. Até quando serei humilhada e perseguida pela má sorte?
– Oh! minha filha! – respondia a interpelada, fixando gestos de mãe compadecida, por ocultar a verdadeira expressão da personalidade habituada à maledicência – Deus é bom Pai. Não desanime. Tenhamos confiança na Providência. Tudo passa neste mundo. A fé pode transformar nossas dificuldades em motivos de vitória e alegria.
– Fé? – replicava Benvinda, exaltada – estou descrente das orações. Deus nunca me atende. Quando sonhava, há dez anos, a organização de um lar que fosse somente meu, rezei pedindo a proteção do Céu e meu noivo desapareceu para desposar outra jovem, mais tarde, longe de mim. Quando meu pai se decidiu à operação, supliquei à Providência lhe poupasse a vida, atendendo a que eu era órfã de mãe, desde os mais tenros anos, e sobreveio a infecção que o levou à sepultura. Quando minha única irmã adoeceu, recorri de novo à confiança no Poder Celestial e Priscila morreu, deixando-me os filhos por criar, através de obstáculos numerosos. Como vê a senhora, minha crença não poderia resistir a choques tamanhos. Estou sozinha, abandonada ; sou o cão anônimo, desprezado em desvãos do caminho.
Mas, como a assistência espiritual da Esfera Superior se vale de todos os meios para socorrer ignorantes e infelizes, a vizinha, não obstante a má-fé, constituía-se em instrumento de consolação ao bafejo de amigos desvelados do Plano Superior e replicava:
– Entretanto, quem sabe todas as desilusões não resultaram em beneficio? O noivo, que a enchia de esperança, talvez a envenenasse de desesperação, mais tarde; o genitor teria evitado a operação cirúrgica, mas possivelmente se tornaria dementado, percorrendo hospícios ou convertendo-se em palhaço da via pública; a irmã ter-se-ia curado da pneumonia, mas, viúva muito jovem, talvez lhe amargurasse o coração fraterno, cedendo a sugestões inferiores no caminho da vida.
Em vez de ponderar as observações amigas, Benvinda retrucava:
– Não me conformo: para mim a vida se resume no drama pungente que aniquila o espírito, ou na comédia que revolta o coração.
A palestra continuava, pontilhada de lamentos e acusações gratuitas ao mundo, até que os rapazelhos chamavam à porta. A tia, que perdera tempo em lamúria improdutiva, aproximava-se do fogão, apressada.
– Esta vida não me serve! – dizia em voz alta, amedrontando os jovens – até quando serei escrava dos outros, capacho do Destino? Maldita a hora em que nasci para ser tão desgraçada.
Os sobrinhos miravam-na entristecidos.
– Quando conseguirmos melhor remuneração, titia – exclamava um deles, bondosamente –, havemos de auxiliá-la, retirando-a da fábrica. Não é a senhora nossa verdadeira mãe pelo espírito?
Benvinda, no entanto, longe de comover-se com a observação carinhosa, multiplicava as impertinências.
– Não creio em ninguém – bradava de cenho carregado –, quando vocês puderem, deixar-me-ão na primeira esquina. Não pensam senão em diversões e más companhias. Crêem que resolverão meus problemas com promessas?
Observando-lhe a feição neurastênica, os rapazes esperavam a refeição, sisudamente calados. Terminada esta, regressavam naturalmente à rua. O ambiente doméstico pesava. A lamentação viciosa é força destrutiva.
Benvinda não reparava que as amizades mais íntimas a deixavam sozinha no circulo das queixas injustificadas. Ninguém estava disposto a ouvir-lhe as blasfêmias e críticas impiedosas. As colegas de serviço evitavam-lhe a palestra desanimadora. As vizinhas refugiavam-se em casa ao vê-la em disponibilidade no quintal invadido de ervas rústicas. Os sobrinhos toleravam-na, desenvolvendo imenso esforço. Nesse insulamento, a infeliz piorava sempre. Começou a queixar-se amargamente do serviço e a acusar a administração da fábrica. Enquanto sua atitude se limitava a circulo reduzido, nada aconteceu de extraordinário; todavia, quando resolveu dirigir-se ao gerente para reclamações descabidas, recebeu a ordem inflexível de demissão.
Enclausurada no desespero, não tinha percepção das oportunidades que se desdobram no caminho de todas as criaturas, nem compreendia que não era a única pessoa a lutar no mundo. Crendo-se mártir, agravou a ociosidade mental e foi relegada a plano de absoluto isolamento.
Nem amigos, nem trabalho, nem colegas, nem sobrinhos.
Tudo fugiu, evitando-lhe a atmosfera de padecimento voluntário.
Depois de perder a casa, em venda desvantajosa, a fim de obter recurso à manutenção própria, passou ao terreno da mendicância sórdida.
Foi nessa situação escabrosa que a morte do corpo a compeliu a novos testemunhos.
Desencantada e abatida, acordou na vida real em solidão mais dolorosa. Ninguém a esperava no pórtico de revelações do Além-túmulo. Estava só, sem mão amiga.
E os sofrimentos de que se julgara vítima na Terra?
Não esperava convertê-los em títulos de ventura celestial? Descrera da Providência no mundo, entretanto, no íntimo, sempre acreditara que haveria glorioso lugar para os desventurados e famintos da experiência humana. Depois de longo tempo, em que se multiplicavam provas ásperas, rogou ao Espírito de sua mãe que a esclarecesse na paisagem nova. Tinha sede de explicações, ânsias de paz e fome de entendimento.
Depois da súplica formulada com lágrimas angustiosas, sentiu a aproximação da desvelada genitora.
– Benvinda – murmurou a terna mensageira, carinhosamente –, não te dirijas a Nosso Pai lamentando o aprendizado em que te encontras. Toda queixa viciosa, minha filha, converte-se em crítica injusta à Providência. Estás convicta de que sofreste na Terra; entretanto, a verdade é que envenenaste os poços da Divina Misericórdia. Fugiste às ocasiões de trabalho, desfiguraste o quadro sublime de realizações que te aguardavam a boa-vontade nas estradas da luta humana. Hoje aprendes que a lamentação é energia que dissolve o caráter e opera o insulamento da criatura. Não conseguiste afeições em ninguém, não soubeste conquistar a gratidão das criaturas, nem mesmo das coisas mais ínfimas do caminho. Sofre, minha filha! A dor de agora é tua criação exclusiva. Não imputes a Deus falhas que se verificaram por ti mesma.
– Oh! minha mãe! – suplicou a infeliz – não poderei, porém, voltar e aprender novamente no mundo?
– Mais tarde. Por agora, para que alcances alguma tranqüilidade, incorporar-te-ás à extensa falange espiritual que auxilia os rebeldes e inconformados da luta humana. Reduziste a existência a montão de queixas angustiosas, sem razão de ser. Trabalharás agora, em espírito, ao lado daqueles que se fecham na teimosia quase impenetrável, a fim de compreenderes o trabalho perdido...
E a queixosa trabalha até agora, para abrir consciências endurecidas à compreensão das bênçãos divinas.
É por isso que muitos homens, em momentos de repouso, são por vezes assaltados de idéias súbitas de trabalhos inesperados. Criaturas e coisas enchem-lhes a visão interna, requisitando atividade mais intensa. É que por aí, ao redor da mente em descanso, começam a operar os irmãos de Benvinda, a fim de que a preguiça não lhes aniquile a oportunidade, qual aconteceu a eles mesmos.

 Humberto de Campos-Francisco Cândido Xavier