quarta-feira, 13 de julho de 2011

A benção do esquecimento

Um dos postulados básicos do espiritismo é o da pluralidade das existências ou reencarnação.
 A evolução dos espíritos exige inúmeras existências para aperfeiçoar-se.
 Todos são criados simples e ignorantes, mas seu destino é tornarem-se anjos.
 A magnitude da meta evidencia a impossibilidade de ser alcançada no curto espaço de uma vida terrena.
 Um questionamento freqüentemente levantado a essa idéia refere-se ao esquecimento das existências passadas.
 Afirma-se que esse olvido é contraproducente.
 Se já vivemos muitas vezes na terra, por que não nos lembramos?
 Segundo alguns, a lembrança auxiliaria a não repetir os equívocos do passado.
 Também serviria de incentivo à adoção de um patamar nobre de conduta.
 Afinal, seria possível correlacionar as dores atuais a específicos erros de outrora.
 Conseqüentemente, as criaturas teriam interesse em agir com dignidade.
 A crítica parece sedutora, mas não resiste a uma análise criteriosa.
 Tenha-se em mente que o esquecimento constitui a regra geral.
 Raras pessoas têm, naturalmente, a lembrança de seu agir em outras existências.
 A sabedoria divina certamente possui razões para assim estabelecer.
 Convém recordar que a lei do progresso rege a vida.
 Toda a criação está em permanente processo de evolução e metamorfose.
 Na conformidade dessa lei, os espíritos não retroagem em suas conquistas.
 As posições sociais mudam constantemente, mas ninguém é hoje pior do que já foi um dia.
 As conquistas morais e intelectuais dos espíritos jamais são perdidas.
 Assim, cada homem hoje se encontra no auge de seu processo evolutivo.
 Ninguém nunca foi no passado mais bondoso ou nobre do que é agora.
 Ocorre que a maioria absoluta da humanidade possui atualmente inúmeras mazelas morais.
 Isso evidencia que o passado dos homens, em geral, não é repleto de nobres e belas ações.
 Nesse contexto, o esquecimento das encarnações pretéritas constitui uma bênção.
 No âmbito de uma única existência, quantas vezes a criatura deseja esquecer seus equívocos?
 Não é fácil conviver com a lembrança de atos levianos.
 Inúmeros relacionamentos periclitam pela dificuldade dos seres humanos relevarem os erros recíprocos.
 E na verdade os erros são inerentes ao processo de aprender.
 Não é possível sair da mais completa ignorância e transitar para a angelitude sem cometer equívocos nesse gigantesco caminhar.
 Para propiciar os acertos necessários, a divindade permite o esquecimento do viver pretérito.
 O que se viveu persiste na forma de intuições e tendências, simpatias e antipatias, facilidades e dificuldades.A
 Muitas vezes, o inimigo de ontem renasce na condição de um filho.
 O esquecimento permite a transformação da mágoa em amor.
 Ante o rostinho rosado e o olhar ingênuo de uma criança, torna-se possível amar a quem ontem odiávamos.
 Quem outrora nos incomodava hoje nos auxilia na figura de um amigo ou irmão.
Sob a bênção do esquecimento, refundem-se as emoções e elos fraternos se estabelecem.
 Assim, não é relevante lembrar o passado.
 O importante é viver bem o presente.

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