quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Desdobramento- Tirando dúvidas!

O que é desdobramento?

Durante o sono o Espírito desprende-se do corpo; devido aos laços fluídicos estarem mais tênues. A noite é um longo período em que está livre para agir noutro plano de existência. Porém, variam os graus de desprendimento e lucidez. Nem todos se afastam do seu corpo, mas permanecem no ambiente doméstico; temem fazê-lo, sentir-se-iam constrangidos num meio estranho (aparentemente).
Outros movimentam-se no plano espiritual, mas suas atividades e compressões dependem do nível de elevação. O princípio que rege a permanência fora do corpo é o da afinidade moral, expressa, conforme a explanação anterior, por meio da afinidade vibratória ou sintonia.
O espírito será atraído para regiões e companhias que estejam harmonizadas e sintonizadas com ele através das ações, pensamentos, instruções, desejos e intenções, ou seja, impulsos predominantes. Podendo assim, subir mais ou se degradar mais.
O lúbrico terá entrevistas eróticas de todos os tipos, o avarento tratará de negócios grandiosos (materiais) e rendosos usando a astúcia. A esposa queixosa encontrará conselhos contra o seu marido, e assim por diante. Amigos se encontram para conversas edificantes, inimigos entram em luta, aprendizes farão cursos, cooperadores trabalharão nos campos prediletos, e, assim, caminhamos.
Para esta maravilhosa doutrina, conforme tais considerações, o sonho é a recordação de uma parte da atividade que o espírito desempenhou durante a libertação permitida pelo sono. Segundo Carlos Toledo Rizzini, interpretação freudiana encara o sonho como apontando para o passado, revelando um aspecto da personalidade.
Para o Espiritismo, o sonho também satisfaz impulsos e é uma expressão do estilo de vida, com uma grande diferença: a de não se processar só no plano mental, mas ser uma experiência genuína do espírito que se passa num mundo real e com situações concretas.

Como vimos, o espírito, livre temporariamente dos laços orgânicos, empreende atividades noturnas que poderão se caracterizar apenas por satisfação de baixos impulsos, como também, trabalhar e aprender muito. Nesta experiência fora do corpo, na oportunidade do desprendimento através do sono, o ser, poderá ver com clareza a finalidade de sua existência atual, lembrar-se do passado, entrevê o futuro, todavia a amplitude ou não dessas possibilidades é relativa ao grau de evolução do espírito.

Preparação para o Sono

Verificando o lado físico da questão, vamos ver a importância do sono, pelo fato de passarmos 1/3 de nosso dia dormindo, nesta atividade o corpo físico repousa e liberta toxinas. Para o lado espiritual, o espírito liga-se com os seus amigos e intercambia informações, e experiências.

Façamos um preparo para o nosso repouso diário:

Orgânico – refeições leves, higiene, respiração moderada, trabalho moderado, condução de nosso corpo quanto a postura sem extravagâncias.

Mental Espiritual – leituras edificantes, conversas salutares, meditação, oração, serenidade, perdão, bons pensamentos.

Todavia não nos esqueçamos que toda prece se fortifica com atos voltados ao bem, pois então, atividades altruístas possibilitam uma melhor afinidade com os bons espíritos.

Desdobramento

É o nome que se dá o fenômeno de exteriorização do corpo espiritual ou perispírito.
O perispírito ainda ligado ao corpo, distancia-se do mesmo, fazendo agora parte do mundo espiritual, ainda que esteja ligado ao corpo por fios fluídicos. Fenômenos estes, naturais que repousam sobre as propriedades do perispírito, sua capacidade de exteriorizar-se, irradiar-se, sobre suas propriedades depois da morte que se aplicam ao perispírito dos vivos (encarnados).

Os laços que unem o perispírito ao corpo temporal, afrouxam-se por assim dizer, facultando ao espírito manter-se em relativa distancia, porém, não desligado de seu corpo. E esta ligação, permite ao espírito tomar conhecimento do que se passa com o seu corpo e retornar instantaneamente se algo acontecer. O corpo por sua vez, fica com suas funções reduzidas, pois dele foram distanciados os fluidos perispirituais, permanecendo somente o necessário para sua manutenção. Este estado em que fica o corpo no momento do desdobramento, também depende do grau de desdobramento que aconteça.

Os desdobramentos podem ser:

- Conscientes: Este, caracteriza-se pela lembrança exata do ocorrido, quando ao retornar ao corpo o ser recorda-se dos fatos e atividades por ele desempenhadas no ato do desdobramento. O sujeito é capaz de ver o seu “Duplo”, bem próximo, ou seja, de ver a ele mesmo no momento exato em que se inicia o desdobramento. Facilmente nestes casos, sente-se levantando geralmente a cabeça primeiramente e o restante do corpo, depois. Alguns flutuam e vêem o corpo carnal abaixo deitado, outros vêem-se ao lado dos corpos, todavia esta recordação é bastante profunda e a consciência e altamente límpida neste instante. Existe uma ligação ainda profunda dos fluidos perispirituais entre o corpo e o perispírito, facilitando assim, as recordações pós-desdobramento.

- Inconscientes: Ao retornar o ser de nada recorda-se. Temos que nos lembrar que na maioria das vezes a atividade que desempenha o ser no momento desdobrado, fica como experiências para o próprio ser como espírito, sendo lembrado em alguns momentos para o despertar de algumas dificuldades e vêem como intuições, idéias.

Os fluidos perispirituais são neste caso bem mais tênues e a dificuldade de recordação imediata fica um pouco mais árdua, todavia as informações e as experiências ficam armazenadas na memória perispiritual, vindo a tona futuramente.

Em realidade a palavra inconsciente, é colocada por deficiência de linguagem, pois, inconsciência não existe, tendo em vista o despertar do espírito, levando consigo todas as experiências efetivadas pelo mesmo, então colocamos a palavra inconsciente aqui, é somente para atestarmos a temporária inconsciência do ser enquanto encarnado.
-Voluntários: Se a própria pessoa promove este distanciamento. Analisemos algo bastante singular, nem todos os desdobramentos voluntários há consciência, pois como dissemos acima poderão haver algumas lembranças do ocorrido, existem ainda muitas dificuldades, no momento em que o espírito através de seu perispírito aproxima-se novamente de seu corpo, pela densidade ainda dos órgãos cerebrais é possível haver bloqueio dessas experiências. É necessário salientar que o ser encarnado na terra, ainda se encontra distante de controlar todos os seus potenciais, e por isso também há este esquecimento. Haja vista, algumas pessoas até provocarem o desdobramento e no momento de consciência terem medo e retornarem ao corpo apressadamente, dificultando ainda mais a recordação.

Os desdobramentos podem também ocorrer nos momentos de reflexões, onde nos encontramos analisando profundamente nossos atos e cuja atividade nos propicia encontrar com seres que nos querem orientar para o bem, parte de nosso perispírito expande-se e vai captar as experiências e orientações devidas.

 -Pr
ovocados: Através de processos hipnóticos e magnéticos  - Apometria: agentes desencarnados e encarnados podem propiciar o desdobramento do ser encarnado. Os bons Espíritos podem provocar o desdobramento ou auxiliá-los sempre com finalidades superiores. Mas espíritos obsessores também podem provocá-los para produzir efeitos malefícios. Afinizando-se com as deficiências morais dos desencarnados, propiciamos assim, uma maior facilidade para que os espíritos mal-feitores possam provocar o desligamento do corpo físico atraindo o ser encarnado para suas experiências fora do corpo. A lei que exerce esta dependência é a de afinidade.

- Emancipação Letárgica: Decorre da emancipação parcial do espírito, podendo ser causada por fatores físicos ou espirituais. Neste caso o corpo perde temporariamente a sensibilidade e o movimento, a pessoa nada sente, pois os fluidos perispiríticos estão muito tênues em relação a ligação com o corpo. O ser não vê o mundo exterior com os olhos físicos, torna-se por alguns instantes incapaz da vida consciente. Apesar da vitalidade do corpo continuar executando-se. Há flacidez geral dos membros. Se suspendermos um braço, ele ao ser solto cairá.

- Emancipação Cataléptica: Como acima, também resulta da emancipação parcial do espírito. Nela, existe a perda momentânea da sensibilidade, como na letargia, todavia existe uma rigidez dos membros. A inteligência pode se manifestar nestes casos. Difere da letárgica, por não envolver o corpo todo, podendo ser localizado numa parte do corpo, onde for menor o envolvimento dos fluidos perispirituais.

Por: Aluney Elferr Albuquerque Silva

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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Espíritos Protetores

Jehul, elevada entidade de uma das mais belas regiões da vida espiritual, foi chamado pelo caricioso apelo de um nobre mensageiro da Verdade e do Bem, que lhe falou nestes termos:
- Uma das almas a que te vens devotando particularmente, de há muitos séculos, vai agora ressurgir nas tarefas da reencarnação sobre a Terra. Seus destinos foram agravados de muito em virtude das quedas a que se condenou pela ausência de qualquer vigilância, mas o Senhor da Vida concedeu-lhe nova oportunidade de resgate e elevação.
Jehul sorriu e exclamou, denunciando sublimes esperanças:
- É Laio?
- Sim - replicou o generoso mentor -, ele mesmo, que noutras eras te foi tão amado na Etrúria. Atendendo às tuas rogativas, permite Jesus que lhe sejas o guardião desvelado, através de seus futuros caminhos. Ouve, Jehul! - serás seu companheiro constante e invisível, poderás inspirar-lhe pensamentos retificadores, cooperar em suas realizações proveitosas, auxiliando-o em nome de Deus; mas, não esqueças que tua tarefa é de guardar e proteger, nunca de arrebatar o coração do teu tutelado das experiências próprias, dentro do livre-arbítrio espiritual, a fim de que construa suas estradas para o Altíssimo com as próprias mãos.
Jehul agradeceu a dádiva, derramando lágrimas de reconhecimento.
Com que enlevo pensou nas possibilidades de conchegar ao seio aquele ser amado que, havia tanto tempo, se lhe perdera do caminho!... Laio lhe fora filho idolatrado na paisagem longínqua. É certo que não lhe compreendera a afeição, na recuada experiência. Desviara-se das sendas retas, quando ele mais esperava de sua mocidade e inteligência; seu coração carinhoso, porém, preferira ver no fato um incidente que o tempo se encarregaria de eliminar. Agora, tomá-lo-ia de novo nos braços fortes e o reconduziria à Casa de Deus. Suportaria, corajosamente, por ele, a pesada atmosfera dos fluidos materiais. Toleraria, de bom grado, os contrastes da Terra. Todos os sofrimentos eventuais seriam poucos, pois acabava de alcançar a oportunidade de erguer, dentre as dores humanas, um irmão muito amado, que fora se\! filho inesquecível.
O generoso amigo espiritual atravessou as paisagens maravilhosas que o separavam do ambiente terrestre. Ficaram para trás de seus passos os jardins suspensos, repletos de flores e de luz. As melodias das regiões venturosas distanciavam-se-lhe dos ouvidos.
Esperançoso, desassombrado, o solícito emissário penetrou a atmosfera terrestre e achou-se diante de um leito confortável, onde se identificava um recém-nascido pelo seu brando choramingar. Os Espíritos amigos, encarregados de velar pela transição daquele nascimento, entregaram-lhe o pequenino, que Jehul beijou, tomado de profunda emoção, apertando-o de encontro ao peito afetuoso.
E era de observar-se, daí em diante, o devotamento com que o guardião se empenhou na tarefa de amparar a débil criança. Sustentou, de instante a instante, o espírito maternal, solucionando, de maneira indireta, difíceis problemas orgânicos, para que não faltassem os recursos da paz aos primeiros tempos do inocentinho humano. E Jehul ensinou-lhe a soletrar as primeiras palavras, reajustando-lhe as possibilidades de usar novamente a linguagem terrestre. Velou-lhe os sonos, colocou-o a salvo das vibrações perniciosas do invisível, guiou-lhe os primeiros movimentos dos pés. O generoso protetor nada esqueceu, e foi com lágrimas de emoção que inspirou ao coração materno as necessidades da prece para a idolatrada criancinha. Depois das mãos postas para pronunciar o nome de Beus, o amigo desvelado acompanhou-a a escola, a fim de restituir-lhe, sob as bênçãos do Cristo, a luz do raciocínio.
Jehul não cabia em si de contentamento e esperança, quando Laio se abeirou da mocidade.
Então, a perspectiva dos sentimentos transformou-se.
De alma aflita, observou que o tutelado regressava aos mesmos erros de outros tempos, na recapitulação das experiências necessárias. Subtraía-se, agora, à vigilância afetuosa dos pais, inventava pretextos desconcertantes e, por mais que ouvisse as advertências preciosas e doces do mentor espiritual, no santuário da consciência, entregava-se, vencido, aos conselheiros de rua, caindo miseravelmente nas estações do vício.
Se Jehul lhe apontava o trabalho como recurso de elevação, Laio queria facilidades criminosas; se alvitrava providências da virtude, o fraco rapaz desejava dinheiro com que se desvencilhasse dos esforços indispensáveis e justos. Entre sacrifícios e dores ásperas, o prestimoso guardião viu-o gastar, em prazeres condenáveis, todas as economias do suor paternal, assistindo aos derradeiros instantes de sua mãe, que partia, da Terra, ferida pela ingratidão filial. Laio relegara todos os deveres santos ao abandono, entregando-se à ociosidade destruidora. Não obstante os cuidados do mentor carinhoso, procurou o álcool, o jogo e a sífilis, que lhe sitiaram a existência consagrada por ele ao desperdício. O dedicado amigo, entretanto, não desanimava.
Após o esgotamento dos recursos paternos, Jehul cooperou junto de companheiros prestigiosos, para que o tutelado alcançasse trabalho.
Embora contrafeito e subtraindo-se, quanto possível, ao cumprimento das obrigações, Laio tornou-se auxiliar de urna empresa honesta, que, às ocultas, era objeto de suas críticas escarnecedoras. Quem se habitua à ociosidade criminosa costuma caluniar os bens do espírito de serviço.
De nada valiam os conselhos do guardião, que lhe falava, solícito, nos quais profundos recessos do ser.
Daí a pouco tempo, menos por amor que por necessidade, Laio buscou uma companheira. Casou-se. Mas, no desregramento que se entregava de muito tempo, não encontrou matrimônio senão sensações efêmeras que terminavam em poucas semanas, como a potencialidade de um fósforo que se apaga em alguns segundos. Jehul, no entanto, alimentou a esperança de que talvez a união conjugal lhe proporcionasse oportunidade para ser convenientemente ou não. Isso, todavia, não aconteceu. O tutelado não sabia tratar a esposa senão entre desconfianças e atitudes violentas. Sua casa era uma seção do mundo inferior a que havia confiado seus ideais. Recebendo três filhinhos para o jardim do lar, muito cedo lhes inoculava no coração as sementes do vício, segregando-os num egoísmo cruel.
Quando viu o infeliz envenenando outras almas que chegavam pela bondade infinita de Deus para a santa oportunidade de serviços novos, Jehul sentiu-se desolado e, reconhecendo que não poderia prosseguir sozinho naquela tarefa, solicitou o socorro dos Anjos das Necessidades. Esses mensageiros de educação espiritual lhe atenderam atenciosamente aos rogos, começando por alijar o tutelado do emprego em que obtinha o pão cotidiano. Entretanto, em lugar de melhorar-se com a experiência buscando meditar como convinha, Laio internou-se por uma rede de mentiras, fazendo-se de vítima para recorrer às leis humanas e ferir as mãos de antigos benfeitores. Acusou pessoas inocentes, exigiu indenizações descabidas, tornou-se odioso aos amigos de outros tempos.
Jehul foi então mais longe, pedindo providências aos Anjos que se incumbem do Serviço das Moléstias úteis, os quais o auxiliaram de pronto, conduzindo Laio ao aposento da enfermidade reparadora, a fim de que o mísero pudesse refletir na indigência da condição humana e na generosa paternidade do Altíssimo; aquele homem rebelde, contudo, pareceu piorar cem por cento. Tornou-se irascível e insolente, abominava o nome de Deus, sujava a boca com inúmeras blasfêmias. Foram necessários verdadeiros prodígios de paciência para que Jehul lhe lavasse do cérebro esfogueado e caprichoso os propósitos de suicídio. Foi aí que, desalentado quanto aos recursos postos em prática, o bondoso guardião implorou os bons ofícios dos Anjos que se encarregam dos Trabalhos da Velhice Prematura. Os novos emissários rodearam Laio com atenção, amoleceram-lhe. as células orgânicas, subtraíram-lhe do rosto a expressão de firmeza e resistência, alvejaram-lhe os cab elos e enrugaram-lhe o semblante. No entanto, o infeliz não cedeu. Preferia ser criança ridícula nas aparências de um velho, a entrar em acordo com o programa da Sabedoria Divina, a favor de si mesmo.
Enquanto blasfemava, seu amigo orava e desdobrava esforços incessantes; enquanto praticava loucuras, o guardião duplicava sacrifícios e esperanças.
O tempo passava célere, mas, um dia, o Anjo da Morte veio espontaneamente ao grande duelo e falou com doçura:
- Jehul, chegou a ocasião da tua retirada!. . .
O generoso mentor abafou as lágrimas de angustiosa surpresa. Fixou o mensageiro com olhos doridos e súplices; o outro, no entanto, continuou:
- Não intercedas por mais tempo! Laio agora me pertence. Conduzi-lo-ei aos meus domínios, mas podes rogar a Deus que o teu tutelado recomece, mais tarde, outra vez...
Terminara a grande partida. A Morte decidira no feito, pelos seus poderes transformadores, enquanto o guardião recolhia, entre lágrimas, o tesouro de suas esperanças imortais. .
E, grafando esta história, lembro-me que quase todos os Espíritos encarnados têm algum traço do Laio, ao passo que todos os Espíritos protetores têm consigo os desvelos e os sacrifícios de Jehul.
 Humberto de Campos - Do livro: Reportagens do Além Túmulo: Francisco Cândido Xavier.
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terça-feira, 6 de setembro de 2016

A arte de ser Feliz

Caminhando pelos lindos bosques daqui, conheci Patrício. Olhar expressivo, atento ao mundo, caminhava firme em direção ao seu objetivo. Queria fazer parte de uma grande expedição de resgate. Achei loucura quando me revelou seus planos. Eu bem sabia como era uma expedição desta. Vivenciei uma como resgatada e sabia o quanto era difícil.
Tentei persuadi-lo. Comecei contando minha história, descrevendo com detalhes cada acontecimento desesperador aos meus olhos. Patrício, empolgado, vibrava a cada palavra. Podia ver nos seus olhos que descrevia o mundo que ele queria conhecer e viver. Mal podia acreditar no que via e floreava ainda mais a minha contação.
Nada que eu pudesse dizer o abalaria. Queria aquela vida mais que tudo. Fiquei curiosa quanto os seus motivos e o provoquei a ir a fundo em seus sonhos e planos. “O que deseja de verdade viver? ” “Não se preocupa com as intempéries que vivenciará” O que realmente sente quanto a tudo isso? ” Questionava, entrevistando-o.
Iniciou sua fala timidamente. Parecia não saber como começar. Incentivei-o, quase ordenando: “Inicie pelo começo”. Então, respirou fundou, cruzou as mãos sobre o colo e após uma longa e angustiante (para mim) pausa. Começou:
“Venho de um mundo diferente do seu. Aonde, feio e pobre, atravanquei-me na vida devido um milhão de dificuldades. E não pense que exagero. Vou explicar-lhe melhor. Nasci em uma família pobre após cinco irmãos. Sim, era o caçula. Limpei o tacho como dizem os antigos.
Minha mãe idosa (diferente da época, começou tarde no mundo materno) já não suportava grito e choro de criança. Vivia mal humorada, reclamando de tudo e todos e, principalmente, de mim que, para seu ver, era um pacote de trabalho e problemas.
Fruto de uma relação que nunca desejou, mas que foi obrigada a viver por causa da penúria que vivíamos. Deitou-se com um vizinho velho e asqueroso que possuía um pouco mais que nós. Sofreu do início ao fim desta relação e ao me ver diante de si lembrava-se de tudo de ruim que havia passado.
Meu pai nunca me fez um mínimo agrado. Orgulhava-se pela prole no fim da idade. Ganhar um filho naquela idade fazia-lhe forte e robusto na idade avançada que tinha, mas já não havia paciência para um garotinho na sua vida. Pegava-me ao colo para apresentar-me aos colegas do carteado e logo saltava-me nos braços daquela que a quem impunha uma vida sem graça e sem beleza, apenas obrigação e trabalho. Morreu anos depois. Eu tinha apenas cinco anos e já era órfão de pai e mãe viva. Mãe que me puxava para cá e empurrava-me para lá.
Meus irmãos, maiores um pouco, filhos de um pai amado que partiu deixando saudade, (pena não o ter conhecido) não se agradavam-me da minha companhia. Encardidinho, assim me chamavam. “Deixa de ser besta. Não tenta ser nosso irmão. Só nos traz mais lembranças. Teu pai era ruim para nós”. Só uma irmã olhava-me com carinho. Emprestava-me seu colo para descanso e compreensão.
Foi assim que cresci. Rejeitado em casa. Rejeitado na escola. Franzino e amarelado, feio de doer como me apontavam, nunca consegui ser aceito. Por mais que me esforçasse não conseguia fazer amigos e muitos menos aprender. Deficiente das ideias, como dizia meu irmão mais velho, mal sabia ler e escrever.
Adolescente e, depois, adulto jovem escorraçado. Tímido, sem coragem, encolhendo-me aonde chegava, atraia olhares de crítica e piedade. Não conseguia achar um emprego digno e costumava ser enxovalhado pelos colegas de trabalho. Assim vivi até chegar por aqui, vítima de um acidente de trabalho. Uma caldeira explodiu, levando-me a vida.
Acordei no hospital. Clamando por ajuda. Não me dei conta que já estava em outra vida. Soube depois, que fui resgatado no momento da minha morte e trazido para cuidados, despertando três dias depois”.
Sua história deixou-me impressionada! Como o resgate e o cuidado poderiam ser tão rápidos? Ouvi muitas outras histórias. A maioria dolorosas, levando dias e até anos de internação e muito mais tempo ainda para o resgate. Quis saber mais.
“Deve estar impressionada! Também fiquei ao ouvir tantos outros relatos durante as minhas caminhadas pelos leitos do hospital. A minha história era completamente distinta da maioria. E diferente da vida material, por aqui, eu era acolhido e escutado. Pareciam não se importar como eu era, com o pouco que tinha ou com a minha debilidade. Faziam questão da minha presença.
João Francisco, meu cuidador apresentou-me a mim mesmo e surpreendi-me. Relatou que planejei aquela vida com afinco e não me atrapalhei em nenhum detalhe de sua execução. Decidi retornar a vida de uma forma difícil para aperfeiçoar-me. E agora estava ali, diferente do que fôra".

Madalena

20.09.2015
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Pensamentos

Sempre que lhe vier um pensamento negativo ou uma emoção ruim, imediatamente pare e diga "isso não é meu". Caso o pensamento ou a emoção ruim prossiga, diga outra vez: "isso não é meu". Vá repetindo até ver que não estão mais lhe incomodando. É assim que vamos educando nossa mente e nossa mediunidade. Não aceite nada ruim em sua vida, mesmo que sejam pensamentos. Pensamentos geram sentimentos que, por sua vez, geram atitudes e por aí vai. Toda vez que você dá força a pensamentos de derrota, doença, pobreza, falta e medo, estará também dando força ao mal e permitindo que ele entre sua vida. O pior mal não é aquele que fazemos aos outros, mas o que fazemos a nós mesmos. Faça o propósito de evitar tudo que for ruim. Não permita que coisas ou pessoas negativas estraguem seu dia ou permaneçam em sua vida. Escolha sempre o bem. Esse é o caminho do sucesso e da paz.

Mauricio de Castro-escritor e médium

sábado, 3 de setembro de 2016

A Resposta de Enéas

Enquanto se esperava o médium Palhares, o velho Azevedo Cruz, doutrinador das sessões, confiava o bigode longo, comentando mordaz:
— Não reparam a ausência do Guilhermino? Desde muito tempo, não comparece.
— Que terá acontecido? — indagou D. Amália, piscando os olhos.
— Não sabem? — tornou o orientador do grupo — o nosso amigo caiu fragorosamente. Não sai do pano verde, nem se afasta do mau caminho.
— Que diz? interrogou Dona Margarida, fisgando o interlocutor por cima dos óculos — o Guilhermino desviou-se tanto? será possível?
— Ora, ora — aventurou uma senhora na turma, sussurrando —, a esposa dele é uma infortunada. Guilhermino é bastante pervertido para entender o que sejam obrigações do lar.
Azevedo, olhar transbordante de malícia, acrescentou:
— Nunca me enganou o patife. Velho malandro, o Guilhermino! Simples lobo na pele de ovelha. Conheço-lhe as patranhas, desde o primeiro dia em que me buscou, pedindo socorro.
E a conduta do ausente foi ali examinada, minúcia por minúcia.
Chamavam-lhe irmão de quando em quando, classificando-o de velhaco, alguns instantes depois.
Quando a pequena assembléia apareceu desinteressada, alguém recordou que Palhares estava demorando. Bastou isso para que se concentrasse a atenção geral do retardatário.

Após verificar que ninguém se encontrava à escuta nas vizinhanças, a Senhora Fagundes começou:
— Nosso médium já não é mais o mesmo... Nunca chega à hora, nada recebe de útil nas sessões e vive sempre desapontado...
— Não sabe o que vem acontecendo? — perguntou uma companheira irrequieta — Palhares anda agora bebericando... Por três vezes, senti-lhe pronunciado cheiro de vinho. Como poderá ele, desse modo, receber mensagens elevadas? Quando o médium esquece a responsabilidade própria, tudo vai por água abaixo...
O doutrinador fixou um gesto de puritano e considerou:
— Enquanto permanece ele no bar, demoramos aqui, aguardando reuniões improdutivas.
Palhares, presentemente, é um fracasso. Estou cansado de orar e rogar inutilmente...
Decorridos alguns instantes, entra a vítima, identificando sorrisos acolhedores.
Modifica-se a conversação.
Ao passo que o companheiro relaciona os atropelos havidos no lar, comenta-se a laboriosa missão dos médiuns. A maledicência de minutos antes converte-se em observações de suposto entendimento fraternal.
Palhares chega a sentir-se reconfortado e feliz.
Reúne-se à assembléia, em derredor da mesa.
Azevedo ora longamente, rogando a presença de Enéias, o sábio mentor dos trabalhos espirituais.
Silêncio profundo.
Enéias, contudo, não aparece.
Encerrada a sessão, os companheiros fixam o médium, quase irritados, como se fora ele exclusivamente o responsável pela ausência de comunicações com o plano superior.
Azevedo não consegue sopitar os pensamentos íntimos e exclama:
— Não posso compreender. Há mais de oito meses, estamos como que abandonados. Ora-se com fervor, pedimos humildemente; entretanto, Enéias não responde aos nossos apelos.
Todos concordam desapontados.
Na semana seguinte, reúnem-se de novo.
Nessa noite, Palhares está a postos, na hora convencional, mas espera-se pelo velho Azevedo.
Dona Amália, depois de comentar as desilusões sofridas com os vizinhos, afirmando-se perseguida de Espíritos das trevas, começa a tagarelice venenosa da noite. Baixando o tom de voz, sussurrou:
— Disseram-me no bairro que “seu” Azevedo não está procedendo como quem reconhece os deveres próprios. Meu primo afirmou que estamos redondamente enganados, que o nosso doutrinador perdeu o juízo, logo após a viuvez. Notificou-me, confidencialmente, tê-lo encontrado, por mais de uma vez, em situação equívoca, desfazendo talvez a felicidade de um lar honesto.
Palhares inclinou-se, esboçou um sorriso brejeiro e acentuou:
— Não costumo comentar os defeitos dos outros e, mormente, em se tratando dum irmão na fé; sempre estimei o silêncio da verdadeira caridade, mas, aqui para nós, a situação é de fato alarmante. Há no episódio muita coisa a lamentar. Inspira pena o companheiro infeliz.
E como o velho Arantes provocasse uma informação sólida, para conhecer a procedência da acusação, o médium deu de ombros e respondeu:
— Pelo menos é o que me disse um colega da repartição.
— Absurdo! — bradou o Sr. Siqueira, exasperado — onde chegaremos com semelhantes disparates? Azevedo não passa de miserável hipócrita.
Continuavam a operar as línguas venenosas, quando o companheiro penetrou o recinto.
Efusivas e calorosas saudações.
Nem parecia que se comentava tão escabroso assunto.
Durante meses a fio, a situação do grupo mantinha-se inalterada.
Acusavam-se as outras escolas religiosas, apontavam-se os infelizes que a provação atirava ao escárnio público, discutia-se a posição de lares alheios. E, quando faltavam indivíduos para o pasto da maledicência, maldiziam as instituições da época, criticavam os homens de responsabilidades do tempo, duvidavam de todos, espalhando-se leviandades e estabelecendo contradições.
Antes das preces de abertura, era necessário retirar os cinzeiros pletóricos, abrindo-se janelas para melhorar as condições do ambiente.
Decorrido mais de um ano, que se caracterizara pela excessiva conversação dos encarnados, com absoluto silêncio da esfera invisível, Azevedo se revelou, certa noite, mais preocupado e mais emotivo.
Estabelecido o círculo de companheiros, o velho doutrinador começou a orar, sentidamente, entre lágrimas.
Salientava o tempo de doloroso mutismo dos mentores espirituais, rogava esclarecimentos, pedia socorro, implorando auxílio dos protetores benevolentes. Lamentando a ausência de Enéias, o generoso orientador invisível que tantas vezes se manifestara noutros tempos, o chefe do grupo terminava a súplica:
— Oh! bem-amados amigos da esfera superior, não nos abandoneis... Se estamos em caminho errado, esclarecei-nos! por que permaneceis distantes há tanto tempo?! Por quem sois, atendei-nos! Ouvi as nossas rogativas, reaproximai-vos de nós, por amor de Deus!...
A essa altura, o pranto embargou-lhe a voz.
A pequena assembléia chorava também, igualmente comovida.
Quando a meditação séria empolgou a maioria dos corações, incorporou-se Enéias, valendose de Palhares, e exclamou para todos, pronunciando cada expressão em tom enérgico e amigo:
— Hoje, não iniciamos a palavra espiritual, rogando ao Senhor vos conceda paz e, sim, pedindo-vos, com interesse, guardeis a paz que o Senhor já nos concedeu. Vossa prece comoveu-nos a alma; entretanto, estais equivocados. Nunca estivemos ausentes do trabalho nobre. Aqui nos conservamos invariavelmente no cumprimento do dever, que é fonte de alegrias. Há mais de um ano, porém, utilizais todo o tempo no comentário venenoso e cruel.
Quando não criticais as nações, as coletividades, os lares e as reputações alheias, costumai ferir-vos uns aos outros. Como vedes, meus irmãos, estamos a esperar por vós, que tanto vos distanciastes da obrigação justa. Recordai que é necessário empregar o verbo, no sentido da criação superior. Falai, construindo com a vossa palavra algo de útil para a vida eterna. Não temos, por enquanto, outra mensagem. Quando terminardes as sessões de maledicência, estaremos prontos a iniciar convosco a sessão de Espiritismo construtivo e de Evangelho redentor.
Daí a momentos, a reunião estava finda e, naquela noite, todos se retiraram do recinto, em silêncio.

 Irmão X. Do livro: Pontos e Contos: Francisco Cândido Xavier

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Por que uma pessoa é assassinada?

"Perdi meu único filho em outubro do ano passado e jamais me conformei com sua morte. Ele era bom, honesto, um verdadeiro homem de bem, mas foi cruelmente assassinado por engano. Tudo já ficou provado. Quem deveria morrer era outra pessoa, mas por engano levaram meu filho. Por que uma coisa hedionda dessas é permitida por Deus? Estou descrente. (P. Freitas - RS)
É perfeitamente compreensível a sua descrença na Vida e em Deus. O que lhe aconteceu foi um golpe muito duro e praticamente todas as pessoas passariam a questionar a Justiça Divina e entrar na revolta, assim como você está agora. É muito fácil falar em compreensão, perdão e amor, quando estamos longe de situações dramáticas que desafiam nossa fé. Só experimentando é que vamos saber.
O fato de você ter me escrito, contudo, mostra que deseja voltar a acreditar em Deus e recuperar sua fé. Para isso você quer respostas.
Eu não sei dizer exatamente porque seu filho foi assassinado. O que posso afirmar com toda certeza é que as leis de Deus são sábias, justas, eternas e imutáveis. É por meio dessas leis que o Criador mantém a harmonia do universo, onde nada acontece por acaso ou de forma injusta. Para as leis da Vida tudo sempre está certo como está.
Você tem todo direito de duvidar, se revoltar e até deixar de acreditar em Deus, mas isso não mudará nada, não vai impedir que as leis continuem agindo, nem vai poder modificar a Vida que é mais forte e vence sempre, independente de suas crenças, de suas vontades e até da sua revolta e dor de mãe.
Os espíritos superiores nos ensinam que, em todo assassinato, há uma sintonia entre o criminoso e sua vítima. Como assim?
Essa sintonia pode, muitas vezes, estar em problemas mal resolvidos de vidas passadas, onde um não perdoou e o outro prosseguiu se culpando pelo que fez.
Você diz que seu filho era um homem de bem, o que eu não duvido, mas como era o seu mundo íntimo? Como ele enxergava a vida? Como lidava com seus problemas e frustrações? Será que ele não sofria de violência íntima?
A violência íntima acontece quando a pessoa teme o mal, se culpa pelo que fez ou pelo que deixou de fazer, quando não sabe dizer não na hora exata, quando se sacrifica demais pelas pessoas esquecendo de si mesmo ou quando carrega forte angústia emocional que não sabe de onde vem, mas que é fruto de uma culpa guardada no inconsciente, cujo fato não conseguiu superar nem se perdoar.
Uma pessoa que age assim entra em sintonia com aqueles que, no mundo, praticam a violência e se torna um ímã que atrai os violentos e a violência, que pode acontecer a qualquer momento.
Há casos em que as pessoas se entregam a um tipo de vida desregrada, envolve-se com pessoas de má índole, provoca confusão, é agressiva, desrespeitosa e invasiva. Isso também poderá atrair uma violência corretiva.
Mas quando a pessoa é do bem e ainda assim é assassinada, é preciso averiguar as causas que estão por trás, em acontecimentos de outras vidas e na personalidade íntima da pessoa.
É claro que quem mata, mesmo sendo atraído pela vítima, irá responder pelo que fez e criará uma dívida enorme com as leis divinas, dívida esta que terá que pagar mais cedo ou mais tarde pelo sofrimento, afim de aprender o sagrado direito de viver que cada um possui.
Depois, o espírito de uma pessoa assassinada sempre tem uma enorme lição a aprender. Se aceitar com mais passividade o que lhe aconteceu, poderá ser socorrido pelos amigos espirituais e levado para uma colônia de recuperação, onde aprenderá porque atraiu esse fato e mudará sua concepção de vida. Porém se não aceitar e se rebelar, poderá ir para o umbral ou voltar para a Terra em busca de justiça, colando-se a seu assassino, fazendo com que ele tenha sérios problemas.
Pense em seu filho e, em vez de perder a fé, comece a orar por ele. Você pode não saber porque Deus permitiu isso, mas pode entender que Deus é mais poderoso que qualquer assassino e se Ele não impediu o crime, foi porque era assim que precisava acontecer.
Qualquer um pode pegar uma arma e sair dizendo que vai matar, mas se Deus não permitir, se não estiver na Lei que essa pessoa morra pela violência, o assassino não conseguirá fazer nada. Temos muitos exemplos disso.
Acredite que Deus só faz o melhor e ore pelo seu filho para que, esteja onde estiver, possa encontrar entendimento e paz.
A revolta e a descrença só pioram as coisas.
Deus está no leme de tudo e nada acontece sem sua permissão. Entender isso é entrar a paz, recuperar a alegria de viver e ajudar àqueles que foram vítimas da violência.
Pense nisso com carinho.
Mauricio de Castro-escritor mediúnico

Efeito Borboleta

–… Acaso sou eu responsável por meu irmão?

Essa a resposta de Caim a Jeová, que o questionou sobre seu irmão Abel (Gênesis, 4:9). Disfarçava a própria culpa, porquanto o havia assassinado, cometendo o primeiro fratricídio da História.
Imagino que, diariamente, Deus, o Pai, de infinito amor e misericórdia revelado por Jesus, nos faz a mesma pergunta, na intimidade da consciência, a respeito de todos aqueles que cruzam nosso caminho. Certamente, não teremos, como Caim, cometido um fratricídio, mas dificilmente alguém deixará de ser enquadrado num "fraternicídio". É o assassinato da fraternidade, quando, ante as carências de nossos irmãos em Humanidade, nossa indiferença reproduz o questionamento negativo de Caim.
Ocorre, amigo leitor, que somos, sim, responsáveis por nossos irmãos, considerando a Lei de Solidariedade que rege a vida universal, e será inteligente de nossa parte assumir nossos compromissos perante o próximo, considerando o efeito borboleta.
Trata-se de uma teoria desenvolvida por Eduard Norton Lorenz, cientista americano, nos anos setenta, século passado, para explicar a dificuldade de uma previsão meteorológica a longo prazo, em face da insuficiência dos meios de observação, para detectar fenômenos isolados que podem produzir grandes efeitos atmosféricos. É como se o bater de asas de uma borboleta num hemisfério produzisse um furacão em outro.
Aplicando o efeito borboleta à vida social, consideremos a criança que nasce em miserável favela, pai desconhecido, mãe alcoólatra. Cresce sem orientação moral, sem estudo, sem assistência espiritual. Aos sete anos é um menino de rua, pedindo esmola. Aos dez torna-se um laranja, termo usado pelos traficantes para crianças que usam para a entrega de drogas. Aos doze aprende a usar armas de fogo. Aos quinze já matou várias pessoas, em assaltos. Aos dezoito mata um chefe de traficantes e assume seu lugar.
É a culminância de cruel efeito borboleta que começou no vagido desalentado de uma criança negligenciada e terminou com um inimigo da sociedade.
Ah! Se esse pequeno houvesse recebido amparo, orientação, encaminhamento! Ah! Se aquele homem soubesse que o menino mirradinho que bateu à sua porta, pedindo comida, era a borboleta que poderia gerar o furacão devastador, a levar sua tranquilidade, sua segurança, seus bens, e, talvez, sua vida ou de um familiar, certamente não se omitiria e faria todo o possível para movimentar-se e mobilizar a sociedade em favor das crianças carentes.
Há o outro lado. Se fosse concedida àquela criança a oportunidade de uma vida decente, digna, com encaminhamento adequado aos recursos comunitários, em favor de seu crescimento moral e espiritual, seria bem diferente. Poderia converter-se em alguém de proeminência social, a contribuir em favor do progresso e do bem-estar da sociedade. Dependendo de como é tratado, o efeito borboleta pode produzir terra arrasada ou campos verdejantes.
Um exemplo interessante diz respeito ao garoto que quase morreu afogado na piscina de sua rica residência. Foi salvo pelo filho do jardineiro. O dono da casa quis recompensá-lo. O serviçal respondeu que não se preocupasse. O filho apenas cumprira seu dever. Todavia, ante a insistência do patrão, informou que o sonho do menino, desde criança, era ser médico. Imediatamente foram tomadas as devidas providências e ele se formou médico.
Seu nome Alexandre Fleming, o descobridor da penicilina.
Foi a culminância de um maravilhoso efeito borboleta, que começou com um menino salvo do afogamento e terminou com a invenção dos antibióticos, que salvam milhões de vidas.
Lembra a parábola de Jesus (Mateus, 13:31-32):
O Reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é maior do que as hortaliças e se transforma em árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se aninham em seus ramos.

Richard Simonetti- escritor espírita