segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Missionários do Amor

 Quando se fala em missionário, a primeira imagem que nos acode à mente é a de um religioso devotado ao bem.     
   Alguém que dedique seus dias e noites, de forma integral, para o bem dos seus irmãos, para a Humanidade.
        No entanto, missionários existem de diversos portes. E alguns muito próximos de nós.
        Por vezes, pais amorosos que recebem nos braços filhos deficientes e os sustentam por toda uma vida, com seus cuidados e extremada ternura.
        De outras, amigos excepcionais que estendem mãos de veludo para aplacar as dores dos espinhos nas carnes alheias.
        Filhos dedicados que nascem para iluminar nossas vidas, à semelhança de astros luminíferos em nosso céu borrascoso.
        Recordamos de uma família que conhecemos. O segundo filho do casal nasceu portador de séria enfermidade que, a pouco e pouco, lhe foi retirando a mobilidade.
        Primeiro foi o andar impreciso, depois somente com amparo forte, até a imobilidade dos membros inferiores.
        Da dificuldade de coordenação motora à dependência total para as mínimas necessidades: beber um copo d'água, levar o alimento à boca.
        Enquanto o drama era vivido e sofrido pelos pais, a esposa engravidou pela terceira vez.
        O diagnóstico nada animador prescrevia um abortamento, dadas as complicações cardíacas da gestante, além da possibilidade do bebê ser portador de microcefalia.
        Estribado na fé, o casal aguardou o tempo. O bebê nasceu perfeito. Garoto feliz, demonstrou desde os primeiros momentos o quanto era grato por estar vivo.
        Mais de uma vez, deixava dos folguedos para correr ao pescoço da mãe, abraçá-la e dizer: Eu amo a minha vida, amo a minha casa, amo todos vocês.
        A nota mais interessante começou a ser observada quando o pequeno não tinha mais que ano e meio. Colocava-se em pé em sua cadeirinha e com cuidado ajudava colocar na boca do irmão deficiente a alimentação.
        Na sua linguagem infantil, pronunciava: Eu judo o mano. E na medida em que cresceu, a ajuda se tornou mais constante e efetiva.
        Hoje, quase aos sete anos, o pequeno é o guardião do seu irmão. Dormem no mesmo quarto, por insistência dele e, não são raras as madrugadas em que ele se levanta do leito, atravessa o corredor, se dirige ao quarto dos pais para pedir ajuda para o mano, que necessita alguma atenção maior.
        Nenhuma queixa, nenhuma reclamação. Deixa de brincar com os amigos para se dedicar ao irmão. Busca água, conduz a cadeira de rodas, joga vídeo-game, assiste filmes, comenta futebol.
        Dia desses, na sua inocência infantil, olhou para a mãe e lhe disse: Mãe, sabe por que eu nasci?- e, ante a surpresa da genitora, aduziu: Eu nasci para cuidar do mano.
        Missionários existem, sim, em nossos lares. Anônimos, ocultos, realizam sua tarefa.
        Missionário é todo aquele que se entrega em totalidade em tarefa de amor, na obscuridade da  estrada ou nos palcos da ciência, da filosofia ou da religião.
        Missionário é todo aquele que traz a consciência do seu dever de servir além e acima de qualquer circunstância.
        Movido pelo amor, é qual chama ardente que não se extingue. Sol de primeira grandeza que ilumina outras vidas, em barracos infectos ou em mansões suntuosas.
        Sua missão é amar e servir. Como a violeta escondida na ramagem do jardim, exala seu perfume e se esconde na capa humilde de servidor.
        Quem ama, coroa as horas de luz. Quem serve, adorna o coração de ventura imorredoura.
        Saiamos na direção do sol para servir.
Divaldo Pereira e Joana de Ângelis

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