Quando resolveu contar histórias para crianças em hospitais, como voluntário da associação Viva e deixe viver, aquele desembargador teve de superar a si mesmo.
No
dia escolhido para seu turno, na ala de queimados de um grande hospital
de São Paulo, ele colocou seu nariz de palhaço, ajeitou seu avental
colorido e enfrentou a forte visão das crianças com queimaduras.
Foi um grande choque. Porém, em poucos minutos, ele já estava solto.
Sabia que sua maneira de exercitar a compaixão ali era dar alegria a quem estava mergulhado no sofrimento.
O que ele não podia, naquele momento, era sentir dó, piedade, peninha. Por isso riu e arrancou muitos sorrisos, com as histórias que contou.
Foi um verdadeiro sucesso. Quando estava quase saindo, sentiu um puxão no seu avental. Era um menino de uns cinco anos, com o rosto quase totalmente envolto por bandagens e esparadrapos.
O garoto fez um sinal para o desembargador se inclinar e disse bem baixinho no seu ouvido: Tio, pode não parecer, mas eu estou rindo...
Aí não teve jeito, algo se desmanchouem seu coração. Percebeu que ele se tornou mais terno, mais terno, e perdeu um pouco sua carapaça habitual de dureza.
Como não preenchê-lo de amor por aquela criança vivendo condições tão difíceis?
O sentimento da compaixão é mesmo um transbordamento amoroso. Como as lágrimas, que rolam dos olhos por causa da emoção, ela transborda diretamente do coração, só que em direção ao mundo.
Quando sentimos pena, olhamos de cima para baixo, evitando o envolvimento com a situação ou com o outro.
Quando vivemos a compaixão, olhamos de lado, de dentro e nos sentimos responsáveis, comprometidos com o outro.
A
verdadeira compaixão tem por base o raciocínio de que todo ser humano
tem o desejo inato de ser feliz e de superar o sofrimento, exatamente
como nós.
E, exatamente como nós, o outro tem o direito de realizar essa aspiração fundamental.
O
filósofo André Comte Sponville esclarece que compartilhar o sofrimento
do outro não é aprová-lo nem compartilhar suas razões, boas ou más, para
sofrer.
É recusar-se a considerar um sofrimento, qualquer que seja, como um fato indiferente. E um ser vivo, qualquer que seja, como coisa.
Os
grandes missionários da Terra, aqueles que se dedicaram ao próximo de
forma intensa, foram grandes exemplos dessa compaixão, pois não cederam à
indiferença.
Não
suportaram ver o sofrimento alheio sem fazer nada a respeito e se
atiraram a tarefas grandiosas de abnegação e coragem pelo mundo.
A compaixão é dinâmica, atuante e vibrante.
Eis mais uma virtude que podemos aprender. Mais um tesouro escondido na alma que precisa ser descoberto.
Deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes.
Vossas
lágrimas são um bálsamo que lhes derramais nas feridas e, quando, por
bondosa simpatia, chegais a lhes proporcionar a esperança e a
resignação, que encanto não experimentais!
Redação do Momento Espírita, com base em matéria de autoria de Liane Alves, da revista Vida simples, de novembro de 2007
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