quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Revista Espirita 25 de maio de 1860

O que leva a perder muitos médiuns é o fato de se julgarem os únicos capazes de receber boas comunicações e desprezarem as dos outros. Julgam que são profetas, quando não passam de intérpretes de Espíritos astuciosos que os enlaçam em suas redes, persuadindo-os de que tudo quanto escrevem é sublime e não mais precisam de conselhos. A crença de certos médiuns na infalibilidade e na superioridade de suas comunicações é tal, que nelas tocar é quase uma profanação; delas duvidar é quase uma injúria; mais ainda: é até expor-se a deles fazer inimigos, porquanto mais valeria dizer a um poeta que os seus versos são maus. Esse sentimento, que tem por princípio evidente o orgulho, é alimentado pelos Espíritos que os assistem e que têm muito cuidado em lhes inspirar o afastamento de quem quer que os possa esclarecer. Só isto deveria ser suficiente para lhes abrir os olhos, caso não estivessem fascinados. Há um princípio, que ninguém poderia contestar: os Es
píritos bons só aconselham o bem. Portanto, tudo quanto não for o bem, no sentido absoluto, não pode provir de um Espírito bom. Consequentemente, todo conselho ditado, ou todo sentimento inspirado, que reflita o menor pensamento mau, é, por isso mesmo, de origem suspeita, sejam quais forem as qualidades ou a redundância do estilo.
Um sinal não menos característico dessa origem é a lisonja, de que os Espíritos maus são pródigos em relação a certos médiuns. A propósito, sabem exaltar os dotes físicos ou as qualidades morais, afagar as secretas inclinações, excitar a cobiça e a cupidez e, mesmo censurar o orgulho e aconselhar a humildade, agrilhoar-lhes a vaidade e o amor-próprio. Um dos meios que empregam consiste, sobretudo, em convencê-los de sua superioridade como médiuns, apresentando-os como apóstolos de missões, pelo menos duvidosas, e para as quais a primeira de todas as qualidades seria a humildade, unida à simplicidade e à caridade.
Fascinados pelo nome de seres venerados, dos quais se julgam intérpretes, não percebem as verdadeiras intenções dos falsos Espíritos, mau grado seu, porquanto seria impossível a Espíritos inferiores simular completamente todas as qualidades que não possuem. Os médiuns não se libertarão verdadeiramente da obsessão de que são alvo senão quando compreenderem esta verdade. Só então os Espíritos maus, por seu lado, compreenderão que perdem tempo com pessoas que não poderiam pegar em falta.
Por Sérgio Ribeiro

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