sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Filhos Adotivos na visão Espírita

TODOS SOMOS FILHOS ADOTIVOS?
Pela visão espírita, todos somos adotados. Porque o único Pai legítimo é Deus. Os pais da Terra não SÃO nossos pais, eles ESTÃO nossos pais. Porque a cada encarnação, mudamos de pais consangüíneos, mas em todas elas Deus é sempre o mesmo Pai. Mas, para entendermos melhor a existência desta experiência na vida de muitos pais, é necessário analisá-lo sob a óptica espírita, sob a luz da reencarnação. A formação de um lar é um planejamento que se desenvolve no Mundo Espiritual. Sabemos que nada ocorre por acaso. Assim como filhos biológicos, nossos filhos adotivos também são companheiros de vidas passadas. E nossa vida de hoje é resultado do que angariamos para nós mesmos, no passado. Surge, então, a indagação: "se são velhos conhecidos e deverão se encontrar no mesmo lar, por que já não nasceram como filhos naturais?" Na literatura espírita encontramos vários casos de filhos que, em função do orgulho, do egoísmo e da vaidade, se tornaram tiranos de seus pais, escravizando-os aos seus caprichos e pagando com ingratidão e dor a ternura e zelo paternos. De retorno à Pátria Espiritual (ao desencarnarem), ao despertarem-lhes a consciência e entenderem a gravidade de suas faltas, passam a trabalhar para recuperarem o tempo perdido e se reconciliarem com aqueles a quem lesaram afetivamente. Assim, reencontram aqueles mesmos pais a quem não valorizaram, para devolver-lhes a afeição machucada, resgatando o carinho, o amor e a ternura de ontem. Porque a lei é a de Causa e Efeito. Não aproveitada a convivência com pais amorosos e desvelados, é da Lei Divina que retomem o contato com eles como filhos de outros pais chegando-lhes aos braços pelas vias de adoção. Aos pais cabe o trabalho de orientar estes filhos e conduzi-los ao caminho do bem, independente de serem filhos consangüíneos ou não. A responsabilidade de pais permanece a mesma. Recebendo eles no lar a abençoada experiência da adoção, Deus sinaliza aos cônjuges estar confiando em sua capacidade de amar e ensinar, perdoar e auxiliar aos companheiros que retornam para hoje valorizarem o desvelo e atenção que ontem não souberam fazer. Trazem no coração desequilíbrios de outros tempos ou arrependimento doloroso para a solução dos quais pedem, ao reencarnarem, a ajuda daqueles que os acolhem, não como filhos do corpo, mas sim filhos do coração. Allan Kardec elucida: "Não são os da consangüinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de idéias".

DEVEMOS ESCONDER QUE ELES SÃO ADOTIVOS? Um dos maiores erros que alguns pais adotivos cometem é o de esconder a verdade aos seus filhos. É importante, desde cedo, não esconder a verdade. Ás vezes, fazem por amor, já que os consideram totalmente como filhos; outros o fazem por medo de perder a afeição e o carinho deles. Quando os filhos adotivos crescem, aprendendo no lar valores morais elevados, sentem-se mais amados por entenderem que o são, não por terem nascido de seus pais, mas sim frutos de afeição sincera e real, e passam a entender que são filhos queridos do coração. Revelar-lhes a verdade somente na idade adulta é destruir-lhes todas as alegrias vividas, é alterar-lhes a condição de filhos queridos em órfãos asilados à guisa de pena e compaixão. Não devemos traumatizá-los, livrando-os do risco de perderem a oportunidade de aprendizado no hoje. André Luiz esclarece-nos quanto a este perigo: "Filhos adotivos, quando crescem ignorando a verdade, costumam trazer enormes complicações, principalmente quando ouvem esclarecimentos de outras pessoas". Identicamente ao que ocorre em relação aos nossos filhos biológicos, buscar o diálogo franco e sincero, com base no respeito mútuo, sob a luz da orientação cristã de conduta. Pais que conversam com os filhos fortalecem os laços afetivos, tornando a questão da adoção coisa secundária. Recebendo em nossa jornada terrena a oportunidade de ter em nosso lar um filho adotivo, guardemos no coração a certeza de que Jesus está nos confiando a responsabilidade sagrada de superar o próprio orgulho e vaidade, amando verdadeiramente e desinteressadamente a criatura de Deus confiada em trabalho de educação e amparo. E, ajudando-o a superar suas próprias mazelas, amanhã poderá retornar ao seio daqueles que o amam na posição de filho legítimo.

É CERTO A ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS? Raul Teixeira responde: “O amor não tem sexo. Como é que podemos imaginar que o melhor para uma criança é ser criada na rua, ao relento, submetida a todo tipo de execração, a ser criada nutrida, abençoada por um lar de casal homossexual? Muita gente assevera que a criança corre riscos. Mas como? Nós estamos acompanhando as crianças correndo riscos nas casas de seus pais heterossexuais todos os dias. Outros afirmam que a criança criada por homossexuais poderá adotar a mesma postura, a mesma orientação sexual. O que também é falso. A massa de homossexuais do mundo advêm de lares heterossexuais. Então, teremos de concluir que são os casais heterossexuais que formam os homossexuais. Logo,não devemos entrar nessa discussão que é tola e preconceituosa. aquele que tem amor para dar que dê.”
Amemos nossos filhos, sem cogitar se nos vieram aos braços pela descendência física ou não, como encargo abençoado com que o Céu nos presenteia. Encerremos com Emmanuel: "Recorda que, em última instância, seja qual seja a nossa posição nas equipes familiares da Terra, somos, acima de tudo, filhos de Deus".

Compilação e algumas observações de Rudymara (http://grupoallankardec.blogspot.com)
Luz da Existência

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Diante do Destino

Todos nós, quando encarnados na Terra, estamos inelutavelmente enlaçados a certas obrigações, entre o passado e o porvir.
Por isso mesmo, o presente figurar-se-nos-á por estação proveitosa à execução daquele ou desse dever, condizentes com as necessidades que nos caracterizam na marcha evolutiva quando não se refiram à nossa regeneração pura e simples.
Temos, assim não somente os prisioneiros do cárcere que cumprem no mundo determinadas sentenças exaradas pela justiça terrestre, mas também os prisioneiros das profissões e dos institutos domésticos, das teias da consangüinidade e das representações de caráter público, tanto quanto aqueles que se demoram nas grades do obstáculo e do infortúnio, da enfermidade e da frustração.
Todos, porém, nessas circunstâncias, desfrutamos o direito de decidir.
Ainda mesmo sob os impedimentos e flagelações do remorso, o delinquente que expia a culpa pode usar a obediência e a humildade para desagravar a própria situação, qual ocorre ao paralítico, parafusado ao catre que o desfigura, que pode manejar a paciência e a conformação, adquirindo, nos outros, a bênção da simpatia.
Não nos cabe olvidar que, se no campo do mundo todo tempo serve como ensejo de reajuste, todo dia pode ser o marco de início a preciosas realizações no reino da iniciativa.
Cada hora na vida é recurso potencial para a criação de novos destinos.
Entendendo que apenas o dever cumprido resgata-nos os débitos, não nos esqueçamos de que pelo serviço espontâneo, além do quadro das nossas justas obrigações, todos conseguimos sublimar o próprio livre-arbítrio, atendendo ao melhor nos passos do caminho, e traçando, felizes, a áurea senda do amor, à luz do sacrifício que nos transportará das trevas do passado para o Sol do futuro.

(Do livro "Linha Duzentos", Emmanuel, Francisco Cândido Xavier)

Leia mais: http://www.cacef.info/news/diante-do-destino

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O Amor que Presenteia

Informa o evangelista Mateus (2:1) que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. A tradição evangélica o situa como reis e os nomeia Belchior, Baltazar e Gaspar.
Guiados por uma estrela, vinham homenagear o mensageiro divino, que chegara pela porta da humildade, nascendo numa estrebaria. Iniciava a jornada ensinando que o caminho para Deus passa, necessariamente, pela simplicidade e o despojamento das vaidades humanas.
Traziam presentes: ouro, incenso e mirra.
Três símbolos:
 O ouro, a realeza de Jesus. O incenso, sua elevada espiritualidade. A mirra (usada para embalsamar cadáveres), o sacrifício da própria vida, a fim de nos mostrar os caminhos para Deus.
A iniciativa foi a base para que se estabelecesse, nos séculos que se sucederam ao advento do Cristianismo, a tradição de presentear no Natal. Infelizmente, desvirtuada pelos interesses comerciais, transformou-se em obrigação.
Não oferecer os indefectíveis mimos aos familiares é quase uma ofensa. Ninguém se sente feliz se não recebê-los, particularmente as crianças. O ideal seria lembrar o aniversariante. Se a missão de Jesus foi nos ensinar os caminhos do Amor, que tal, amigo leitor, oferecer-lhe três amorosos presentes, à semelhança dos magos, envolvendo empenho por seguir-lhe os passos?
O primeiro presente de amor: o bom ânimo. Evangelho significa boa nova. É maravilhosa a notícia transmitida por Jesus!
Deus, o Criador, o Senhor todo poderoso, é nosso pai de infinito amor e misericórdia, a trabalhar, incessantemente, pela felicidade de seus filhos. Com um paizão assim não há por que ter medos, dúvidas, angústias, tormentos...
Estamos desempregados?
 Deus nos ajudará a encontrar uma ocupação com que prover a subsistência.
Trazemos o coração partido pelo relacionamento afetivo que não deu certo?
 Se juntarmos os pedaços, dispostos a seguir em frente, Deus o restaurará com perfeição, sem marcas.
Estamos doentes? 
Conscientes da proteção divina enfrentaremos com serenidade o mal, reconhecendo as funções educativas da enfermidade, que depura e sensibiliza a alma.
Mesmo ante as perspectivas de constrangimentos dolorosos, impostos pela Vida, no desdobramento de nossas provações, o bom ânimo é valioso testemunho de confiança em nosso Pai Celeste. É tão estranho alguém que acredita em Deus estar na fossa, quanto se dizer torturado pela sede alguém a nadar num lago de águas cristalinas.
O segundo presente de amor: o bom humor.
Exprime-se na capacidade de cultivar o sorriso, mesmo em situações difíceis. Melhor se consegue rir de si mesmo. Quem o faz jamais será infeliz.
Um homem dotado dessa virtude enfrentou grave problema circulatório. Teve que amputar uma perna. Tempos depois, nova complicação. Foi-se a outra perna. Os familiares ficaram preocupados. Naquela situação constrangedora certamente ficaria pra baixo. Viram logo que infundados eram seus temores. Tão logo passou a anestesia e despertou, virou-se para o médico:
– Doutor, estou preocupado!
– Diga o que é. Estou aqui para ajudá-lo.
– Ah! Doutor, receio que nada poderá fazer.
– É tão grave assim?
– Muito! É que agora, sem as duas pernas, não sei em que pé ficou a situação!
Pessoas assim, dispostas a rir de si mesmas, da própria adversidade, jamais serão infelizes.
Jesus geralmente é apresentado com expressão compungida, torturada, sofredor nato. Nada mais equivocado. O bom humor é uma característica do espírito superior. Os Evangelistas, sempre sucintos nas narrativas, não desciam aos detalhes, imprimindo a alguns episódios uma solenidade que certamente não existiu.
Certa feita (Lucas, 9:51-56), transitando pela Samaria, o grupo não encontrou ninguém disposto a oferecer pousada. Imediatamente João e Tiago, chamados irmãos boanerges, filhos do trovão, por seu caráter impulsivo, perguntaram a Jesus se não poderiam evocar o fogo do céu, para queimar aqueles infiéis.
Que tipo de reação poderia ter Jesus, diante de tal disparate?
Certamente, deu boas risadas, antes de advertir, sorridente:
– Gente, que é isso! Vim para salvar os homens, não para queimá-los!
Noutra oportunidade (Mateus, 14:25-31), os discípulos atravessavam de barco, à noite, o Tiberíades. Em dado momento viram um vulto que se aproximava, deslizando sobre as águas.
Um fantasma! Ficaram apavorados.
Logo viram que era Jesus. Certamente o Mestre sorriu, ante o medo dos companheiros. Simão Pedro, afoitamente, dispôs-se a ir ao seu encontro.
– Vem, Simão.
E ele foi, deu alguns passos, vacilou e começou a afundar.
– Senhor, salva-me!.
Jesus deu-lhe a mão e o sustentou, rindo, sem dúvida.
– Ah! homem de pouca fé!
O terceiro presente de amor: a boa vontade.
Trata-se da vontade de ser bom, o empenho por fazer algo em favor do próximo. É fundamental! Segundo os anjos, que fizeram a proclamação celeste no nascimento de Jesus (Lucas, 2:14), somente com seu exercício haverá paz entre os homens.
Jesus foi a personificação da boa vontade, a começar pelo doloroso mergulho na carne. Governador de nosso planeta, Espírito puro e perfeito, poderia guardar-se nas alturas, enviando um embaixador. No entanto, fez questão de comparecer pessoalmente, submetendo-se a imensos sacrifícios.
Após uma existência de dedicação ao Bem, pregado no madeiro da infâmia, cercado de impropérios, continuou a exercitar a boa vontade, pedindo a Deus que perdoasse a todos. Não sabiam o que estavam fazendo.
Depois voltou, materializando-se diante do atônito colégio apostólico. Tinha muito a reclamar dos companheiros. Um deles o traíra, outro o negara três vezes, e todos haviam fugido no momento extremo, vergonhosamente. Mas o Mestre não tocou no assunto. Limitou-se a saudá-los como nos dias venturosos do passado, convocando-os à gloriosa tarefa de disseminação de seus princípios.
Exercitou, como sempre, a boa vontade.
Que sejam muito felizes seus Natais, amigo leitor.
Sempre plenos de bênçãos e também de reflexões em torno do bom ânimo, do bom humor e da boa vontade, três presentes que Jesus muito apreciará, oferecidos com amor.
Com nossas dádivas estaremos contribuindo pela edificação de um Mundo melhor.
Se o fizermos, certamente estaremos nele, desde agora!

richardsimonetti@uol.com.br
Richard Simonetti

sábado, 6 de dezembro de 2014

Você está Preparado para morrer?

As pessoas levam a vida esquecidas de que um dia terão que enfrentar a própria morte. Parece que pensam que são eternas e que a morte só acontece com os outros.

Esse evitar de pensar no assunto talvez seja um mecanismo de defesa, já que a morte é considerada uma coisa horrível que ninguém gostaria de vivenciar. Mas a morte é inevitável e um dia chegará nossa vez. 
Como estaremos diante dela? 
Como você irá reagir diante dessa possibilidade?
As pessoas tem horror da morte porque a ignorância e as religiões transformaram-na num tabu indecifrável. O desespero, a agonia e o pavor vem da falta de conhecimento do que seja a morte que é apenas um fenômeno natural de transformação.
Você pode estar me achando mórbido por tocar nesse assunto, mas é preciso. É preciso perder o medo. E como se faz isso? Estudando tudo que estiver disponível sobre o assunto.
Há livros de cientistas sérios que pesquisaram o assunto e relatam como o fenômeno acontece e você pode encontrar nas livrarias. 
Sugiro
 FENÔMENOS PSÍQUICOS NA HORA DA MORTE de Ernesto Bozzano, A CRISE DA MORTE de Gabriel Delanne
e OBREIROS DA VIDA ETERNA de Chico Xavier. Há também os livros de Allan Kardec sobre o assunto que você pode ler.
Tudo isso vai ajudá-lo a vivenciar melhor o fenômeno e viver a vida sem esse pavor que, para muitos, é paralisante e motivo de desequilíbrio.
Boa sorte em seus estudos.

Por Maurício De Castro-escritor e médium

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Crônicas Espiritas

Hoje farei um relato acerca dos mecanismos de ação do egoísmo e dos seus muitos disfarces.
Neste caso em particular vem mascarado de “amor”, pois esta é a palavra que o Espírito utiliza inicialmente para justificar seus atos. O que sentimento que parecia uma paixão desvairada vai sendo desnudado.
Estava no trabalho mediúnico quando este Espírito acercou-se do médium. Emitia vibrações de ódio e revolta, e pela postura corporal parecia tentar livrar-se de amarras, balançando o tronco. Demorou alguns minutos para responder ao meu boa-noite.
Lançando um olhar de raiva falou: - Não adianta me trazerem aqui. Eu amo ela. Ela é minha e de ninguém mais.... Já disse isso e vocês parecem não acreditar. Vou persegui-la e trazê-la para mim.
Emitiu risos de sarcasmo, como tentativa de disfarçar algum grau de insegurança. Sentia-se pego de surpresa e não entendia como sua defesa pôde ser quebrada, pois andava com sua guarda pessoal. Chamava mentalmente seus soldados, ordenando que invadissem o recinto para resgatá-lo. Nesse ínterim desafiava a mim e aos Espíritos que promovem a Segurança da Casa para uma luta. Essa foi a “deixa” para uma breve conversa.
Disse-lhe que a luta real, a maior de todas, era interna. Dentro de nós são travadas batalhas de conceitos e valores éticos enormes, e, incluindo a mim mesma, falei das dificuldades em melhorar. Perguntei-lhe sobre sua consciência e seu coração, se estavam ambos em harmonia.
Ele me respondeu que sim, pois sua tarefa era a de resgatá-la, ela tinha que morrer para ser dele, pois apenas ele a amava de verdade. Mas, mesmo assim, ela tinha de lhe pagar.
A palavra “amor” por ele dita soava como ódio. Aí perguntei: se em seu coração havia amor, porque estava com tanta raiva?
Silenciou um pouco e continuei: Quem ama de verdade não oprime, liberta, pois o Amor é generoso. Mas retrucou dizendo que ela tinha uma vida de princesa.
Captei nos seus pensamentos as imagens que percorriam a sua mente, suas reminiscências cristalizadas. Nos seus áureos tempos, desfilava com toda sua pompa por entre largos corredores de mármore. Com trajes finamente bordados e cordões de ouro, seguido por um pequeno séquito a pouca distância. Estava num belo palácio em estilo mouro, orgulhoso da beleza e vastidão da construção.
Algo me intrigava naquele breve contato, não conseguia acreditar naquela “paixão”.
Visualizado na minha tela mental com os trajes de um sultão, observei que olhava para um determinado recinto acima, com uma porta de madeira muito trabalhada. Intuí que seria este o local de um harém. Ele percebeu que eu perscrutava sua mente, e relutante, e sentiu-se enfraquecido. Disse entre alguns impropérios e ameaças, que desta vez a luta estava suspensa, pois éramos mais fortes que ele naquele momento.
Orei pelo Criador para que aquele Espírito tivesse um pouco de compaixão na sua alma. Foi desligado do médium e os trabalhos da noite continuaram.
Dias depois, no desdobramento do sono, conversamos. Era um local diferente para mim, num recinto fechado, como uma sala segura magneticamente, e que ele achava ser uma masmorra de pedra. Disse aceitar falar comigo para que eu explicasse aos outros quem ele realmente era, um sultão muito importante e poderoso. Não tanto quanto antes, mas mesmo sem tanto ouro, com um exército menor e menos terras, não abria mão nem do seu harém nem sua da guarda pessoal.
Dizia: - Eles são todos meus porque quem eu não comprei, ganhei em negociações ou tomei por escravo depois de uma batalha, portanto tudo muito justo e merecido. São todos meus eternamente, ou até que eu mude de ideia, o que não desejo fazer. Não quero ninguém do seu pessoal, apenas quem é meu, e não se atrevam a me impedir.
Tinha uma lógica tão distorcida que pensava estar absolutamente certo.
Observei que passou a me ver como um negociador, numa figura masculina. Disse-lhe que passaria a nossa conversa aos Dirigentes e que ele estava ali como um hóspede, mas ele disse que sabia que estava preso, mas que era relativamente bem tratado. Havia acomodações, água e comida, mas não lhe faziam as reverências devidas. Daquela vez nem se lembrou da pseudo-amada.
Dias depois, ao revê-lo, estava mais abatido moralmente, pois o isolamento físico lhe propiciou um maior contato consigo mesmo. Perguntou sobre seu pessoal, incluídos harém e guarda, se ninguém tinha debandado, e falou sobre os castigos que iria lhes impor, caso alguém fugisse. Consegui captar no seu pensamento o medo de perdê-los, imaginando que eles podiam estar sendo bem tratados, e daí me disse para tomar cuidado com seu pessoal, para que seguissem a disciplina rigorosa que lhes impunha. Não podiam ficar mal acostumados, sem receber ordens ou limites rígidos. Daí começou a falar mais e mais, do seu poder, das normas reais e etc...
Nem respondi, o olhei e pedi a Misericórdia Divina que uma fagulha de Luz se fizesse na sua consciência, mas ele foi ficando irritado e confuso. Irascível, avisou que quando saísse iríamos enfrentar todos nós e eles, o seu poder.
Tivemos outros encontros, inicialmente muito breves. Num deles, me disse que sabia mesmo o que queríamos para enfraquecê-lo, e que estava disposto a ceder algumas almas, em troca da sua liberdade. Mas não cedia a vida da traidora, que foi uma péssima influência no harém. Não perdia a arrogância e disse que ele já estava ficando sem paciência, que viesse logo trazer a resposta.
Sua aparência física mostrava um adulto com a face de um idoso, com uma pele que aparentava um couro todo rompido. Já tinha um olhar mais relutante e triste, ainda que com roubos de agressividade.

Muita PAZ para todos nós.
Francesca Freitas

26-11-2014

Leia mais: http://www.cacef.info/news/cronicas-espiritas-4

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Parábola Moderna

E eis que, em plena assembléia de espiritualidade, se levantou um certo companheiro intelectualista e dirigiu-se ao Amigo Sábio e Benevolente, que se comunicava através da organização mediúnica, perguntando para tentá-lo:
– Benfeitor da Humanidade, que devo fazer para alcançar a vida eterna? como agir para entrar na posse da verdadeira luz?
Respondeu-lhe o orientador:
– Que te aconselha a doutrina? como lês o ensinamento do Cristo?
O consulente pensou um minuto e replicou:
– Amarás o Senhor teu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças, com todo o entendimento, e a teu próximo como a ti mesmo.
O Sábio Espiritual sorriu e observou:
– Respondeste bem. Faze isso e alcançarás a vida eterna.
Contudo, o intelectualista, apresentando justificativa e desejando destacar-se no circulo dos irmãos, interrogou ainda:
– Como reconhecerei o meu próximo?
O comunicante assumiu atitude paternal e narrou:
– Um “espiritista” convencido quanto à sobrevivência da alma, mas não convertido ainda ao Evangelho de Jesus, seguia de Madureira para a Gávea, quando encontrou, em certa rua, determinada reunião de pessoas bem intencionadas, mas ignorantes das letras do mundo, tentando a prática do amor aos semelhantes, possuídas de sincera e profunda, boa vontade. Porque viviam distanciadas da ciência da expressão, suas palavras evidenciavam muita imperfeição de gramática, embora a excelente disposição que revelavam mo exercício de virtudes santificantes. Os desencarnados que cooperavam na obra, observando que se aproximava um irmão detentor de elevados conhecimentos, indicaram-lhe o nome para que se lhe rogasse a valiosa colaboração. Instado pelos trabalhadores daquele piedoso núcleo do bem, o cavalheiro aproximou-se, sondou o ambiente e negou-se, acrescentando:
– Não, não posso cooperar! Isto não é Espiritismo.
E passou apressado, em busca de seus interesses.
No entanto, um materialista, de bom coração e reta consciência, que vinha pelas mesmas ruas, encontrou a pequena assembléia e, observando-lhe a determinação na prática ao bem, distribuiu palavras de conforto e encorajamento entre aquelas criaturas de aprimoradas qualidades morais, deixando, ali, as bases de uma escola que funcionaria, em breve, aperfeiçoando valores e melhorando conhecimentos.
Seguia o mencionado “adepto” do Espiritismo, estrada afora, quando se lhe deparou um quadro doloroso. Miserável mulher, exibindo terríveis sinais de sífilis, caíra nas vizinhanças de soberbo jardim, cercada por duas companheiras de infortúnio, necessitadas do braço de um homem caridoso que auxiliasse o transporte da enferma. Sentindo a aproximação do crente, sob nosso exame, acorreram, pressurosas, ambas as infelizes que ainda podiam andar, suplicando-lhe socorro em palavras da gíria, a evidenciarem, porém, justificada aflição e ardente desejo de ser úteis.
O “espiritista” reparou que se encontrava nas adjacências de uma grande casa, dedicada a prazeres menos dignos e, receando o falso julgamento de sua conduta, negou-se, exclamando:
– Não, não posso ajudar! Isto não é Espiritismo.
E afastou-se, sem mais delongas.
Entretanto, o ateu, que lhe vinha nas pisadas, ouviu o clamor das mulheres e, longe de qualquer pensamento malicioso alusivo ao local, amparou a pobre criatura, providenciando, imediatamente, para que fosse asilada em hospital próximo e colaborou no pagamento das despesas, alheio a qualquer idéia de compensação.
Mais adiante, seguindo o “espiritista” o seu caminho, encontrou um grupo de trabalhadores, filiados às igrejas evangélicas do protestantismo, angariando auxílios para um serviço de assistência a meninos desamparados. Moças e velhos, rapazes e anciãos, cantavam na via pública, enternecendo corações com as reminiscências de Jesus. Findo o número musical, algumas jovens distribuíam flores naturais, em troca de insignificantes donativos, destinados ao socorro de criancinhas órfãs e desvalidas.
Uma das graciosas meninas aproximou-se e ofereceu-lhe uma rosa, acrescentando: “Amigo, cooperai conosco na assistência aos pequeninos abandonados!” O interpelado, porém, viu que o agrupamento trazia numerosos exemplares de jornais e revistas com interpretações religiosas diferentes daquelas que o seu raciocínio aceitava, e, colocando-se em posição contrária à cooperação cristã, respondeu rudemente :
– Não, não posso atender! Isto não é Espiritismo...
E prosseguiu, rua afora, apressadamente.
Todavia, o materialista bondoso, que o seguia acidentalmente, foi colhido pela solicitação das jovens e, sentindo-se feliz, pela expressão de humanidade que a reunião apresentava, conversou alegremente com as meninas, encorajando o serviço de confraternização e benemerência que se levava a efeito, e, depois de anotar o endereço da instituição, a fim de acompanhar o trabalho de mais perto, valeu-se da bolsa que trazia e adquiriu muitas flores de auxílio, com o espírito amigo das boas obras e não com a disposição agressiva dos combatentes, despreocupado de qualquer recompensa.
E o “espiritista” seguiu seu caminho para a Gávea e o materialista continuou na estrada de bondade espontânea.
O mentor fez longo intervalo e, em seguida, perguntou ao consulente:
– Qual dos dois, a seu ver, aprendeu a reconhecer o próximo, prestando-lhe a atenção que devia?
– Ah! certamente – replicou o interlocutor, sensibilizado – foi o materialista, que sentia prazer em servir, trabalhando por um mundo melhor.
O Sábio Espiritual sorriu e falou-lhe, antes de despedir-se:
– Então, vai, e faze tu o mesmo...


Irmão X - Do livro: Lázaro Redivivo: Francisco Cândido Xavier.