sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Crônicas Espiritas

Hoje farei um relato acerca dos mecanismos de ação do egoísmo e dos seus muitos disfarces.
Neste caso em particular vem mascarado de “amor”, pois esta é a palavra que o Espírito utiliza inicialmente para justificar seus atos. O que sentimento que parecia uma paixão desvairada vai sendo desnudado.
Estava no trabalho mediúnico quando este Espírito acercou-se do médium. Emitia vibrações de ódio e revolta, e pela postura corporal parecia tentar livrar-se de amarras, balançando o tronco. Demorou alguns minutos para responder ao meu boa-noite.
Lançando um olhar de raiva falou: - Não adianta me trazerem aqui. Eu amo ela. Ela é minha e de ninguém mais.... Já disse isso e vocês parecem não acreditar. Vou persegui-la e trazê-la para mim.
Emitiu risos de sarcasmo, como tentativa de disfarçar algum grau de insegurança. Sentia-se pego de surpresa e não entendia como sua defesa pôde ser quebrada, pois andava com sua guarda pessoal. Chamava mentalmente seus soldados, ordenando que invadissem o recinto para resgatá-lo. Nesse ínterim desafiava a mim e aos Espíritos que promovem a Segurança da Casa para uma luta. Essa foi a “deixa” para uma breve conversa.
Disse-lhe que a luta real, a maior de todas, era interna. Dentro de nós são travadas batalhas de conceitos e valores éticos enormes, e, incluindo a mim mesma, falei das dificuldades em melhorar. Perguntei-lhe sobre sua consciência e seu coração, se estavam ambos em harmonia.
Ele me respondeu que sim, pois sua tarefa era a de resgatá-la, ela tinha que morrer para ser dele, pois apenas ele a amava de verdade. Mas, mesmo assim, ela tinha de lhe pagar.
A palavra “amor” por ele dita soava como ódio. Aí perguntei: se em seu coração havia amor, porque estava com tanta raiva?
Silenciou um pouco e continuei: Quem ama de verdade não oprime, liberta, pois o Amor é generoso. Mas retrucou dizendo que ela tinha uma vida de princesa.
Captei nos seus pensamentos as imagens que percorriam a sua mente, suas reminiscências cristalizadas. Nos seus áureos tempos, desfilava com toda sua pompa por entre largos corredores de mármore. Com trajes finamente bordados e cordões de ouro, seguido por um pequeno séquito a pouca distância. Estava num belo palácio em estilo mouro, orgulhoso da beleza e vastidão da construção.
Algo me intrigava naquele breve contato, não conseguia acreditar naquela “paixão”.
Visualizado na minha tela mental com os trajes de um sultão, observei que olhava para um determinado recinto acima, com uma porta de madeira muito trabalhada. Intuí que seria este o local de um harém. Ele percebeu que eu perscrutava sua mente, e relutante, e sentiu-se enfraquecido. Disse entre alguns impropérios e ameaças, que desta vez a luta estava suspensa, pois éramos mais fortes que ele naquele momento.
Orei pelo Criador para que aquele Espírito tivesse um pouco de compaixão na sua alma. Foi desligado do médium e os trabalhos da noite continuaram.
Dias depois, no desdobramento do sono, conversamos. Era um local diferente para mim, num recinto fechado, como uma sala segura magneticamente, e que ele achava ser uma masmorra de pedra. Disse aceitar falar comigo para que eu explicasse aos outros quem ele realmente era, um sultão muito importante e poderoso. Não tanto quanto antes, mas mesmo sem tanto ouro, com um exército menor e menos terras, não abria mão nem do seu harém nem sua da guarda pessoal.
Dizia: - Eles são todos meus porque quem eu não comprei, ganhei em negociações ou tomei por escravo depois de uma batalha, portanto tudo muito justo e merecido. São todos meus eternamente, ou até que eu mude de ideia, o que não desejo fazer. Não quero ninguém do seu pessoal, apenas quem é meu, e não se atrevam a me impedir.
Tinha uma lógica tão distorcida que pensava estar absolutamente certo.
Observei que passou a me ver como um negociador, numa figura masculina. Disse-lhe que passaria a nossa conversa aos Dirigentes e que ele estava ali como um hóspede, mas ele disse que sabia que estava preso, mas que era relativamente bem tratado. Havia acomodações, água e comida, mas não lhe faziam as reverências devidas. Daquela vez nem se lembrou da pseudo-amada.
Dias depois, ao revê-lo, estava mais abatido moralmente, pois o isolamento físico lhe propiciou um maior contato consigo mesmo. Perguntou sobre seu pessoal, incluídos harém e guarda, se ninguém tinha debandado, e falou sobre os castigos que iria lhes impor, caso alguém fugisse. Consegui captar no seu pensamento o medo de perdê-los, imaginando que eles podiam estar sendo bem tratados, e daí me disse para tomar cuidado com seu pessoal, para que seguissem a disciplina rigorosa que lhes impunha. Não podiam ficar mal acostumados, sem receber ordens ou limites rígidos. Daí começou a falar mais e mais, do seu poder, das normas reais e etc...
Nem respondi, o olhei e pedi a Misericórdia Divina que uma fagulha de Luz se fizesse na sua consciência, mas ele foi ficando irritado e confuso. Irascível, avisou que quando saísse iríamos enfrentar todos nós e eles, o seu poder.
Tivemos outros encontros, inicialmente muito breves. Num deles, me disse que sabia mesmo o que queríamos para enfraquecê-lo, e que estava disposto a ceder algumas almas, em troca da sua liberdade. Mas não cedia a vida da traidora, que foi uma péssima influência no harém. Não perdia a arrogância e disse que ele já estava ficando sem paciência, que viesse logo trazer a resposta.
Sua aparência física mostrava um adulto com a face de um idoso, com uma pele que aparentava um couro todo rompido. Já tinha um olhar mais relutante e triste, ainda que com roubos de agressividade.

Muita PAZ para todos nós.
Francesca Freitas

26-11-2014

Leia mais: http://www.cacef.info/news/cronicas-espiritas-4

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