terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Solução Simplista

A execução de um brasileiro, na Indonésia, acusado de contrabando de drogas, revive a velha discussão em torno da pena de morte como um meio de coibir da violência.
Seria suficiente a estatística para demonstrar que a pena capital não funciona. Onde foi instituída não houve decréscimo de criminalidade.
Além desse e de outros argumentos relevantes, o Espiritismo nos oferece uma visão reencarnacionista da existência humana como um processo educativo em favor da evolução do espírito.
Por imaturidade ou rebeldia, o criminoso pode refugar as lições da existência e até mesmo comprometer-se no crime. A pena de morte equivalerá à expulsão da escola, decretada por alunos, que não detêm a competência da direção da escola, formada por mentores espirituais que orientam o planeta.
Mas teria ocorrido realmente essa eliminação? Sabemos que não. A execução do criminoso nada mais faz senão torná-lo invisível. Catapultado ao Plano Espiritual, a partir de uma cadeira elétrica, câmara de gás, pelotão de fuzilamento, ou de sumário linchamento, ele se situa, além-túmulo, na condição traumática de um acidentado.
Sua readaptação será demorada, difícil, marcada por um período de inconsciência e um despertar tormentoso. Ressentido contra a sociedade que lhe roubou o corpo, poderá, não raro, intentar o revide contra seus condenadores, amparados pela legalidade – os juízes – ou ocultos na ilegalidade – os linchadores e justiceiros. Estes últimos, por se sobreporem à Lei e pela truculência de suas iniciativas, situam-se no mesmo nível vibratório do agressor e dificilmente permanecerão ilesos ante sua pressão.
Além disso, obedecendo a iniciativas próprias ou à inspiração de gênios das sombras, ele gravitará em torno de pessoas que guardam as mesmas tendências, justificando comentários assim:
– Não sei o que aconteceu comigo. Senti um impulso irresistível de agir daquela forma e acabei cometendo desatinos.
Embora não possamos debitar às influências espirituais a agressividade humana, ela é perigosamente fermentada, cresce muito em face desse envolvimento.
Melhor, portanto, lidar com o criminoso vivo, visível, vulnerável, segregado em instituições de reeducação, do que enfrentá-lo morto, invisível, inatingível no ódio e no rancor, a fomentar a desordem.
O assunto pede reflexões mais profundas.
Ninguém ignora que a criminalidade está relacionada com as condições sociais. Quanto mais elevado o desemprego e de pessoas carentes, ao nível da miséria, maior a sua incidência.
Quando o estômago grita, o instinto de conservação fala mais alto, sobrepondo-se a disciplinas morais, salvo em Espíritos amadurecidos e conscientes, uma minoria em nosso planeta.
Inútil, portanto, cogitar de leis mais severas, de prisões mais amplas, de efetivos policiais mais numerosos, paliativos que apenas minimizam efeitos.
Imperioso que nos mobilizemos, socorrendo a população carente, sem esperar por iniciativas governamentais. Enquanto não chegam os bombeiros, urge evitar que o incêndio se alastre.
Em nosso próprio beneficio, é preciso demonstrar a esses irmãos em humanidade que sua tragédia existencial não está sendo negligenciada; que há pessoas empenhadas em ajudá-los, em atendê-los em suas necessidades prementes...
Uma casa de sopa num bairro humilde, com singelas aulas de moral cristã, faz muito mais em favor da paz social do que a ação ostensiva de viaturas policiais. Estas coíbem precariamente a violência; aquela evita que ela se instale na infância carente, que ali conhece os valores da fraternidade, recebendo um pouco de calor humano, de amor...
Uma criança que aprende a importância de fazer ao semelhante o bem que desejaria receber – a fórmula ideal de amar, na sábia orientação de Jesus -– dificilmente se envolverá com o crime na solução de seus problemas.
Quando a humanidade assimilar essa lição a pena de morte será definitivamente abolida, não só por ineficiente; sobretudo, por desnecessária.

Richard Simonetti
richardsimonetti@uol.com.br

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