quinta-feira, 31 de março de 2016

Retorno à Barbárie

1 – O aedes aegypty tem causado grandes transtornos para a Humanidade, vetor de doenças como o dengue, a febre amarela e agora a febre zika e a chikungunya. Como explicar tantos males?
Uma senhora perguntava por que Deus fez um inseto repugnante como a barata. O marido respondeu, bem-humorado, que seria, talvez, para ela cuidar melhor da higiene na cozinha. O aedes bem pode estar enquadrado nesse objetivo – estimular-nos a cuidar da limpeza urbana.

2 – O Criador está usando vara de marmelo para nos educar?
Até que seria bom. Na verdade, Deus nos concede o dom de viver. As condições e a qualidade de vida dependem de nós. Deus faz o mato crescer, organizando as disposições da Natureza. Se o mato invade nossa casa, a responsabilidade é inteiramente nossa.

3 – Os males provocados pelo aedes não seriam, portanto, do tipo “cavaleiros do apocalipse”?
De forma alguma. Basta lembrar que ele prospera apenas em países de clima quente. Seria um apocalipse circunscrito, não universal? Países de clima frio aprontam até mais. Basta lembrar as duas guerras mundiais, autênticas hecatombes que mataram perto de setenta milhões de pessoas. Assim considerando, os europeus seriam muito mais merecedores dos problemas gerados pelo impertinente inseto.

4 – Como ficam os Espíritos que contraem, no ventre materno, a microcefalia, em virtude de uma proliferação do inseto na região em que nascem? Seria esse o seu carma? Seria a infestação um agente do destino para que tivessem tão grave problema?
Nem sempre as contingências humanas surgem como instrumentos para realização de um carma. Se assim fosse, deveríamos cruzar os braços e deixar o aedes picar à vontade as gestantes, admitindo que seriam afetados apenas os reencarnantes que devessem enfrentar esse problema.

5 – Não é assustador imaginar que um filho possa contrair a microcefalia não por imposição cármica, mas por mera desídia humana?
Precisamos superar a ideia de que todas as ocorrências funestas que afetam as criaturas humanas são cármicas. Carma é viver na Terra, onde tudo pode nos acontecer, se não tivermos cuidado com nossa vida, dispondo-nos a cultivar a mansidão das pombas e a prudência das serpentes, como ensinava Jesus. Não obstante, recordemos que, em última instância, todos males trabalham pelo bem, agitando a consciência humana em favor de sua renovação.

6 – No cultivo dessa prudência, é razoável que as mulheres adiem a maternidade, como está acontecendo, até que o mosquito seja controlado ou tenhamos uma vacina contra os males que produz?
Essa é uma questão de foro íntimo. Se a mulher reside em região infestada e não se sente segura com relação ao assunto, submetendo-se a tensões e angústias que poderão prejudicar a própria gestação, será conveniente adiar, como tem sido recomendado pelos médicos.

7 – E no caso de ocorrer uma gravidez não planejada, pode-se cogitar do aborto terapêutico, sugerido por muitos médicos, evitando possíveis complicações provocadas pela picada do aedes?
Aí seria trocar a possibilidade de um mal menor pela certeza de um mal maior que é o aborto, um crime de lesa-humanidade, como destacam todas as religiões, particularmente o Espiritismo, que nos oferece uma visão muito objetiva de suas lamentáveis consequências.

8 – E se exames durante a gestação detectarem o zika vírus no feto, até mesmo um início de microcefalia, não será prudente o aborto?
A posição espírita está bem clara nas questão 359, de O Livro dos Espíritos. Aborto só quando houver risco de vida para a gestante. Além do mais, a presença desse vírus no feto não significa que vá instalar-se a microcefalia. Ainda que isso ocorra, há tratamentos e cirurgias que permitem ao nenê ter um desenvolvimento normal. Pretender simplesmente o sacrifício da criança afetada é nos igualarmos aos nazistas, que eliminavam deficientes físicos e mentais sem nenhuma preocupação de caráter moral. Esse tipo de comportamento nos reconduz à barbárie.

Richard Simonetti
richardsimonetti@uol.com.br

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