sábado, 22 de setembro de 2012

O Batismo


Moisés, o célebre legislador hebreu, no intuito de orientar o seu povo nos mais rudimentares preceitos de higiene, estabeleceu, além das leis de natureza político-religiosas, uma série de medidas que visavam defender a saúde daquele povo ainda inculto e agreste. Com efeito, o Velho Testamento recomenda lavar as mãos, os copos, os pratos, as camas, a roupa, etc., enfim, uma série de medidas de feição religiosa, cuja finalidade era formar certos hábitos indispensáveis à saúde do povo. Ora, o batismo judaico era, em última análise, uma dessas medidas de higiene, e, nesse ponto, ninguém tem maior autoridade para dizê-lo do que Flávio Josefo, célebre historiador 'judeu do 1º século. Profundo conhecedor das seitas religiosas do seu povo, diz, referindo-se a João, "chamado o Batista", que "a imersão na água (o batismo), agradável a Deus, era feita, não para a remissão dos pecados, mas para purificar, o corpo, desde que a alma tivesse sido purificada por uma via justa." (Antiguidades XVIII, 5, 2)
A lavagem das roupas era também considerada um dos meios de santificação, mesmo antes da revelação do Sinai (Êxodo, XIX :10) e os rabis ligavam a isso o dever de banhar-se por imersão completa (Lev., XV:5; Números, XIX:7, etc.)
Lendo os preceitos religiosos de outros povos antigos, chega-se à conclusão de que o batismo não começou com o Batista nem o batismo teve origem propriamente no povo judeu. Na antiga Babilônia, na índia, na China, etc., o batismo, no adulto ou na criança, de modo geral, se assemelhava ao batismo judaico-cristão. Mesmo entre os antigos pagãos, astecas, incas, etc., o batismo era praticado muito antes da influência do Cristianismo. Entre os pagãos, de onde provavelmente se originou o batismo que hoje se faz nas igrejas, a cerimônia, em geral, tinha lugar logo após o nascimento, ocasião em que o recém-nascido recebia o nome, sendo então colocado sob a proteção dos deuses.
De acordo com os ensinos rabínicos, o batismo era praticado no antigo Judaísmo como meio de penitência, a fim de poderem pronunciar, em perfeita pureza, o nome de Deus nas orações. Os essênios, sem dúvida por isso, costumavam batizar-se, isto é, banhar-se, todos os dias pela manhã (The Jewish Encyclopedia, Isidore Singer, 2º vol., pág. 500).
O batismo de João era, pois, um velho preceito de caráter religioso, que lembrava a ideia de purificação, cuja finalidade era evitar a propagação de doenças, sobretudo da lepra, comum entre os judeus daquela época. Jesus mesmo reconhecera a sua necessidade, tanto que, embora ele próprio não batizasse, os seus discípulos batizavam ainda mais que João (João, 4-:2). O próprio Batista via na tradição do batismo da água uma medida indispensável à saúde daquele povo que vivia em promiscuidade num país quente seco e poeirento. Jesus mesmo, para não escandalizar, pede ao Batista para ser batizado dizendo: "Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda justiça" (Mat., 3:15). É claro que Jesus não tinha nenhum "pecado original" .
Para Jesus o batismo tinha significação espiritual. Quando dois dos seus discípulos se aproximaram dele, e pediram que, no seu reino, lhes permitisse assentar-se um à sua direita e o outro à sua esquerda, Jesus respondeu: "Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que eu bebo e ser batizado com o batismo com que sou batizado?" Eles responderam: "Podemos". Mas Jesus, como se já esperasse essa resposta, disse: "Em verdade vós bebereis o cálice que eu beber, e sereis batizados com o batismo com que sou batizado; mas assentar-se à minha direita ou à minha esquerda, não me pertence a mim conceder, senão àqueles para quem está preparado." (Marcos, 10:35-40) Compreende-se, pois, que Jesus aí não se refere ao batismo da água, mas às dificuldades e às lutas que teria de enfrentar. O cálice e o batismo simbolizam a vitória do seu Espírito diante das dificuldades terrenas. Não têm outra significação as suas palavras: "quem crer e for batizado será salvo", isto é, quem vencer a batalha da vida, quem vencer o mundo como ele venceu, alcançará a paz. A HISTÓRIA DO BATISMO DA ÁGUA PARA “LAVAR O PECADO ORIGINAL” É PURA INVENÇÃO DA IDADE MÉDIA.

José Monteiro Lima
Reformador (FEB) Novembro 1946

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