Certamente você conhece a oração de Francisco de Assis, caro leitor. Oportuno que nos detenhamos em suas afirmações.
Senhor, fazei-me instrumento de Vossa paz. Somos instrumentos da paz? Em nossa presença as pessoas sentem-se animadas e felizes? Ou a paz se despede quando chegamos? Perguntei a uma senhora amiga sobre sua família. – No momento, muito bem! Estamos em paz! ¬– afirmou feliz. E, sorriso brejeiro, completou: – Meu marido está viajando…
Onde houver ódio que eu semeie o Amor. Há uma fórmula mágica para isso: A profilaxia dos contrários. O funcionário de empresa estava furioso com o gerente que frequentemente o transferia de setor. Certamente estava a pressioná-lo para que se demitisse. Cogitava disso quando um colega, um semeador da paz, disse-lhe. – Está enganado quanto ao nosso chefe, meu caro. Ele admira sua eficiência. Por isso o tem encaminhado para setores onde há problemas, consciente de que pode resolvê-los.
Sua intervenção pacificou o companheiro que passou a ver com simpatia as iniciativas do gerente a seu respeito.
Perdão, onde haja injúria. Diz a esposa sofredora: – Meu marido me abandonou por outra mulher. Não me conformo! A vida ficou complicada, não tem mais graça… Estou muito infeliz! Diz o semeador da paz: – A mágoa é como um espinho cravado no peito. Machuca dói, incomoda… Perdoar é sinônimo de desligar. Perdoe para libertar-se. Esqueça.
Fé, onde haja dúvida. No atendimento fraterno, num Centro Espírita, a voluntária consolava sofrida mulher, cujo filho falecera vitimado por mal súbito. – Confie em Deus, minha irmã. Considere que nada ocorre sem Seu consentimento. Quando manifestamos submissão à Sua Vontade tudo fica mais fácil.
Você fala assim porque não sabe o que é perder um filho na flor da idade, estudante de medicina, futuro brilhante!
– Sei sim, minha amiga. Meus dois filhos faleceram num acidente. A certeza de que apenas transferiram residência para além-túmulo é o meu alento. Sei, também, que nossos amados sofrem com nossa inconformação e que ficam felizes quando cultuamos sua memória exercitando coragem e o bom ânimo. O consolo maior é saber que estão por perto.
– Quando sente que estão por perto?
– Quando me disponho a servir.
Esperança, onde haja desespero. Reclama o favelado. – Não há por que viver! Minha vida é um tormento. Minha mulher está doente. Eu, desempregado. Os filhos passam fome…Afirma o semeador de esperança. – Trouxe alimentos para seus filhos e remédio para sua esposa. Ajudarei você a conseguir emprego. Coragem! Com a ajuda de Deus e o nosso empenho tudo há de melhorar!
Luz, onde haja escuridão. Diz o doente: – Oh! Meu Deus, como é triste a solidão do leito, sem amigos, sem familiares… Apenas as dores, a tristeza… É tudo tão sombrio, tão triste! Diz o semeador de luz: – Vim lhe fazer companhia e dizer que você não está só. Busquemos juntos as claridades do Evangelho, o consolo das lições de Jesus, a luz da oração…
Alegria, onde haja tristeza. Jerônimo Mendonça passou trinta anos imobilizado num leito, como estátua viva, e ainda cego nos últimos dez anos de vida. Não obstante, tinha dois dons maravilhosos: Jamais se melindrava e sabia rir das próprias limitações. Enquanto detinha a visão, nos primeiros tempos da doença, o levavam ao cinema. O leito ficava num dos corredores. Certa feita, após o início da sessão, entrou uma jovem. Apressada, em plena escuridão tropeçou na improvisada poltrona.
Irritada, bradou: – Diabo de aleijado! Se vou à praça ele está lá! Vou a uma festa e ele está lá! No campo de futebol, está o aleijado! Até no cinema esse enxerido me persegue!
E Jerônimo: – Também, pudera! Você não para em casa!
Os que se doam incessantemente, amando e servindo o semelhante, aprenderam com Francisco de Assis que: É dando que recebemos, perdoando que somos perdoados e é morrendo que nascemos para a Vida Eterna.
A afirmação final merece atenção. É preciso “matar” o homem velho, eivado de paixões, para que nasça o homem novo a que se referia o apóstolo Paulo. Um ser especial que tem no Evangelho o seu guia, o seu alento, a sua felicidade. É assim que nasceremos para a vida eterna, isto é, nos livraremos das reencarnações expiatórias, habilitando-nos aos planos mais altos do infinito, onde há vida em plenitude, sem acesso para a morte.
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