– O senhor poderia pedir ao doutor Bezerra de Menezes ou outro benfeitor um tratamento de cura?
A resposta do guia o deixou apreensivo:
– Continue o tratamento médico e tenha paciência e resignação, porque seu mal não tem cura e nada posso fazer.
– Se é assim, como vou continuar meu trabalho mediúnico?
E Emmanuel:
– Não tem cura, mas tem tratamento! Continue cuidando dos olhos.
A resposta de Emmanuel resume um tratado de resignação ativa. Estranhou a adjetivação, leitor amigo? É que considero a existência de dois tipos de resignação – ativa e passiva.
Embora ambas exprimam uma aceitação dos males da existência, dizem respeito a posturas diametralmente opostas.
Resignação passiva: aceitação acomodada que paralisa a iniciativa e nos situa na lamentável condição do coitadinho, a inspirar a comiseração alheia.
Certamente você já passou pela experiência de alguém que o procurou exprimindo silencioso apelo, a partir de um cartão com os seguintes dizeres: Sou surdo-mudo. Peço seu auxílio para sobreviver.
Por que, pelo fato de ter uma deficiência dessa natureza, deve alguém viver da caridade? Não seria mais razoável e produtivo, em benefício de sua autoafirmação e bem-estar, ligar-se a instituições que preparam deficientes para o desafio de garantir a própria subsistência? E não há falta de vagas no mercado de trabalho. Por lei, empresas com mais de cem funcionários são obrigadas a contratar deficientes físicos.
Resignação ativa: a capacidade de conviver com as limitações, sem sujeitar-se a elas, nem permitir que inibam nossas iniciativas. Casos de superação, em que o indivíduo dá a volta por cima, envolvem Espíritos nessa condição.
Há exemplos notáveis, como Helen Keller (1880-1968), a admirável mulher americana que, quando bebê, teve grave doença, que a deixou surda e cega. Consequentemente, muda também, já que para aprender a falar é preciso ouvir.
Surdez, mudez, cegueira, isoladamente, são duras provações. Imaginemos as três juntas! Contrariando qualquer expectativa, Helen Keller aprendeu a falar, tornou-se escritora e conferencista.
Diz ela, no livro Minha Vida de Mulher: Ninguém pode saber melhor do que eu o que são as amarguras dos defeitos físicos. Não é verdade que eu nunca esteja triste, mas há muito resolvi não me queixar. Mesmo o ferido de morte deve esforçar-se por viver seus dias com alegria, por amor dos outros. Eis para que serve a religião: inspirar-nos à luta até o fim, de ânimo forte e sorriso nos lábios.
São exemplos maravilhosos de superação. Pessoas que enfrentam suas provações sem rebeldia, sem se entregarem, sem se julgarem os coitadinhos. Valorizam a existência, resgatam débitos cármicos, habilitam-se a estágios mais altos de espiritualidade. Sobretudo nos deixam envergonhados, porquanto, enfrentando problemas muito menos complexos, nos deixamos abater, não raro com pena de nós mesmos.
A Medicina é bênção de Deus. Oferece-nos cura para os males curáveis e lenitivo aos incuráveis, a fim de que possamos conviver com eles, sem que impeçam nossa realização como seres humanos, filhos de Deus, dotados de suas potencialidades criadoras.
Assimilando muito bem as orientações de seu mentor, Chico foi exemplo marcante de resignação ativa, jamais permitindo que suas limitações físicas e enfermidades o impedissem de realizar seu abençoado trabalho.
Poderia fazer suas as palavras de Helen Keller: Uma ambição eu tenho: a de não me deixar abater. Para tanto conto com a bênção do trabalho, o conforto da amizade e a fé inabalável nos altos desígnios de Deus.
Richard Simonetti
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