Zenão de Eléia (490-430 a.C.), era discípulo de Parmênides (século VI a.C.), cujas ideias sobre o movimento defendia em inteligentes paradoxos, conceitos que contrariam o senso comum.
O mais famoso estabelece confronto entre Aquiles e uma tartaruga, em inusitada corrida.
Se o herói grego lhe desse vantagem inicial de alguns metros, jamais a alcançaria. Quando chegasse ao local de onde a tartaruga partira, ela estaria num ponto adiante; ao atingi-lo sua oponente teria caminhado mais… Assim, sucessivamente, ele sempre atrás.
Obviamente o engenhoso paradoxo de Zenão é atropelado pela realidade. Em breves instantes, o herói grego a ultrapassaria. Na prática, a teoria pode ser bem diferente.
Algo semelhante ocorre com a contestação à Lei de Causa e Efeito, enunciada pela Doutrina Espírita, segundo a qual estamos sujeitos a um mecanismo de ação e reação, que faz repercutir em nós o que fazemos aos outros.
Trata-se de uma norma divina conhecida desde que o Homem começou a cogitar dos porquês da vida. Está presente na milenar filosofia hindu, definida como carma ou a consequência das ações humanas.
Jesus também a enunciou, ao proclamar que a cada um será dado segundo suas obras. No entanto, há quem pretenda negar a Lei de Causa e Efeito enunciando um paradoxo: se mato alguém, alguém irá me matar para que eu receba de volta o mal praticado e resgate o meu débito. Meu algoz, por sua vez, deverá perecer nas mãos de um agressor; este será justiçado por outro, que defuntará nas mãos doutro… Assim, indefinidamente. Seria a perpetuação do mal. Esse paradoxo é desmontado pela Doutrina Espírita a partir de singela revelação: Deus não necessita do concurso humano para promover a justiça.
A prática do mal desequilibra nossa alma, gerando desajustes físicos e psíquicos que nos oprimem, impondo-nos dolorosas retificações. Naturalmente, a extensão de nossos comprometimentos e a intensidade dos depurativos cármicos dependerão de múltiplos fatores, que escapam à apreciação humana.
Dizem respeito à idade espiritual, o grau de inteligência e discernimento, as contingências e necessidades…
Não obstante, aprendemos a distinguir o certo do errado, o bem do mal, na medida em que recebemos de retorno as consequências de nossas ações.
Com objetivos educativos, a Lei de Causa e Efeito nos mostra o que devemos e o que não podemos fazer. Não importa se desconhecemos a origem de nossos males, gerados a partir de ações pretéritas, em reencarnações anteriores, ou se não temos consciência desse mecanismo. A lei funciona, em princípio, tendo por base os reflexos condicionados.
A criança foge instintivamente do fogo, não por noção de que pode queimar-se, mas porque desde remoto passado, em existências anteriores, andou às voltas com ele.
A jovem, hoje recatada e prudente, deve sua vocação para a virtude às impressões de que está impregnada sua memória espiritual, quanto às funestas consequências de um passado de promiscuidade e vícios nos domínios do sexo, em existências anteriores.
O chefe de família cuidadoso e responsável, traz a consciência desperta, em face de sofrimentos resultantes de sua omissão e infidelidade no pretérito.
É assim que, de existência em existência, de experiência em experiência, aprendemos a respeitar o semelhante e a cumprir os nossos deveres, deixando de brincar com o destino, como quem brinca com fogo, intuindo que poderemos nos queimar.
Destaque-se algo de suma importância: o conhecimento desse mecanismo acelera nossa evolução. Não precisamos sofrer queimaduras para saber que devemos ter cuidado com o fogo. Podemos nos valer da experiência alheia.
É o que nos proporciona a Doutrina Espírita, colocando-nos em contato com Espíritos sofredores que colhem no Além as consequências de seus desatinos na Terra.
Suas informações valem por oportunas advertências quanto aos cuidados que devemos ter, os caminhos que devemos percorrer, exercitando o Bem, a fim de evitar as dolorosas lições cármicas resultantes de nosso envolvimento com o mal.
Richard Simonetti -Orador e escritor espírita
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