quarta-feira, 1 de abril de 2015

Teatrinho

ATO I – No hospital.
– Doutor, pelo amor de Deus! Não deixe meu marido morrer! Temos três filhos! Será impossível viver sem ele!
– Sinto muito, dona Carla. Fizemos o possível. Lúcio não resistiu aos ferimentos sofridos no acidente. Acaba de falecer...

ATO II – Em casa.
– Vamos, mamãe, é preciso reagir! Papai faleceu há três meses e a senhora continua prostrada, sem ânimo. Até parece que foi acidentada também! A vida continua! Precisamos da senhora!...
– Sei disso, minha filha. Deus sabe como tenho me esforçado por retornar à normalidade! Não consigo! Sinto-me muito mal, angustiada, pensamento turvo, corpo dolorido, seu pai em minha cabeça…

ATO III — No consultório médico.
– Dona Carla, como já lhe expliquei várias vezes, a senhora está bem fisicamente. Seus males não são reais. O trauma com a morte do esposo está repercutindo em seu psiquismo, levando-a a experimentar esses problemas todos.
– Mas doutor, minhas dores não me pare¬cem meras impressões subjetivas...
– São reflexos da tensão emocional. Procure descansar. Tente uma distração. Espaireça numa viagem...

ATO IV – No Centro Espírita.
– Pelo que a senhora informa, parece tratar-se de um problema de influência espiritual. O trauma pela morte do marido debilitou-a, facilitando o envolvimento.
– E que devo fazer?
– Compareça às reuniões de tratamento espiritual. Esteja atenta às orientações dos expositores. Receba o passe magnético. Em casa, leia O Evangelho segundo o Espiritismo, ore e confie.

ATO V – Na reunião mediúnica.
– Meus amigos, venho agradecer-lhes o carinho que me dispensaram há algumas semanas. Desde meu falecimento, em desastre automobilístico, sentia-me totalmente desequilibrado. Sem saber o que estava acontecendo, vi-me em meu lar, conversando com os familiares, a implorar ajuda. Ninguém me dava atenção. Em desespero, ignorando a condição de "morto", procurei Carla, minha esposa. Centralizei nela minhas súplicas, mas a pobre parecia igualmente destrambelhada. Sofri muito, até que me trouxeram aqui, onde recebi a bênção do esclarecimento. Agora estou bem. Entretanto, peço-lhes em favor de minha companheira. Por misericórdia! Ela precisa de ajuda! Está à beira de um esgotamento nervoso!
– Acalme-se, meu amigo. Ela em breve ficará boa. Ligada a você pelos laços do coração, colhia algo dos desajustes que o atormentavam. Com seu despertar para as realidades além-túmulo, desaparecerão os males que a afligem.

ATO VI – No Centro Espírita
– Então, dona Carla, como está?
– Otimamente bem, graças a Deus! Que fi¬zeram comigo? Que poder prodigioso foi mobiliza¬do em meu benefício?
– De nós mesmos, nada fizemos. Usamos apenas um pouco de boa vontade, favorecendo a ação de nossos amigos espirituais. A senhora ajudou muito, dispondo-se a seguir as instruções recebidas.

Conclusão:
A falta de preparo para a morte transforma muitos Espíritos desencarnados em obsessores inconscientes dos próprios familiares.
O "poder prodigioso" usado no Centro Espírita nada mais é que simples exercício de caridade em grupos que se reúnem para dialogar com os "mortos", oferecendo-lhes abençoada oportunidade de esclarecimento, com o que eles despertam para as realidades espirituais.
Assim, desfazem-se, sem maiores dificuldades, processos obsessivos dessa natureza, que exprimem angustiantes pedidos de socorro de viajantes desprevenidos embarcados para o Além.

Por Richard Simonetti

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