sábado, 1 de dezembro de 2012

INVERSÃO DE VALORES (NATAL)

Sérgio Ribeiro
Durante o solstício de inverno na Roma pagã, período que abrange os dias 17 a 23 de dezembro, celebravam-se as Saturnais, também denominadas como as “festas dos escravos”, em razão de ser-lhes concedidas oportunidades de prazeres, aumento da quota de alimentos, diminuição dos trabalhos a que se encontravam submetidos especialmente nos campos.
Homenageando-se o deus Saturno, os participantes entregavam-se aos mais diversos abusos, especialmente na área da sensualidade, da falta de compromissos morais, assemelhando-se às bacanais...
Quando o Cristianismo primitivo passou a dominar as mentes e os corações do Império, aqueles afeiçoados a Jesus, desejando apagar a nódoa moral que vinha do paganismo e permanecia atormentando a cultura vigente, transferiram a data do Seu nascimento para aquele período, aproximadamente, destacando-se o dia 25 para as celebrações festivas.
Havendo nascido o Mestre de Nazaré entre 6 e 8 de abril, segundo os mais precisos cálculos dos estudiosos do Cristianismo contemporâneo, o alto significado da ocorrência, pensavam então, teria força suficiente para apagar as lembranças dos abusos praticados até aquela ocasião.
O ser humano, nada obstante, mais facilmente vinculado às paixões primitivas, lentamente foi transformando a data evocativa da estrebaria de palha que se transformou numa constelação de estrelas, a fim de dar expansão aos sentimentos desequilibrados, assim atendendo às necessidades das fugas psicológicas, em culto externo de fantasia e de prazer.
Posteriormente, São Francisco de Assis, símile de Jesus pelo seu inefável amor e entrega total da vida, desejou recompor a ocorrência natalina, e realizou o seu primeiro presépio, a fim de que o mundanismo não destruísse a simpleza da ocorrência, apresentando o evento sublime na forma ingênua das suas emoções.
Durante alguns séculos preservou-se a evocação do berço dentro das modestas concepções do Cantor de Deus.
À medida que a cultura espraiou-se e as modernas técnicas de comunicação ampliaram os horizontes das informações, as doutrinas de mercado, assinaladas pelas ambições de compras e vendas, de extravagâncias e de presentes, de sedução pelo exterior em detrimento do significado interno dos valores, propôs novos paradigmas para as comemorações do Natal.
Na atualidade aturdida dos sentimentos, a figura de Jesus lentamente desaparece da paisagem do Seu nascimento, substituída pelo simpático e gorducho velhinho do norte europeu, Papai Noel, e o seu trenó entulhado de brinquedos para as crianças e os adultos que se entregam totalmente à alucinação festiva, distante da mensagem real do Nascimento.
Atualizando-se no Ocidente e, praticamente no mundo todo, as doces lendas sobre São Nicolau, eis que também a árvore colorida vem substituindo o presépio humilde nascido na Úmbria, e outro tipo de saturnália toma conta da sociedade, agora denominada cristã...
Matança de animais, excesso de bebidas alcóolicas, festas exageradas, extravagâncias de todo porte, troca de presentes, abuso de promessas e ânsia de prazeres tomam lugar nas evocações anuais, com um quase total esquecimento do Aniversariante.
A preocupação com a aparência, os jogos dominantes dos relacionamentos sociais e o exibicionismo em torno dos valores externos aturdem os indivíduos que se atiram à luxúria e ao desperdício, tendo como pretexto Jesus, de maneira idêntica ao culto oferecido a Saturno.
Propositalmente, os adversários da ética-moral proposta pelo Mestre procuram apagar a Sua lembrança nas mentes e nos corações, em tentativas covardes e contínuas de O transformar em mais um mito que se perde na escura noite do inconsciente coletivo da Humanidade.
Distraídos em torno da ocorrência perversa, pastores e guias do rebanho confundido deixam-se, também, arrastar pela corrente da banalidade, engrossando as fileiras dos celebradores do prazer e da anarquia.
É certo que Jesus não necessita de que se Lhe celebrem as datas de nascimento nem de morte, mas deseja que se vivam as lições de que se fez o Mensageiro por excelência, propondo novos conceitos e comportamentos em torno da felicidade e da responsabilidade existencial, tendo em vista a imortalidade na qual todos nos encontramos mergulhados.
Nada obstante, é de causar preocupação o desvio, a inversão de valores que se observam nas evocações festivas e na conduta dos celebradores, muito mais preocupados com o gozo e o despautério do que com os conteúdos memoráveis dos ensinamentos por Ele preconizados e vividos.
Por compreender as fraquezas morais do ser humano, Jesus entendia, desde então, tais ocorrências que hoje acontecem, as adulterações que se produziram nos Seus ensinamentos, e diante da indiferença que tomaria conta daqueles que O deveriam testemunhar, foi peremptório ao afirmar: – Quando eles [os seus discípulos] se calarem as pedras falarão... [Lucas, 19:40.]
Concretizou-se o Seu enunciado profético, porque, nestes dias tumultuosos, nos quais não se dispõe de tempo, senão para alguns deveres de trabalho que proporcione compensações imediatas, o silêncio das sepulturas quebrou-se e as vozes da imortalidade em grande concerto vêm proclamar e restaurar a mensagem de vida imperecível, despertando os adormecidos para a lucidez e a atualização da conduta nos padrões elevados do Bem.
Não mais os intérpretes que adaptam os ensinamentos às suas próprias necessidades, distantes do compromisso com a Verdade; que se deixam dominar por excessos de zelos desnecessários, transferindo os seus conflitos para os comportamentos que os demais devem vivenciar; que se refugiam nos arraiais da fé, não por sentimentos elevados, mas procurando ocultar os conflitos nos quais estertoram...
As vozes dos Céus, destituídas dos ornamentos materiais e das falsas necessidades do convívio social, instauram a Nova Era, trabalhando pelo ressurgimento das lições inconfundíveis do Amor, conforme Ele as enunciou e as viveu até o holocausto final...
O Seu Natal é um momento de reflexão, convidando as criaturas humanas a considerarem a Sua renúncia, deixando, por momentos, o sólio do Altíssimo para percorrer os caminhos ásperos da sociedade daquele tempo, amando infatigavelmente e ensinando com paciência incomum, de modo a instalar na rocha dos corações os alicerces do Reino de Deus que nunca serão demolidos.
Assim sendo, embora a inversão de valores em torno de Jesus e de Sua doutrina, que se observa nas leiras do Cristianismo nas suas mais variadas denominações, nenhuma força provinda da insensatez conseguirá diminuir a intensidade de que se revestem, por serem os caminhos únicos e de segurança para que a criatura, individualmente, e a sociedade, em conjunto; alcancem a plenitude a que aspiram mesmo sem o saber.

Vianna de Carvalho
(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã do dia 17 de novembro de 2008, na cidade do Porto, Portugal.)
Reformador Dezembro 2009

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