sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Arrependimento

O pai de família chegou em casa e se sentou à mesa com as contas do mês a pagar, e algumas já vencidas, quando seu filhinho, cheio de alegria, entrou correndo na sala e disse com entusiasmo:
- Feliz aniversário, papai! Mamãe disse que você está completando 55 anos hoje, por isso eu vou lhe dar 55 beijos, um para cada ano.
O garoto começou a fazer o que prometera, quando o pai exclamou:
- Oh! Filho, agora não! Estou tão ocupado!
O menino fez silêncio imediato. Mas o seu gesto chamou a atenção do aniversariante. Olhando-o, o pai percebeu que havia lágrimas em seus grandes olhos azuis. Desculpando-se, disse ao filho:
- Você pode terminar amanhã.
O menino não respondeu e não foi capaz de disfarçar o seu desapontamento enquanto se afastava.
Naquela mesma noite o pai lhe falou: - Venha cá
e termine de me dar seus beijos agora, filho.
Ou ele não ouviu ou não estava mais com vontade,
pois não atendeu ao pedido.
Dois meses depois, um acidente levou o garoto.
Seu corpo foi sepultado num pequeno cemitério perto
do lugar onde ele gostava de brincar.
Aquele pai, constantemente se sentava ao lado do túmulo do seu
pequeno e, observando a natureza, pensava consigo mesmo:
"O canto do sabiá não é mais doce que a voz do meu filho, e a rolinha que canta para os seus filhotes não é tão gentil como o menininho
que deixou de completar a sua declaração de amor."
Ah! Se eu pudesse ao menos lhe dizer como me arrependo daquelas palavras impensadas, e como o meu coração está
doendo agora por causa de minha falta de delicadeza.
"Hoje eu fico aqui sentado, pensando em como pude não retribuir seu afeto, mas entristeci seu pequeno coração, cheio de ternura."

Às vezes, por motivos banais, deixamos passar oportunidades únicas,
que jamais se repetirão.
São momentos em que uma distração qualquer nos afasta do abraço afetuoso de um ser querido.
Um compromisso, que poderíamos adiar, nos impede de ficar
um pouco mais com alguém que nos deixará em breve...
Depois, como aconteceu ao pai que recusou os beijos do filho,
só resta a dor do arrependimento.

E essa dor é um fogo que queima sem consumir.
E não é necessário que a pessoa a quem negamos nossa atenção seja arrebatada pela morte, para sentirmos o desconforto do arrependimento.
Quantos filhos deixam de procurar os pais, por falta de atenção,
e se vão, em busca de alguém que ouça seus desabafos
ou responda suas perguntas.
Quantas esposas se fecham no mutismo, depois de várias tentativas de diálogo com o companheiro indiferente ou frio. Quantos esposos se isolam após tentativas frustradas de entendimento.
Por todas essas razões, vale a pena prestar atenção nos braços que se distendem para um abraço, os lábios que se dispõem para um beijo,
as mãos que se oferecem para um carinho.
Um gesto de ternura deve ser sempre bem recebido, mesmo que estejamos sobrecarregados, cansados, sem vontade de atender.
Uma demonstração de amor é sempre bem vinda, para dar novo
colorido às nossas horas, ao nosso dia-a-dia, às nossas lutas.
O amor, quando chega, dissipa as trevas, clareia o caminho, perfuma
o ambiente e refaz o ânimo de quem lhe recebe a suave visita.

Redação do Momento Espírita 
Cepal André Luiz

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