sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Dar de Graça

Um grupo de senhoras ofereceu a Chico Xavier maravilhoso tapete.
– Trouxemos este tapete que tecemos para você com muito carinho.
– Minhas irmãs, nem sei como agradecer-lhes tamanha generosidade. É meu mesmo? Posso guardá-lo?
– Claro. E, por favor, não dê para ninguém. É seu…
– Obrigado, queridas irmãs. Agora eu gostaria que as senhoras fizessem um grande favor, de imenso valor.
– Diga Chico. Faremos o que desejar.
– É o seguinte: fiquem com este tapete, guardando-o em sua casa, para mim…
Proverbial o desprendimento de Chico, que sempre transferia para instituições ou necessitados os presentes que recebia. Aqui, com um detalhe sugestivo: atendendo à recomendação das visitantes, que o impedia de dispor do presente, fez delas as depositárias.
Outro episódio ilustrativo envolve bem mais valioso, um automóvel novo, zero-quilômetro. No momento em que Chico o recebeu, chegava um comerciante. Imediatamente entregou-lhe o carro, pedindo que o pagasse em macarrão para ser distribuído aos carentes.
Considerado, para fins editoriais, o autor dos quatrocentos e doze livros que psicografou, Chico estaria milionário se cobrasse por eles. Nunca reivindicou um tostão. Doava os direitos autorais a instituições espíritas, ressaltando, humilde, que era mero intermediário dos verdadeiros autores, os Espíritos desencarnados.
Se Chico guardasse apenas os presentes que lhe ofereciam seria o suficiente para deixar valioso patrimônio, o que não aconteceu porque, sistematicamente, até propriedades encaminhava a instituições beneficentes e pessoas carentes.
Seguia rigorosamente a recomendação de Jesus (Mateus, 10:8): Dai de graça o que de graça recebestes.
E também a orientação de Kardec, expressa em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVI: Quem, pois, deseje comunicações sérias deve, antes de tudo, pedi-las seriamente e, em seguida, inteirar-se da natureza das simpatias do médium com os seres do mundo espiritual. Ora, a primeira condição para se granjear a benevolência dos bons Espíritos é a humildade, o devotamento, a abnegação, o mais absoluto desinteresse moral e material.
Infelizmente essas recomendações nem sempre são observadas, principalmente quando dizem respeito aos médiuns de cura, que desenvolvem atividades em favor da saúde humana, mas à distância do estudo e da reflexão sobre suas responsabilidades.
Atraem multidões, sempre dispostas a algo oferecer em dinheiro ou espécie aos seus benfeitores. A tentação é grande. Médiuns dotados de apreciáveis faculdades põem a perder seu trabalho, por se renderem ao desejo de recompensas da Terra, esquecidos de seus compromissos com o Céu.
Vivendo existência simples, sem luxos e facilidades, Chico foi um exemplo marcante para os médiuns dispostos a cumprir a sagrada tarefa, atento à recomendação de Kardec, no capítulo citado: Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam.
Richard Simonetti
richardsimonetti@uol.com.br

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