“Chamava-se Helena. Era mulher miserável que vivia a bater de porta em porta em busca de comida para seus 5 filhos. Morava em uma cabana à beira do lago imundo, de onde emanavam odores fétidos dos dejetos ali depositados. Acostumara-se com a pobreza e com a doença freqüente de suas crianças. À noite, no tempo das chuvas e ventos, permanecia em pé por toda a noite a velar o sono dos pobres filhos, no único canto da choupana onde a água não os atingia.
Manhã de sol. E lá vai ela a mendigar o seu pão e a receber insultos descaridosos dos menos compreensíveis. Por todo o dia vagava pela rua em busca de agasalho e à mercê da comiseração dos outros. Um dia, leve sono tomou-lhe o corpo, deitada que estava em uma relva suja, descansando das andanças rotineiras. Viu-se em suntuoso palácio a ditar ordens a seus vassalos. Mulher rica e poderosa, tentava a todo custo valer-se dos prazeres do mundo para conseguir satisfazer suas ambições no campo do sexo e do poder. Dinheiro não lhe era problema, pois era dona de extensas áreas de terra onde cultivavam, os pobres empregados, imensa vinha de onde saía quase todo o vinho consumido na Itália da época. Perguntava-se, em suas horas de solidão, o que lhe faltava para ser feliz, mas logo fugia de suas elucubrações íntimas por achar que tinha tudo e conseguiria muito mais.
Tinha a seus pés todos os homens e mulheres que desejava e tripudiava sobre a dor alheia, não depositando sequer um níquel para aliviar a miséria dos que trabalhavam sob o seu mando, servindo-lhes fielmente. Certo dia a filha de uma de suas mucamas adoeceu agudamente e necessitou de quem a acudisse. Ela estava em belo e movimentado sarau, a desfilar sua beleza e glória. Não importava-se com os apelos desesperados do pai que correndo veio pedir-lhe o abençoado socorro. Não poderia sair do seu deleite por motivo tão insignificante. Pela manhã veria o que fazer.
Dois dias depois lembrara-se da pobre Iara e de sua filha. Soube que tinha enterrado a menina no dia anterior. Lamentou por aquele instante para depois afirmar que fora melhor para ela, pois assim não sofreria entre os pobres. Assim era Isaura, a bela e poderosa mulher que hoje penava pelas ruas da cidade a solicitar agasalho e pão para seus filhos, Espíritos também apegados a ela pela afinidade dos débitos e sentimentos.
Assustada, Helena despertou do sono. Olhou em volta. Nada parecia ser real. Tinha a sensação de ter vivido tudo aquilo um dia. Mas, que dia? Pensou. Só se tem uma vida. E foi-se, juntamente com dois dos cinco filhos, caminhando pelas ruas. Olhar perdido pela desilusão e tristeza de quem teve tudo um dia e desperdiçou, como fazem todos os Espíritos ignorantes das leis de Deus.”
Um Espírito instrutor.
Sociedade de Estudos Espíritas Allan Kardec
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