sábado, 29 de junho de 2013

Dívidas e Resgastes

Uma das cunhadas de Chico teve um filho anormal. Braços e pernas atrofiados. Os olhos, cobertos por uma espessa névoa, mantinham-no mergulhado na mais completa escuridão. Inspirava medo às pessoas que o viam. Era tão deformado que a mãe ao vê-lo teve um choque e foi internada num hospital de doentes mentais.
O Chico ficou com o sobrinho.
Cuidar dele não era fácil. Medicá-lo, banhá-lo e aplicar-lhe um clister diariamente. O menino não deglutia e para alimentá-lo, o Chico tinha que formar uma pequena bola com a comida, colocar em sua garganta e empurrar com o dedo.
Isto, durante doze anos aproximadamente.
Quando o sobrinho piorava, o Chico rezava muito para que ele não desencarnasse. Já que o amava como um filho.
Um dia o Espírito de Emmanuel lhe disse:
- Ele só vai desencarnar quando o pulmão começar a desenvolver e não encontrar espaço. Aí, então, qualquer resfriado pode se transformar numa pneumonia e ele partirá.
Quando estava próximo dos doze anos, foi acometido de uma forte gripe e começou a definhar.
Na hora do desencarne, seus olhos voltaram a enxergar. - Ele olhou para o Chico e procurou traduzir a sua gratidão naquele olhar.
Emmanuel, presente, explicou:
- Graças a Deus. É a primeira vez, depois de cento e cinquenta anos, que seus olhos se voltam para a Luz. As suas dívidas do passado foram liquidadas.
Louvado seja Deus.


(Do Livro: Chico de Francisco - Adelino da Silveira)

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