sexta-feira, 7 de junho de 2013

PAULO, O APÓSTOLO.

Sérgio Ribeiro

À vidente apresenta-se um homem alto, meio calvo, barba branca e longa, cabelos anelados, trajando túnica escura e tendo sobre o ombro um manto claro.
O espírito, que se conservou de braços abertos durante o tempo que ditou a sua comunicação, estava circundado de luz branca, brilhante como prata e contornada de raios verdes.

O mundo, quando eu o habitei, era apenas planeta no começo da sua vida de provação e, portanto, de evolução e aperfeiçoamento dos homens.
Nessa época, poucos tinham intuição do papel que o seu planeta fora chamado a representar no concerto harmonioso do Universo, raros os que puderam, naquela quadra, compreender o desideratum da Divina Sabedoria. Entre os que podiam alguma coisa perceber da Infinita Justiça, estava este que ora vos fala, após 18 séculos; mas o que pude compreender então nada é em comparação ao que hoje sei e compreendo e posso ensinar-vos. Não sou mais aquele que acreditava fosse a justiça de Deus coisa que, em certos momentos, se amolda aos interesses e às conveniências dos homens.
Nos meus dias de vida terrena, pensava eu que a Terra era o único centro para o qual Deus volvia os Seus olhos complacentes e misericordiosos, supunha que, além dela, nada mais existia digno de atenção do supremo Arquiteto; julgava ser a humanidade que me cercava a única que tinha a missão de glorificar e honrar a Divina e Sublime Sabedoria.
Nunca imaginei que pudessem existir outros centros, outros mundos, outras Terras, onde outras tantas humanidades cumpriam também as suas provações e trabalhavam para o evoluir constante do Universo; jamais poderia conceber que fora deste planeta outras vidas mais positivas, completas e perfeitas se desdobrassem pelo infinito além, contribuindo todas para o esplendor e a magnificência da obra do Criador.
Afigurou-se me sempre que, após a morte, me encontraria num céu aberto, circundado de nuvens, estrelas e anjos, e que ao meu lado sentiria a voz e o calor emanado desse Ente pelo qual me converti e por cuja glória me sacrifiquei. Pensei que ouviria, logo ao fechar os olhos, aquela música de que me falavam as escrituras e que as harmonias celestes viriam imediatamente acariciar o meu espírito. Julguei, enfim, fosse o próprio Deus que viria abrir a porta por onde eu devia entrar, após o sacrifício que fizera da vida por amor da Sua Doutrina, e esperava vê-lo, tocá-lo, apalpá-lo, como prometiam as Escrituras e como eu mesmo ensinava aos que me pediam informação acerca da natureza intima de Deus.
Fui o maior e o mais fiel observador dos mandamentos do Sinai; decidido e irredutível inimigo dos cismas, das seitas, dos credos pagãos e dos dogmas profanos que, na minha época, fervilhavam por toda parte; mantive o mais absoluto desprezo por tudo o que não fosse a verdade pura, revelada pelos profetas e pelos santos.
Procurei sempre confundir a hipocrisia, destruir os falsos ensinos dos judeus; combati pela palavra, e com ardor inquebrantável, todos os erros do Antigo Testamento e procurei edificar uma nova Canaã para os que chamava filhos de Deus. Nunca me preocupei com o exterior das coisas: o âmago, o fundo e a essência foram sempre o objeto da minha predileção.
Abandonei sempre as palavras pela ação; fui homem de fatos e de provas e jamais me deixei arrastar pela puerilidade das coisas vãs.
Nunca no meu espírito a dúvida e a incerteza encontraram agasalho: a firmeza e a inflexibilidade foram sempre as minhas melhores armas de combate.
De tudo, porém, quanto fiz e edifiquei uma única coisa ficou e continuará de pé: a afirmação categórica que sempre fiz da existência de Deus, da Sua onipotência, da Sua infalível justiça, da Sua infinita misericórdia, do amor e da sabedoria também infinitos.
Tudo quanto preguei com relação a alma humana, ao destino final da criatura, às penas e recompensas eternas, ao modo de vida dos eleitos e puros espíritos - tudo isso é diante da verdade que hoje conheço e que (não me sinto humilhado em confessar) é completamente oposta à que ensinei, aquela pela qual tanto me sacrifiquei.
Estou, neste instante, falando ao mundo onde vivi e onde as minhas palavras foram sempre ouvidas com respeito e acatamento, mas sinto que outro dever, mais imperioso que aquele que outrora ditava essas palavras, me obriga a vir a este mesmo mundo, a este planeta em cuja atmosfera ecoa ainda a minha voz, em cujos espíritos ainda encontram asilo os meus ensinamentos; digo - é aqui mesmo nesta mesma Terra, que venho retificar o que, há 18 anos, preguei, o que ensinei como a última expressão da verdade.
Sinto que os dias que vão correndo e as horas que vão passando sejam tão ligeiros e fugazes para os que me ouvem neste momento, porque se assim não fora, haviam de ver aí mesmo, nessa vida que estão vivendo, o acerto do que lhes afirmo dizendo que a verdade por mim explicada outrora, os ensinamentos que ontem divulguei pelos homens, as lições que dei às criaturas, podem ser resumidos em algumas palavras, encerrando em breves e ligeiros conceitos, em curtos e sintéticos ensinamentos.
Todas as bíblias, todos os dogmas fundidos, condensados, não valem uma palavra, uma letra dessa verdade sublime que hoje venho pregar, que ora venho semear.
Nada do que está escrito vale este punhado de palavras, este conjunto de frases, esta reunião de ensinamentos que vos venho trazer como presente de velho amigo que, um dia, tendo dado a outrem qualquer objeto e, mais tarde, reputando-o insignificante, se apressasse em vir substituir esse objeto por outro mais belo e duradouro. Aqui tendes, pois, o presente: - Deus não é, como pensais, um homem, um ser material - digo material no sentido em que tomais a palavra matéria - um ser vivendo vida perecível, sujeito às vicissitudes da matéria, sofrendo os prejuízos desta e exposto a alterar-se a decompor-se, a desagregar-se, a desaparecer, portanto. Não; Deus não é um ser como vós outros, não tem a vossa matéria, nem as vossas necessidades e os vossos desejos, tão pouco reveste a forma que revestis; os Seus atributos são muito diversos dos que ornam os seres humanos, muito diferentes daqueles que caracterizam a vossa matéria.
Deus sem ser, pois, material, sem existir debaixo de uma forma determinada, é, entretanto, um ser vivo, palpitante, integro; não teve começo e não terá fim, sendo portanto, infinito, eterno, imutável e infinitamente perfeito.
Ele é a vida de todas as coisas, o princípio e o fim de tudo; é a inteligência e a sabedoria que edificam, que conservam e mantém tudo quanto existe na Terra e no Universo.
Deus é a alma de tudo, a consciência do Universo, a síntese de todas as forças, de todas as vontades, de todas as energias.
Deus é o equilíbrio de tudo, o prumo que regula todas as coisas, a bússola que orienta toda a natureza.
Deus é mais ainda: é o Pai, o Amor, a Misericórdia e o infinito e supremo Bem. Não é visível - mas existe e podeis senti-lo; não é palpável - mas podeis tocá-lo com a vossa razão; não é ouvido - mas podeis escutar a Sua voz no fundo da vossa própria consciência; não é redutível - mas podeis conte-lo dentro dos limites da vossa fé; não é um homem - mas é um espírito e podeis contemplar a Sua imagem no vosso próprio espírito.
Deus não tem forma - mas podeis distingui-lo no bem, na verdade, na justiça e no amor.
Deus não é divisível - mas podeis senti-lo por toda parte, na Terra, no seio da natureza, no mar, no céu, no Universo, no infinito!
Deus é, desse modo, o espírito que anima e vivifica tudo o que prende e unifica toda a natureza, é a força propulsora de tudo que se move e agita no Universo; mas não podeis medir, nem calcular Sua ação.
Se Deus não e homem, se a Sua natureza íntima não pode ser definida nem compreendida por vós outros, contudo, a Sua justiça e a Sua lei podem perfeitamente caber dentro da vossa compreensão e - aí está a sabedoria - o que é infinito produzindo efeitos cabíveis no que é estreito e reduzido, como o vosso entendimento e a vossa razão.
Se Deus não pode ser visto nem tocado - no sentido em que compreendeis o contato - podeis, todavia, senti-lo nos efeitos da Sua sabedoria, nas manifestações de tudo que existe e na irradiação da suprema e infinita justiça!
O infinito é o ponto onde Deus habita, onde a Sua grandeza e o Seu amor se fazem sentir.
Deus é infinito - por isso, deveis procurá-lo no infinito; não tem forma - por isso, deveis buscá-lo no ilimitado, no incomensurável. Deus é invisível - por isso, O procureis não na forma, mas na essência das coisas. É infinitamente bom, misericordioso, infinitamente sábio e infinitamente Pai amantíssimo - por isso, ireis encontrá-lo no infinito de todas as perfeições.
A vida futura, que a uns se apresenta como primavera em flor, ou como inferno, terrível pesadelo para muitos, nada mais é que a voz das consciências que, após a morte, se reúnem em pontos diferentes do Universo.
Cada uma leva para ali a suas misérias, as suas fraquezas, as suas dores e os seus remorsos - este está, como dizeis, no inferno; ou transporta as suas virtudes, os seus dons morais, as suas boas obras, a paz e a tranquilidade das suas consciências - aí tendes o céu.
O que existe, pois, no chamais outro mundo nada encerra de misterioso nem sombrio, visto que é o que daqui levais convosco.
A vida futura, portanto, é preparada aqui na Terra pelas vossas próprias mãos e podeis daqui mesmo, se quiserdes, escancarar as fornalhas do inferno ou abrir as portas do céu, que vos dará a paz e a doçura infinitas; e as existências múltiplas vos são dadas como meio de conquistar as delícias do céu e apagar as chamas do inferno que devoram a vossa consciência.
Cada um leva para ali as suas misérias, as suas fraquezas, as suas dores e os seus remorsos – este está, como dizeis, no inferno; ou transporta as suas virtudes, os seus dons morais, as suas boas obras, a paz e a tranquilidade das suas consciências – aí tendes o céu.
O que existe, pois, no que chamais outro mundo nada encerra de misterioso nem sombrio, visto que é o que daqui levais convosco.
A vida futura, portanto, é preparada aqui na Terra pelas vossas próprias mãos e podeis dizer daqui mesmo, se quiserdes, escancarar as fornalhas do inferno ou abrir as portas do céu, que vos dará a paz e a doçura infinitas; e as existências múltiplas vos são dadas como meio de conquistar as delícias do céu e apagar as chamas do inferno que devoram a vossa consciência.
Podeis, assim, conseguir, a vosso belo prazer, o que mais vos agradar; ou os esplendores do céu, ou as torturas e os homens do inferno.
Deus não consente que nenhuma alma pereça para sempre - por isso é infinitamente bom; para Ele não há pecados sem remissão - por isso é infinitamente misericordioso; não consente que um filho sofra pelo que fez o seu pai e vice e versa - por isso é infinitamente justo: nenhum poder existe que atenue o Seu - por isso é onipotente; dispensa a todos os espíritos o mesmo afeto - por isso é o Infinito e Inesgotável Amor.
Podeis, portanto, escolher o que mais vos agradar, o que mais vos convier - ou a paz do céu, ou o desassossego do inferno, pois tudo depende da vossa vontade e do vosso esforço. Um dia sereis produto de vós mesmos, a felicidade ou infortúnio que vos sobreviver será resultante da vossa atividade ou da inércia a que vos entregardes na vida.
Concito-vos daqui a preferir o céu, isto é, a paz da consciência depois da transformação a que chamais morte; convido-vos a vir habitar o céu, de preferência ao inferno; chamo-vos para a casa de Deus, a habitá-la, a residir nela para sempre.
Vinde, pois para o céu, para a paz, para a felicidade eterna. Não é isso jornada tão difícil como vos parece, o caminho é de fácil percurso.
Praticai boas obras, sede humildes, generosos e modestos; praticai o bem em toda a parte e sob todas as formas; perdoe aos vossos semelhantes por maior que seja a ofensa que vos tenha sido feita; sede sempre compassivos e piedosos para com os que gemem, para com os que sofrem; evite ferir para que não vos firam; não calunieis para que não vos caluniem; recebei sempre com um sorriso o que a maledicência proferir contra vós; evitai sempre que puderes, o escândalo público, a difamação do vosso semelhante, ainda mesmo quando for vosso inimigo.
Perdoai, perdoai sempre e sempre, para que Deus também vos perdoe para sempre.
Praticai a caridade, mas aquela de que fala de Jesus: “Que a mão esquerda não veja o que a direita der”.
Aqui vos deixo traçado o caminho que vos conduzirá ao céu; preferi-o ao oposto que os levará às torturas do inferno. Que as minhas palavras de hoje medrem nos vossos corações como as de outrora. Tenho dito. Adeus!

Paulo, apóstolo
Julho de 1916

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