A jovem reclama atribulada:
– Chico, estou com Espírito mau encostado. Por caridade, tire ele de mim!
E o médium:
– Uai, gente! Para que tirar Espírito?! Vamos nos evangelizar todos juntos, encarnados e desencarnados!
Episódio simples, trazendo em seu bojo o bom-humor temperado de sabedoria que caracterizava o médium de Uberaba.
Há aqui material para interessantes reflexões.
A primeira diz respeito ao chamado encosto.
Segundo informações da espiritualidade, a população de Espíritos desencarnados é superior à dos encarnados. Perto de seis bilhões e quatrocentos milhões, aqui. Perto de dezenove bilhões, além.
Embora o Plano Espiritual, a morada dos Espíritos, desdobre-se em vários planos, considerável parcela dos desencarnados concentra-se na crosta terrestre, presos aos interesses, paixões e vícios que aqui cultivaram.
Situam-se como balões que não conseguem subir por trazerem em seu bojo lastros pesados. Acabam envolvendo-se com os homens, atendendo a motivações variadas.
Geralmente a visão que temos de sua influência é extremamente negativa, condicionada por velhas fantasias sobre seres demoníacos que perseguem os homens.
Popularmente, consagrou-se da ideia do encosto, um ser invisível que nos persegue, perturba e oprime.
Em alguns círculos religiosos o encosto é repelido e afastado com rituais de exorcismo, aplicados com veemência, encaminhando-os às supostas origens, nas profundezas do inferno.
Infelizmente, há muita ignorância em relação ao assunto, a partir da própria expressão. O Espírito não encosta na vítima. Apenas estabelece sintonia com ela, imprimindo algo de suas perplexidades, dúvidas e males que o atormentam.
Tratá-lo como um inimigo cruel, que deve ser afastado a todo custo, é no mínimo falta de caridade. Ele precisa, e muito, não de exorcismo, mas de ajuda e orientação, a fim de que supere suas dificuldades e adquira condições para ser atendido por mentores espirituais.
Então, não se trata de expulsar o adversário, mas de ajudar o irmão, um filho de Deus como nós outros. E o Senhor há de apreciar, como o faria qualquer pai da Terra, nossa boa vontade.
O leitor naturalmente estará evocando a figura do perseguidor, o Espírito que maltrata suas vítimas, por vingança ou insólito prazer. Argumentará:
– Esse ser maléfico deve ser execrado e afastado com todos os recursos de que possamos dispor, a fim de que deixe de perturbar as pessoas.
Aqui entra a orientação sábia de Chico: Evangelho nele!
E como evangelizar o Espírito, convencendo-o de que labora em engano, que deve modificar suas disposições?
É simples: Evangelho em nós!
Como sabemos, meu caro leitor, a didática do Evangelho é o exemplo. Ensinar praticando.
Mesmo quando estejamos às voltas com obsessores vingativos a nos perseguirem, se nos empenharmos em vivenciar as lições de Jesus; se não nos deixarmos dominar por sentimentos negativos; se exercitamos todo bem ao nosso alcance, estaremos elevando nosso padrão vibratório, com o que nos libertaremos, automaticamente, de sua influência.
Melhor que isso: acabaremos por modificar suas próprias disposições. O Evangelho é irresistível. Por mais empedernido seja um obsessor, não conseguirá agredir por muito tempo alguém que responde às suas agressões com um comportamento cristão.
Richard Simonetti
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