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As religiões mais nos enchem de ilusões, dúvidas e, sobretudo, esperanças em coisas que nem temos certeza de que, um dia, vão acontecer. Dão-nos esperanças de recompensas, nos dão medos e remorsos pelos erros, sentimentos de culpa, sofrimentos, preocupações. É certo que suas regras objetivam trazer um melhor relacionamento entre as já tão sofridas criaturas divinas. Veja o Decálogo: não matar, não roubar, não cobiçar o que seja do próximo, não desonrar, não dar falso testemunho, não adulterar. Observe que aí nada tem que signifique regra de “salvação”. Quanto aos quatro primeiros são inócuos, pois apenas visam a que se respeite aquele ser poderoso que o homem tão somente “imagina” o que possa ser. E não só que se respeite, mas até que se tema, como ainda hoje ocorre com tantas ameaças que as religiões, não só as ocidentais, apregoam ...
Veja o que todos os líderes, depois tidos por líderes religiosos, tiveram que fazer inicialmente: colocar ordem e tranqüilidade ao povo. Esse é o exemplo de Moisés, liderando uma fuga pelo deserto de, fora as crianças, 600 mil pessoas, rebeldes, sofridas, desorganizadas, indisciplinadas, prontas para matar, roubar, cobiçar etc. Como esse povo o obedeceria, quando não tinha recurso algum a não ser a vontade de se livrar do cativeiro de muitos anos no Egito? Somente despertando-lhe medo, o que fez apresentando-lhe um “Deus poderoso e cruel”, com ordens que, se negligenciadas pelo povo pagão, resultariam castigos terríveis e assustadores, como ocorreu tantas vezes. O mesmo fez Maomé, com seu povo nômade.
Observe e verá que, ainda hoje, aquele medo persiste. Essa a razão de confissões e comunhões, promessas, sacrifícios, auto-flagelação, o forçar a própria natureza para perdoar, para agir com amor ao próximo, penitências, orações etc. Como não podemos deixar de perceber, é o medo que está por trás de tudo isso; medo de não estar protegido, de não agradar ou de ofender a divindade; de não cumprir os mandamentos de sua crença e vir a ser, em conseqüência, sentenciado a penalidades torturantes e cruéis ditas educativas, num futuro incerto.
O medo dos ancestrais ainda está em nós. E a crença de que agradando os “deuses” seremos favorecidos, também. Quanta coisa o homem faz para agradar e, assim, conseguir o favor de Deus? O sacrifício nas diferentes promessas de fazer ou não fazer isto ou aquilo; o sacrifício do próprio corpo no jejum, ou, de joelhos, subindo escadarias ou caminhando longos percursos, carregando uma pesada cruz; a auto-flagelação, rezas e orações, serviços/caridade forçados ao próximo etc.
Quantas vezes a natureza do indivíduo ainda não tem condições de amar, mas ele a força, pois que acredita que deve seguir os conselhos de sua crença particular e, assim, também, poderá conseguir méritos. Por isso os sábios dizem que, enquanto não se “conhecer a verdade que liberta”, como disse Jesus, todas as virtudes são ou prematuras, imitações, forçadas ou falsas. O homem, muito do que faz quando parece virtuoso, o faz por receio da desaprovação de Deus. A expressão comum “sou temente a Deus” é significativa.
As lições de Jesus, em geral, tinham o mesmo objetivo: uma vida menos sofrida pelo fato de todos se respeitarem naqueles aspectos citados; quando o Mestre disse “... dali não sairás até que tenhas pago o último ceitil...”, “... serás atirado ao fogo da geena...”, “... teu credor te levará ao juiz...”, observe que tudo visava a um relacionamento mais harmonioso com vistas a suavizar a vida daqueles homens já sujeitos a tantas desditas.
Isso é a religião, sobretudo a religião popular, organizada: leva os homens a melhor se conduzirem e se respeitarem, sobretudo por temerem as conseqüências, tantas vezes inenarráveis, de seus “erros”. Por isso, sérios pesquisadores do cristianismo primitivo afirmaram que “‘pelo cristianismo de hoje, ninguém chega ao Pai”, que “a igreja cristã falhou, por estar fazendo a humanidade ocidental caminhar contra um muro, sem conseguir dar um passo na direção de Deus”.
Por isso, também, os mestres chegam a afirmar que “as religiões impedem o acesso à verdade”, que “aquele que se liga a religiões organizadas é imaturo”. As religiões visam trazer ordem e tranqüilidade, mas não levam a Deus.
Cito o amigo:
”Mesmo como respostas condicionadas e não "puras"..., tudo o que fazemos... afeta a todos... e a nós mesmos”.
Cel: Sim, amigo, afeta nesse sentido exposto acima: no sentido de trazer maior ou menor harmonia; não nos aproxima de Deus.
Cito o amigo:
”Não seria isso caridade, uma virtude ao alcance de todos?”
Cel: É verdade que tais atos beneficiam o próximo; mas é espontâneo esse ato caridoso, ou é feito por interesse ou porque os mestres recomendam que se faça assim? Ou é feito para se sentir bem com a consciência? O homem virtuoso nem sabe que é virtuoso.
O amigo:
”... temos que buscar a nossa iluminação... Mas, devemos ignorar aqueles que sofrem...?”
Cel: É evidente que não, amigo. Pois o Mestre ensinou isso: amar o próximo... O amor está no caminho que leva à iluminação. E você ignoraria o sofredor? É sua natureza, sua religião ou seu medo da desaprovação de Deus que o leva a amar o sofredor?
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