sexta-feira, 29 de março de 2013

CADÁVERES E FAMA

Sérgio Ribeiro
Pessoas há que transitam no mundo hodierno, aureoladas pela fama a que fazem jus, em razão dos procedimentos elevados e dos labores de edificação que realizam em favor da sociedade.
Outras também existem que permanecem no anonimato, embora as ações de engrandecimento moral que desenvolvem, optando pelo silêncio, não se preocupando com as láureas da glória, nem com os ouropéis da ilusão terrena.
Igualmente se notabilizam aquelas que se fazem verdugos do seu próximo, sendo a sua celebridade decorrente das aflições que infligem, tornando-se lamentavelmente notórias pela crueldade que lhes é peculiar.
Tão logo desencarnam, são comentadas, invejadas, imitadas, transformando-se em modelos para condutas pessoais, pelo menos, por algum tempo, em decorrência do choque e do traumatismo que produz o seu falecimento.
Há pessoas, no mundo das frivolidades, que têm dificuldade para alcançar metas grandiosas e atingir posições que despertem comoção, quais o destaque na comunidade, no poder econômico, político, social...
Borboleteiam em volta daquelas que são focos da atenção geral, buscando imitá-las pelo exterior, copiando-lhes o maneirismo, a caligrafia, os temas de conversação, os tiques e características da comunicação verbal...
Quando desencarnam esses indivíduos, que se tornaram célebres, os seus seguidores estão vigilantes e ansiosos para tomar-lhes o lugar, mesmo que em postura secundária, atirando-se em aguerridas disputas pelos tesouros da aparência, fazendo-se famosos graças aos seus cadáveres...
Não têm por meta o trabalho de construção do bem, que os imitados produziram, mas propõem-se a herdar-lhes a fama, a serem seus substitutos na forma, sem as credenciais superiores de natureza moral, que os tornariam, sem dúvida, seus continuadores.
Engalfinham-se em intrigas odientas, em batalhas verbais ou escritas contra os demais, apontando--os como desejosos de serem os legatários reais, com o objetivo exclusivo de afastá-los do seu caminho, deixando-lhes em aberto o espaço que disputam.
Ao agredir aos outros, exteriorizam o conflito em que se aturdem, receando perder o campeonato da insensatez que perseguem avidamente.
Vestem a capa da humildade, e, através de comportamento fingido, assim como de simplicidade forçada, sem qualquer credencial para aspirar à fama que perseguem, pensam merecer as honrarias da glória fugidia que ambicionam.
Não se dão idéia do ridículo a que se expõem, e malbaratam a excelente oportunidade ao seu alcance para a iluminação interior que postergam.
Para eles é muito difícil assumir o que são, a sua realidade, trabalhando em favor da própria transformação moral para melhor.
Desejam a fama a qualquer preço, embora se recusem pagar o tributo que a mesma exige, em razão de a coroa de que se faz portadora pesar muito, não raro, vergando a cabeça daquele que a ostenta...
...
Luta, porém, para a preservação da tua identidade, sem inveja de ninguém.
És, o que fazes de ti.
Por mais que admires alguém, não o copies pelo exterior, antes aprende as lições de que seja portador, insculpindo-as nos refolhos d’alma, a fim de vivenciares os seus exemplos dignificadores, as suas renúncias grandiosas.
Toma-os como lições vivas e aplica-as no teu comportamento pessoal.
Prossegue, porém, tu mesmo, com as tuas características, as tuas conquistas, os teus valores em contínuo processo de enriquecimento espiritual.
É muito desagradável e perturbadora a dissimulação.
Esforça-te por ser autêntico, por assinalar a tua marcha evolutiva com as tuas realizações pessoais, todas decorrentes das tuas lutas de iluminação, que nascem no pensamento, exteriorizam-se no verbo edificante e se materializam no intercâmbio com todas criaturas.
Como existem aquelas que se preocupam em adquirir fama sobre o cadáver das pessoas notáveis, de alguma forma, outras há, também enfermas, que os elegem como seus líderes, embora o esdrúxulo comportamento que se permitem.
Se abraças o Espiritismo, que te ajuda a discernir e a crescer interiormente, dispões do Modelo da Humanidade, que é o Mestre por excelência, a Quem deves imitar, seguindo-O em todos os teus momentos.
Deixa-te penetrar pelos Seus ensinos e comportamento, buscando copiar-Lhe a conduta, porque Ele, sim, é o Guia que jamais se equivocou.
Quando na Cruz, no instrumento de flagício, ao invés da fuga espetacular ao testemunho, com os braços abertos, afirmou que assim permaneceria a fim de atrair todos ao Seu magnânimo coração.
A Sua vida, que foi uma sinfonia de ações incomuns e libertadoras, continua vibrando na pauta da Natureza e dos séculos, a fim de que todos a ouçam e se deliciem com os seus acordes incomparáveis.
Os cadáveres que anteriormente hospedaram Espíritos nobres ou não, que se notabilizaram no mundo, igualmente decompõem-se como todos os demais, transformando-se em cinza e pó.
Deixa-os no solo de onde se originam e voa com a Essência livre, nimbada de claridades divinas, quando bons e missionários do amor, da caridade, da paz...
A fama sobre cadáveres alcança também aqueles que foram Espíritos ignóbeis, perversos, sanguinários.
A sua é a fama da loucura, das enfermidades que lhes consumiram os corpos.
...
Francisco de Assis, imitando Jesus, despiu-se de tudo para consegui-lo, e não se considerava digno sequer de O amar.
Teresa d’Ávila, para segui-lO, sacrificou-se até a doação total.
... E todos aqueles que Lhe têm buscado a companhia morrem no corpo, a fim de que possam viver com Ele.
A fama, portanto, sobre cadáveres de pessoas notáveis, transforma-se em transtorno de comportamento a caminho da loucura...

Joanna de Ângelis
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na reunião mediúnica da noite de 28 de julho de 2003, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)

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