quarta-feira, 27 de março de 2013

Reconciliação e Prece

Sérgio Ribeiro
A vida moderna, cheia de sons e imagens, não favorece o recolhimento necessário à prece. É certo que podemos orar em quaisquer circunstâncias, sobretudo nas situações difíceis que vivenciamos ou apenas observamos – um acidente, por exemplo –, o que certamente facilitará a ajuda material e espiritual (esta sempre presente) em tais ocasiões.
A elevação do pensamento ao Alto em horas determinadas, quando do despertar, pela manhã, antecedendo o repouso noturno, ou antes de qualquer tarefa ou decisão mais grave, constitui abençoada rotina que nos harmoniza e fortalece para o bem.
O ressentimento, ou seja, a mágoa por uma ofensa ou mal recebidos de outrem, normalmente acompanhada de animosidade contra uma ou mais pessoas, constitui atitude prejudicial, que devemos evitar ou suprimir de nosso íntimo a benefício de nós mesmos, de vez que ela nos expõe à sintonia com as correntes negativas do desânimo, da agressividade e até da descrença, tão presentes em nossa psicosfera de mundo de expiação e provas.
Jesus, ao falar sobre a prece, foi categórico quanto à necessidade do perdão e da busca de reconciliação, utilizando-se, para facilidade dos ouvintes, dos hábitos da época (altar, oferendas): “Portanto, se estais para apresentar a vossa oferenda ao altar, e então vos lembrardes de que vosso irmão tem qualquer coisa contra vós, deixai a vossa oferta aos pés do altar, e ide primeiro reconciliar-vos com o vosso irmão, depois voltai para fazer a vossa oferta.” (Mateus, 5: 23 e 24). Fica evidente que a reconciliação com aqueles contra os quais temos animosidade é prioritária para os nossos interesses espirituais.
O Espiritismo, como faz com inúmeras outras passagens do Evangelho, amplia o nosso entendimento acerca dessa questão, permitindo-nos observar, além de seu lado psicológico (irritação, abatimento), sua dimensão espiritual representada pela sintonia, acima referida, com correntes mentais de teor negativo e simultânea dificuldade, que então se estabelece, para a influenciação positiva de nossos benfeitores espirituais que, embora desejosos de nos auxiliar, sugerindo-nos pensamentos de paz, bom-ânimo e alegria, respeitam invariavelmente a nossa liberdade de escolha quanto ao que manter em nosso mundo íntimo.
É certo que o ressentimento, com seu cortejo de impressões negativas, nos desequilibra e perturba, acrescentando sobrecarga inútil à nossa marcha. Sabemos, contudo – e a Doutrina Espírita nos mostra isto com clareza –, que buscando recompor-nos sob o amparo da razão, será sempre possível alijá-lo, afastando-o, de início, mediante a preocupação com o trabalho e outros compromissos de nosso dia-a-dia.
Depois, buscando a efetiva reconciliação, para o que será muito útil o emprego da oração em favor de nossos adversários ou desafetos, o que, com o tempo, nos ajudará a percebê-los como irmãos nossos, que verdadeiramente são, mas que não pensam como nós e estagiam em patamar diferente de entendimento, merecedores, sempre e sem que isso implique em abrirmos mão do que nos parece justo e correto, de nosso respeito e ajuda fraternal.
“O Evangelho segundo o Espiritismo” (capítulo 10, itens 7 e 8).

Nenhum comentário:

Postar um comentário