Acautela-te em pedir o favor do bem, porque muitas vezes a concessão que se nos afigura bem nosso pode ser efetivamente o mal que arruína os outros.
Muitos solicitam excessiva fartura em casa, esquecendo que o bem aparente da mesa lauta é o mal da penúria entre os próprios vizinhos.
Criaturas numerosas reclamam a bolsa farta, com absoluta despreocupação das necessidades alheias, olvidando que os bens acumulados em seu nome produzem males sem conta na economia daqueles que lhes respiram a experiência.
Lembra-te de que há bens fugazes que geram males de longo curso, tanto quanto existem males passageiros que asseguram bens sagrados e duradouros.
A alegria ruidosa e insensata é um bem que, não raro, determina desastres de conseqüências imprevisíveis, enquanto a dor paciente e humilde gera bênçãos de sublimada expressão.
Muitos ferem os outros, com a desculpa de preservar o bem próprio, criando largo cortejo de males em derredor de si mesmos, quando apenas os que sabem receber no âmago do peito os golpes do mal é que penetram, tranqüilos, na seara dos bens que a vida entesoura a benefício dos que sabem vencer, vencendo, antes de tudo, a si próprios.
Não te enganes, desta forma, no câmbio ilusório da fortuna e da carência, do prazer e da lágrima, da consideração e do menosprezo, ao jogo das aparências terrestres.
Recorda que a abastança de hoje pode ser a penúria de amanhã e que o domínio de agora pode ser derrocada depois.
Sobretudo, não troques o mal da provação transitória pelo bem da fuga desassisada, com plena deserção do campo de luta, em que a Lei te situa os passos, porque somente ao preço de tolerância e abnegação, nos males da sombra presente, é que conseguirás, com justiça, entrar na posse dos bens que te esperam ao sol do grande futuro.
DO LIVRO: Semeador em Tempos Novos
Emmanuel-Chico Xavier
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