segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Respondendo a 20 quesitos da refutação à Reencarnação

As questões são do site católico com raízes da fundamentalista e sectária TFP (Tradição, Família e Propriedade).

01 – Se a alma humana se reencarna para pagar os pecados cometidos numa vida anterior, deve-se considerar a vida como uma punição…
O pressuposto está errado. Um espírito (prefiro este termo à alma para evitar ambiguidades) não reencarna para pagar pecados cometidos. Mas para repassar, reequilibrar-se, reajustar- se, aprender e evoluir. A analogia com uma escola é grosseira, mas não é imprópria. Alguns consideram repetir um ano escolar como punição, outros como um refazer direito; alguns consideram que pintar o que se pichou é uma punição, outros como uma lição. É uma questão de ponto de vista até.

02 – Se a alma se reencarna para pagar os pecados de uma vida anterior, dever-se-ia perguntar quando se iniciou esta série de reencarnações…
Parte do mesmo pressuposto equivocado anterior, pois que reaprender só parece punição para os que resistem e, como diz Sêneca, sofre mais quem vê sofrimento em qualquer dificuldade. E o começo, só podemos intuir, é o da simplicidade da criação. Aprender demanda esforço, disciplina, suor e até lágrimas. Há quem veja isso como sofrimento, outros como desafios. Quando é uma resposta insabida e até imprópria. Tempo, quando, onde são termos desta dimensão euclidiana. Deus não tem limitações de régua e compasso. Nem os espíritos superiores expressaram qualquer achismo sobre isso. É uma especulação inócua, infértil.

03 – Se a reencarnação fosse verdadeira, com o passar dos séculos haveria necessariamente uma diminuição dos seres humanos…
Uma interpretação de quem não leu Kardec ou não as entende (ou não quer entender) Ver Gen XI, 9. Isso é imaginar que a Terra é o centro do Universo e que só há espíritos aqui. Nem a Bíblia endossa isso e Jesus foi explícito: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”. Uns espíritos vêm de outros orbes, semelhantes ou inferiores e até superiores, em missão, por exemplo.

04 – Mas então, esse Deus criaria sempre novos espíritos em pecado?
Em pecado, não. Simples e sem conhecimento, ignorantes de si, iniciantes. Isso não é pecado. Esse termo, pecado, é característico dos dogmas, dos tempos e até da cultura. Novamente a falta do conhecimento espírita fica evidente.

05 – Se a reencarnação dos espíritos é um castigo para eles, o ter corpo seria um mal para o espírito humano…
Dar uma nova oportunidade é castigo? Numa analogia grosseira, quantas pessoas que, perdendo um emprego por desídia, não se sujeita a uma condição inferior e dá graças a Deus pela nova oportunidade? Muitos indivíduos ao sair de uma situação dolorosa (viciados recuperados é um exemplo) reconhecem isso e voltam aos mesmos lugares para ajudar outros a sair do abismo em que ele mesmo esteve metido. Isso é até uma escolha, um desafio, uma prova e um ato de caridade em que evoluem, para melhor, todos os participantes.

06 – Se a reencarnação fosse verdadeira, o nascer seria um mal, pois significaria cair num estado de punição, e todo nascimento deveria causar-nos tristeza.
Esta colocação vem das consequências do caminhar errado pelos conceitos anteriores. Renascer é recomeçar. Há dificuldades, muitos hesitam, alguns até desistem, mas é uma oportunidade. Tristeza é não ter oportunidades nunca mais de refazer, reaprumar-se. Tristeza é eliminar a palavra misericórdia e perdão dos atributos de Deus.

07 – Se a reencarnação fosse verdadeira, todo nascimento seria causa de tristeza. Mas, se tal fosse certo, o casamento – causador de novos nascimentos e reencarnações – seria mau…
É a mesma colocação anterior. E que tal saber que o casamento propicia a outros candidatos a reencarnação a também ter oportunidades? E os pais seriam, agora, coadjuvantes do mesmo processo, já que, normalmente estão conectados, envolvidos atavicamente.

08 – As pessoas nasceriam de determinado casal somente em função de seus pecados em vida anterior. Tivessem sido outros os seus pecados, outros teriam sido seus pais. Portanto, a relação de um filho com seus pais seria apenas uma casualidade, e não teria importância maior. No fundo, os filhos nada teria a ver com seus pais, o que é um absurdo.
Será que é absurdo os termos de João 3:6-8 “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” e “O vento (ruah, o espírito) assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem”. Os filhos reencarnados retornam em função não de “pecados” mas dos compromissos. Não há acaso. Há objetivos. Os laços são afetivos, espirituais, não puramente genéticos. Isso é carne, como diz João.

09 – A reencarnação causa uma destruição da caridade. Se uma pessoa nasce em certa situação de necessidade, doente, ou em situação social inferior ou nociva – como escrava, por exemplo, ou pária – nada se deveria fazer para ajudá-la, porque propiciar-lhe qualquer auxílio seria, de fato, burlar a justiça divina.
É possível um pensamento tão tacanho? Dessa forma deveríamos deixar sangrando na pista alguém que em alta velocidade capotou o veículo por imprudência. Deveríamos deixar morrer todos aqueles que trocam tiros num entrevero policial, já que eles provocaram isso. Mais uma vez o detrator do espiritismo não leu o que critica. O espiritismo ensina que muitos dos que estão em uma necessidade, num sofrimento surgem em nosso caminho exatamente pelo nosso comprometimento com eles. E poderemos encontrá-los mais à frente. Não é nosso papel ser juízes dos erros alheios se ainda não tiramos as traves de nossos olhos.

10 – A reencarnação causaria uma tendência à imoralidade e não um incentivo à virtude. Com efeito, se sabemos que temos só uma vida e que, ao fim dela, seremos julgados por Deus, procuramos converter-nos antes da morte…
Quem diz isso é a religião do medo e do terror. Está tão superada que só os simplórios ainda a aceitam. Usando a mesma analogia do aluno que se deixa ficar em recuperação constante. Há alguém feliz entre eles? Não é um constrangimento sempre entre os amigos e familiares? Não fica ele atrasado? Não perde oportunidades? Não se entristece quando vê os seus amigos formados e noutros níveis? Quando a consciência, o equilíbrio e a maturidade chegam, a imoralidade para quem a praticou é algo tão desagradável que, vendo uma oportunidade para sair, faria tudo por isso, não deixaria para depois. É tudo uma questão de estágio evolutivo de pensar. Perguntemos a uma prostituta se ela quer continuar na vida que leva, para sempre? A um menino nas umbrais da Febem se não gostaria de ter uma oportunidade séria, se verdade?

11 – Ademais, por que esforçar-se, se a recuperação é praticamente fatal, ao final de um processo de reencarnações infindas?
Pelo mesmo motivo já antes dito. Cada qual quer se formar antes, passar nos exames, por isso se esforçam.

12 – Se assim fosse, então ninguém seria condenado a um inferno eterno…
Inferno eterno não condiz com Deus infinitamente bom e misericordioso. E não condiz com os evangelhos quando lemos que “O Pai não quer que NENHUMA das ovelhas se perca” Mt 18:12-14. Como é que Deus pode QUERER algo e isso se dar diferente do que ele QUIS? E ainda “Não sairás dali (a prisão) ATÉ pagares o último ceitil.” Mt 5:25-26. Nesta última máxima, a preposição “ATÉ” intui que depois de pagar, sai da prisão.
Fogo eterno, maldições é do vocabulário humano, não do Deus Cósmico. Além disso, a noção de eternidade tem tudo a ver com a auto-consciência e com a dor e o sofrimento. Um segundo na dor, no sofrimento, na angústia é um tempo imenso, ao contrário do riso que passa rápido. Nossas medidas de tempo já foram relativisadas e comprovadas até pela matemática e física, não nos cansemos em redefini-las para nossa conveniência.

13 – Se a reencarnação fosse verdadeira, o homem seria salvador de si mesmo.
A questão é que confundem salvação como um prêmio, quando, salvação é um processo. Para o espiritismo não há salvação grátis, de presente. Entende e comprova que é verdadeira a frase evangélica: “A cada um segundo suas obras”. Uma expressão que se pode adequar à de salvação é a de não se precisar reencarnar compulsoriamente, o que não exclui as missões de auxílio. Assemelha-se ao que se dá com aquele que se forma e só volta à escola na condição de mestre, orientador, palestrador.

14 – Em consequência, a Missa e todos os Sacramentos não teriam valor nenhum e seriam inúteis ou dispensáveis. O que é outro absurdo herético.
Não desejamos confrontar os católicos em sua fé, quando sincera, mas não devemos tomar os símbolos como a essência em si. Quando Jesus exemplificou o “Este é o meu corpo, tomai e comei” era um simbolismo. A absorção do seu corpo por exemplos e atitudes. Não é no tomar a hóstia que O absorvemos.
Na medida em que entendermos o que está dito: “Deus deve ser adorado em espírito”, quando Jesus estiver representado por nossas atitudes, fraternidade, caridade e amor é que estamos em comunhão. O resto será simbolismo dispensável. Como diz Paulo: “Quando era criança, pensava como criança.”

15 – A doutrina da reencarnação conduz necessariamente à idéia gnóstica de que o homem é o redentor de si mesmo.
O homem é participante do seu destino. Não foi ele, o homem, que criou-se a si mesmo. É uma emanação de Deus. Tem parte com Deus. Aqui trata-se da relatividade dos entes. O homem sempre será homem e Deus, Deus. Como as dobras de um manto, como os nós e os pontos do tecido de Deus.
Quem se ofende é porque é vulnerável, tem orgulho a ser ferido. Não condiz com Deus. Se Deus se ofende é que é um Deus artificial. Os homens inventam vários conforme as conveniências. Há os que se vingam, se arrependem, misturam ódio com perdão. Um caos.

16 – Se o homem fosse divino por sua natureza, como se explicaria ser ele capaz de pecado?
Não foi o espiritismo quem inventou que um anjo preferido de Deus cometeu um pecado. Se Deus criou o homem é que sua origem é divina. E, pecado é uma elocubração dogmática, se não cultural. O mal decorre exatamente das interpretações que se lhe dão conforme os tempos e as atitudes. Não está na origem do espírito criado. É decorrência do seu desenvolvimento e das atitudes.

17 – É essa tendência dualista e gnóstica que leva os espíritas, defensores da reencarnação, a considerarem que o mal é algo substancial e metafísico, e não apenas moral. O que, de novo, é tese da Gnose.
O mal é o mal e o espírito, mesmo ignorante, sabe o que dói, machuca e faz sofrer. Quando toma consciência de si, da sua humanidade, quando enxerga seu irmão, sabe distinguir isso. Quando o pratica, logo entende que não é bom. Não há metafísica alguma nisso. Pura fisiologia e metabolismo intelectual.

18 – Se, reencarnando-se infinitamente, o homem tende à perfeição, não se compreende como, ao final desse processo, ele não se torne perfeito de modo absoluto, isto é, ele se torne Deus, já que ele tem em sua própria natureza essa capacidade de aperfeiçoamento infindo.
A perfeição ensinada pelo espiritismo é a da perfeição relativa. Assemelha-se a dividir um segmento de reta cada vez em sua metade. Chega à ponta? Mesmo que falte um átomo, chegará só a metade; se chegar ao núcleo, terá as partículas e mesmo lá terá que dividi-las pelos campos, pelas vibrações. Sempre faltará a metade. É bem material, mas… serve essa noção de infinito?

19 – A doutrina da reencarnação, admitindo várias mortes sucessivas para o homem, contraria diretamente o que Deus ensinou na Sagrada Escritura “O homem só morre uma vez” (Heb. IX, 27).
Essa citação está fora do contexto. Paulo disse isso quando explicava a busca pela espiritualidade, citando inclusive que os conhecimentos dos que ensinavam as doutrinas transitavam entre os rudimentos antigos e os rudimentos de Cristo. Entendia a dificuldade que tinham de compreender do que se tratava a ressurreição (“ressuscitam corpos espirituais” precisou enfatizar isso). É verdade, o homem-corpo só morre uma vez. Mas para refutar a reencarnação precisaria ter dito: “O homem só vive uma vez”, ou “O homem só nasce uma vez.”
Porém, aí contrariaria o Mestre quando disse: “Vos é necessário nascer de novo.” Ficamos com Jesus.

20 – Finalmente, a doutrina da reencarnação vai frontalmente contra o ensinamento de Cristo no Evangelho. Com efeito, ao ensinar a parábola do rico e do pobre Lázaro, Cristo Nosso Senhor disse que, quando ambos morreram, foram imediatamente julgados por Deus, sendo o mau rico mandado para o castigo eterno, e Lázaro mandado para o seio de Abraão, isto é, para o céu. (Cfr. Lucas XVI, 19-31)
Ela não diz que os “mortos” não podem consolar e orientar. Diz que é inútil àqueles que tendo conhecimento do bem, da moral e das leis às mãos, as ignoram.
Em pensando com radicalidade e, para sermos exagerados, Deus também poderia usar do mesmo argumento: “Para quê vou enviar meu filho para ensinar e ser crucificado se eles já têm as Leis, têm Moisés e os profetas que já enviei?” Ela é um exemplo de como criamos abismos pela negligência e maus procedimentos e, depois, queremos fórmulas fáceis de resolver.
O simples fato de tocar na comunicação entre os do lado de lá e nós outros, mostra que essa idéia era corrente e que a comunicação era possível. Ao contrário do que pensam os detratores, ela só reforça a realidade do intercâmbio espiritual e nem toca na reencarnação. Esta é só uma decorrência dessa realidade e do equilíbrio dos eventos humanos.

Para finalizar, muitos se apegam a que a reencarnação anula o sacrifício de Cristo na cruz.
O sacrifício de Jesus é visto pelo espiritismo como a doação máxima, o exemplo maior de entrega em favor da conscientização do próximo. Quando esse exemplo nos toca, nos transforma, nos faz melhores, fez efeito, não se tornou nulo; Quando, porém, é motivo de segregação, sectarismo, aprisionamento da verdade, é algema; Quando é apenas pintado em quadros, iluminado por velas ou reverenciado em cânticos, é só um retrato triste da insensibilidade e da incompreensão humanas.
Espíritos não tem registro em carteira nos Centros Espíritas; a mediunidade é tão expressiva no catolicismo que há mais exemplos lá do que no espiritismo; a reencarnação não é propriedade do espiritismo. As evidências processadas e pesquisadas principalmente por céticos e não religiosos comprovam-na como uma realidade em todos os segmentos e culturas, religiosos ou não.
A sua compreensão e aceitação poderia conduzir a todos a um melhor entendimento da vida e dos porquês dos sofrimentos e tormentos humanos, conduzindo-nos a uma fraternidade responsável mercê de uma visão mais ampla do ser humano.

Compreendendo a reencarnação, Deus tira as barbas brancas, desce do trono e nos abre os braços na imensidão de sua luz.

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