Quando por aqui cheguei, não tinha ideia da existência de vida. Vida natural, animal, vegetal, humana. Nem na minha imaginação, podia crer na existência do sol ou da lua.
Após muitos anos de acordado, na nova vida, ainda surpreendia-me com a beleza e a intensidade de tudo neste lugar. A vida se tornou ainda mais bela e feliz!
Era tudo igual, porém, era diferente! Possuía mais cores, mais cheiros, mais sabores. Algo indescritível acontece por aqui. Acredito que seja por causa da luz!
Há mais luz em tudo. Na natureza, nas pessoas, nos sentimentos, nos pensamentos, nas relações, nas atitudes. Luz! Muita luz! De onde ela vem? Perguntava-me.
Certa manhã, quando estava a devagar em meus pensamentos. Vislumbrei algo extraordinário. Sobre as fontes inúmeras de água surgiam luzes de múltiplas cores. Pensei: A força da água sob o sol. Demorei contemplando e segui.
Ao avistar o campo verde que circunda a nossa vila, avistei luzes que dançavam no ar, sobre as árvores e flores. Pensei: o vento sob o sol. Fiquei a contemplar. E depois segui.
Logo encontrei animais andando. Correndo. Voando. E sobre eles, novamente, luzes. Deve ser o mesmo princípio dos campos: vento sob o sol. Desta vez, sentei-me para contemplar.
Encostado em uma árvore, sentado sobre a grama, adormeci. Não antes de visualizar grupos a conversar, na mesma condição que a minha, aproveitando a delícia daquele lugar.
Sorriam, cantavam, trocavam afeto e experiências vividas. Às vezes se emocionavam e choravam, abraçando-se e voltando a sorrir. Ao mesmo tempo, crianças corriam e brincavam, em uma animação contagiante.
E sobre o grupo, a envolvê-los, estavam as luzes. Vento sob o sol? Estava neste dilema até adormecer. Não sei bem o que aconteceu. Nunca caio no sono assim, principalmente, quando estou em busca de respostas.
Fora algo surpreendente! O corpo começou a relaxar. A respiração a diminuir. Os olhos foram pesando, até que não consegui mais deixá-los abertos. Era impossível resistir.
Acordei minutos depois. Ou foram segundos? Estava diferente. Mais leve. Achei que poderia levitar. Pensei: até que foi um soninho bom! Levantei-me com desenvoltura e energia. Senti-me mais jovem. Deve ser o chamado sono reparador. Elucubrei.
Os grupos ainda estavam lá e resolvi me aproximar. A animação continuava. Desejei participar. Cheguei dando bom dia, perguntando se podia juntar-me a eles.
Não recebi resposta. Estranhei! Fiz nova tentativa e nada. Fiquei bravo! Nunca vira um grupo tão mal educado! E não era só isso. No novo ambiente em que vivia, a amorosidade era preconizada. Todos deveriam se tratar com respeito e afeto. O que estava a ocorrer?
Meu cuidador se aproximou de mim como sempre. Surgiu do nada. De repente, estava lá. Meu olhar questionador encontrou seu olhar compreensivo e elucidativo.
E, portando do seu característico sorriso, convidou-me a caminhar. Nada disse, durante o pequeno percurso. Impediu-me de falar a cada tentativa. Achei que ia explodir.
Em determinado ponto, paramos. Acreditei que chegara a hora das respostas, das perguntas, das reclamações. Não necessariamente nesta ordem. Então, pediu que eu fechasse os olhos e observasse minha respiração.
No início, não consegui fazer. Estava transbordando de raiva, angustia e ansiedade. Aos poucos, fui conseguindo realizar a tarefa proposta e fui relaxando. E cada vez mais, ia relaxando e realizando a tarefa.
Percebi novamente a leveza e o bem estar com que acordara. Abri levemente os olhos e voltei calmamente a enxergar. Estava em outro lugar. Não compreendi. Não andamos muito. Lembrava-me bem.
Ao meu lado, impondo as mãos sobre minha fronte, estava meu velho conhecido. Respirei aliviado, com sua presença. Pela primeira vez falou:
- Como se sente? Perguntou
- Leve. Foi o que consegui dizer.
- Muito bem! Agora vamos fazer o caminho contrário.
- Onde estamos? Estamos longe de onde partimos?
- Estamos no mesmo lugar. Demos apenas alguns passos.
- Como pode ser? Perguntei surpreso. Esta tudo tão diferente!
- Não foi o lugar que mudou. Foi você.
- Como assim?
- Venha! Vou mostra-lhe.
Quase cai para trás ao ver-me sentado sobre a grama, recostado à árvore. - Como pode ser? Questionei surpreso?
O velho amigo apoiou-me. Gentilmente me fez sentar e começamos uma riquíssima prosa. Acho que a maior lição que tive.
- Diante de seus questionamentos, o induzimos às respostas. Permitimos que vislumbrasse a luz, mas sua falta de fé, o fez ver pela metade e não compreender o que ocorria. Então, aproveitamos que sentou e o conduzimos ao sono.
- Desdobrado, o espírito fica livre das impressões ainda grosseira e se permite ir mais além. Porém, você mergulhou na rejeição, na raiva, no despontamento, quebrando a leveza e aprisionando o espírito as tensões emocionais e psicológicas, que o fazem prisioneiro e cego das coisas mais sutis.
- Diante deste caminho que tomou, vim ao seu encontro, antes que se desequilibrasse mais gravemente. Seu livre-arbítrio, ciente através de sua consciência, recorreu ao socorro e permitiu que aceitasse auxílio.
- Antes que faça perguntas. Olhe para tudo que antes olhou e observe com cuidado e confiança. É a fé que nos permite acreditar o que nos mostra os olhos, amplificado pelo coração.
- Ao se entregar a energias tão danosas, que partem de você para você, nocivas ao seu equilíbrio, a sua saúde física e mental, nocivas ao seu desenvolvimento, impede-se de perceber e captar o que está à frente de seus sentidos.
Segui a orientação. Primeiro fechei os olhos, observei minha respiração e acalmando-me, ampliei meus sentidos. Conectado a força da fé e do amor. Forças que aprendi a aceitar a existência e a importância. A respeitar e acessar, ainda, quando necessário, pois, objetivava mantê-las sempre comigo, a qualquer hora ou situação.
Ao abrir os olhos, vi o que antes nunca havia visto. As luzes, que antes acreditava provir do vento sob a ação do sol, partiam dos homens. De seus corações, de seus sorrisos, de suas lágrimas de emoção. Do encontro que acontecia entre eles. Através da partilha, do abraço, do acolhimento.
Surgiam da alegria das crianças e com elas brincavam pinoteando e dançando, apresentando um lindo espetáculo. Partiam dos animais, através do bater de suas asas, do ritmo da batida de seus corações. Das águas, do sol, dos campos. De todos os seres vivos partiam luzes.
Estupefato, recorri ao meu cuidador, de onde partiam intensos raios de luz. Ele dedicou-me o sorriso acolhedor e iniciou a fala, que não mais fazia parte de mim. Estava sem voz, diante de tão bela e grande descoberta.
- A luz divina banha cada ser de sua criação e se faz presente durante toda a vida, encarnada ou não. É um presente do criador. Sua presença em cada um de Seus filhos.
- O que nos dá a vida. O que nos guia ao Seu encontro. Ao encontro da grande família, ao qual fazemos parte. O que nos faz caminhar, amar, crescer, evoluir.
- A luz divina já nasce conosco, mas cabe a nós, a sua manutenção. É inesgotável, porém sua intensidade e qualidade dependem da maneira com a qual a cuidamos. De como nós a alimentamos, através de nossos pensamentos, sentimentos e atitudes, perante nós mesmos e o outro.
- Elas estão sob nossa responsabilidade. Um presente precioso, que muitas vezes é tratado com descuido, sem a valoração que merece. E não diga que o homem não sabe, não a vê ou conhece.
- No mais intimo de cada ser, está a luz divina. Se não for possível vê-la, é possível senti-la. Se não for possível classificá-la ou nomeá-la, é possível experimentá-la, em cada atitude condizente com as Leis Divinas.
- Sem falar nos lembretes constantes do Pai. Através do Evangelho do Cristo. Das mensagens que os chegam diretamente, escritas ou simbólicas. E dos muitos exemplos enviados constantemente.
- Ficai atentos. Recolhei-vos a fé e a caridade. Usai-as para vós aproximar de Deus, do amor, dos irmão, dos ensinamentos do Cristo. Que o Pai vos abençoe.
Caros amigos, deixo-os envolvidos, pela luz das palavras, do cuidador amigo de todos nós.
Gregório,
07.04.13
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