quarta-feira, 24 de abril de 2013

Vivências mediúnicas

Mais uma noite de trabalho e de aprendizado descortinava-se numa quinta-feira. A disposição ao serviço estava estampada no rosto de todos os colaboradores encarnados.Neste dia pude vislumbrar um pouco mais da diversidade e complexidade dos serviços que os “Amigos da Luz” nos proporcionam, parte esta que deixo para a próxima semana. Mas hoje, conto esta história de libertação e, sobretudo, de amor, do amor que manteve uma chama de esperança neste homem feito prisioneiro.
Estava com uma médium a vibrar e aproximou-se um Espírito muito enfermo, assumindo uma postura corporal de temor ao perceber minha presença ao seu lado.
Com uma voz fraca, a princípio, só gemia e tentava esgueirar-se.
Pouco depois do cumprimento inicial e esclarecê-lo que não havia nada a temer acerca da nossa presença, contou que estava “preso e de castigo a tanto tempo que não lembrava mais...”
Visualizei na minha tela mental um escravo acorrentado numa senzala, com muito pouca luz. Estava num canto, sentado e cabisbaixo.
Disse que seu corpo todo doía, e me mostrava as costas em chagas. Aceitou uma água que lhe ofertei e, ao ser avisado que iria livrá-lo das correntes, ele falou: “Não adianta nada, Dona. Se ele perceber alguma coisa vai mandar me açoitar novamente e aí eu vou morrer e nunca mais vou ver Adelaide, a minha mulher. Ele é muito ruim e nos separou. Ela foi levada há mais tempo e não sei onde anda”.
Contou que tinha sua vida, sua casinha e que trabalhava. Um dia uns homens vieram e pegaram praticamente todos do seu vilarejo para escravizá-los, e o jovem casal de aparência saudável estava entre eles. Relatou que se lembrava da sua terra, mas não se importava em perder nada, nenhum bem, apenas queria estar perto da sua Adelaide.
Nessa hora chorou de saudades pela companheira amada, o que não dissipou seu medo de sair do local. Percebi que era esse amor que o mantinha com a sensação de estar “vivo”, para não se abater por completo. Esta era a pequena luz da esperança, do reencontro.
Disse: “A senhora não pode com ele, sozinha aqui. Se ele te pegar ele também vai te fazer uma maldade.”
Amparei-o e lhe disse que não estava sozinha, que estava com outros trabalhadores numa caravana desta Casa de Fraternidade.
Relutou bastante em sair, e só o fez porque lhe disse que haviam homens fortes encarregados da nossa proteção ali, que não precisava mais ter medo. Daí ele disse que viu “uns índios bem altos”, o que lhe deu uma certa segurança.
Perguntou se eu iria leva-lo a um quilombo, pois já tinha ouvido falar que existiam, e respondi que antes teria que ir a uma Casa de Saúde para tratar dos seus ferimentos, ao que aquiesceu.
Fomos nos deslocando até uma área que parecia um misto de canavial e matagal. Nesta hora o Amigo parou e ficou olhando para a senzala. Disse estar triste porque haviam outros lá e que se ele pudesse, se tivesse forças, também os tiraria de lá.
Prestei mais atenção ao ambiente. Estávamos num local de atmosfera densa e à noite, contudo havia mais claridade ao redor, mas a senzala parecia cor de chumbo.
Vi também, a cerca de uns cinquenta a setenta metros de distância, uma casa em ruínas.
Visualizei outros vultos sendo carregados, e logo em seguida sendo colocados em macas. Cobertos por finos lençóis brancos, as macas enfileiradas e carregadas com os braços dos Trabalhadores da Luz seguia sua trilha e o Amigo juntou-se ao grupo, agradecendo a acolhida.
Lembro-me da breve despedida, e dos seus olhos escuros, brilhantes e marejados, quando novamente perguntou sobre sua esposa, e da sua disposição em melhorar para procurar por ela logo em seguida, quiçá no quilombo teriam notícias dela.
Eu estava emocionada, mas sabia que o meu trabalho com este Espírito, por hora, estava encerrado, e que outros trabalhadores iriam ajudá-lo e esclarecê-lo aos poucos e na medida correta.

Na próxima semana continuamos com outros desdobramentos deste atendimento inicial neste local.

Muita Paz para todos nós.
Francesca Freitas

02-04-2013

Leia mais: http://www.cacef.info

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