terça-feira, 15 de outubro de 2013

A tocaía

Luís Borges, denodado tarefeiro da Causa Espírita, em São Paulo, atravessava calmamente a avenida São João, na capital bandeirante, quando foi alvejado por um tiro de revólver, estabelecendo-se o rebuliço. Populares e guardas. Assobios e exclamações. Pobre moço desconhecido e armado foi preso e trazido à presença da vítima. Borges mostrava-se assustado, mas sereno. A bala atingira simplesmente o livro que sobraçava de mão encostada ao peito. E esse livro era o Evangelho Segundo o Espiritismo, com que se dirigia a certa reunião em favor de um enfermo.
- Peço desculpas. O tiro foi casual - rogou o jovem, pálido.
Os policiais, contudo, retinham-no, furiosos. Luís Borges, no entanto, buscando a paz, abriu o volume chamuscado e falou:
- Vejamos a mensagem do Evangelho.
E ante o assombro geral, leu, na página aberta, as belas referências do capítulo X, “Bem-aventurados os que são misericordiosos”:
“Então, aproximando-se dele, disse-lhe Pedro: ‘Senhor, quantas vezes perdoarei a meu irmão quando houver pecado contra mim? Até sete vezes?’ Respondeu-lhe Jesus: ‘Não vos digo que perdoareis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes’.”
Quando Borges terminou a ligeira leitura, o moço preso ajoelhou-se na rua e começou a soluçar. Só então explicou que ali se achava de tocaia para assassinar o próprio irmão que o havia prejudicado num processo de herança e prometeu desistir de semelhante propósito para sempre. 

Hilário Silva

O Espírito da Verdade, Chico Xavier e Waldo Vieira.
Fonte: Grupo Além da vida

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